A política é a tensão entre o ideal e o real. Ou seja, entre aquilo que se acredita ser o melhor para a sociedade e o que é possível fazer.

O ideal deve ser o fim último de qualquer acção política. Um partido que não acredita em nada, que não defende nada, é um partido inútil. Um indivíduo que está na política com outro fim que não defender aquilo que considera o melhor para a sociedade, então não faz realmente política, não serve a coisa pública, pelo contrário, serve-se a si mesmo.

Ao mesmo tempo, um partido ou um indivíduo que procura o ideal sem ter em conta as limitações que a própria realidade lhe impõe, por muito nobre que seja a sua acção, acaba por ser inconsequente. Para se ser útil na política não basta proclamar ou defender ideais, é preciso arranjar formas de os aplicar.

Existe como é evidente riscos nesta tensão. Por um lado, é possível ficar de tal maneira preso ao ideal que acabamos por ficar reféns da ideologia. Aquilo que era um meio para um fim (um ideal para o bem comum) torna-se um fim em si mesmo. Até que já não interessa o bem comum, mas sim a nossa ideia. Ficaríamos assim incapazes de qualquer diálogo ou cedência, armados na nossa trincheira em guerra constante com o mundo. Em Portugal existe um claro exemplo desta cegueira ideológica: o Partido Comunista, que para “defender” os trabalhadores de uma empresa é capaz de a arrasar até os trabalhadores estarem todos no desemprego.

Por outro lado é possível ser de tal maneira realista que se perde o rumo. Mais uma vez aquilo que era um meio (o poder) para atingir um fim (o bem comum) torna-se um fim em si mesmo. É possível que, com a desculpa que mais vale nós que eles, que em chegando ao poder faremos melhor do que quem lá está, acabemos a abandonar qualquer resquício de ideal. O Partido Socialista tornou-se disso o paradigma mais evidente no nosso país.

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Nas últimas semanas, com as eleições no PSD e a aproximação do congresso nacional, temos assistido ao debate entre figuras do CDS sobre qual deve ser a posição do partido: mais idealista ou mais realista.

Parece-me que o que vale a pena debater não éa necessidade de uma definição ideológica do partido ou se, pelo contrário, é preciso fazer propostas concretas para a vida das pessoas. Necessário é debater como aplicar os ideais do CDS (personalismo, dignidade humana, liberdade individual, subsidiariedade) a propostas concretas e apelativas ao eleitorado. É um erro sacrificar o ideal ao pragmatismo assim como é um erro sacrificar o realismo à ideologia. É necessária a sabedoria de conjugar o idealismo com o realismo. Retomar sempre os ideais da democracia-cristã e torna-los apelativos aos nossos tempos.

Penso ser este o grande desafio do CDS. Não basta bons resultados em eleições: os resultados eleitorais são frutos da conjuntura. Veja-se o caso de Lisboa, onde se criou a tempestade perfeita: uma candidata forte como Assunção Cristas, o belíssimo trabalho desenvolvido na Câmara Municipal por João Gonçalves Pereira, uma grande campanha, bem preparada e estruturada, uma ideia clara para a cidade, uma fraca prestação do PSD. Mas o CDS não pode viver da conjuntura, precisa de criar militância, de se implementar por todo o país.

Penso ser que o caminho a seguir pelo CDS para crescer deve ser clareza nos princípios, inovação na comunicação, pragmatismo nas propostas. Por isso que convivam no partido os que preferem dar enfoque aos princípios da democracia cristã e os que procuram mais pragmatismo não me parece um problema. Muito pelo contrário, demonstra a riqueza e a variedade do CDS e a capacidade de constantemente procurar as melhores soluções para Portugal. Como dizia Adelino Amaro da Costa, unidade sim, uniformidade, não.

O CDS é hoje a única real oposição ao Partido Socialista e à restante gerigonça. Portugal precisa por isso de um CDS cada vez mais forte. O debate entre o idealismo e o pragmatismo, que parece vir a marcar o XXVIIº Congresso, é por isso muitíssimo importante para o partido e para o país. Porque é desta tensão, entre o ideal e o real, que nasce a verdadeira política.

José Maria Duque é jurista e militante do CDS/PP