O Chega é um fenómeno recente, mas convenceu mais de um milhão de portugueses a votar nele. Haverá certamente muitas explicações para a sua tão rápida progressão, entre elas, seguramente, a de parte da  comunicação social lhe dar eco. Ventura percebeu cedo que o pequeno escândalo, a frase assassina ou o evento polémico dá notícia, e os jornalistas foram atrás.

Mas se a imprensa tem uma quota de responsabilidade neste fenómeno, o PS tem também o seu quinhão, e não é pouco.  O Chega e o PS precisaram um do outro para rebentar o centro-direita, e usaram-se mutuamente nessa estratégia. Embora publicamente inimigos, estiveram alinhados nesse objetivo.

O Chega, recorde-se, surge com a governação socialista, cresce com a governação socialista, é mesmo usado pelos estrategos socialistas como arma para conquistar uma maioria absoluta, desbaratada depois em casos e casinhos, culminando com o do chefe de gabinete do primeiro-ministro a esconder milhares de euros no meio de livros…

Este fenómeno não é um exclusivo de Portugal. Na Finlândia estão no governo de coligação; na Suécia apoiam o executivo no parlamento; em Itália chefiam o governo; nos Países Baixos têm o maior grupo parlamentar. Na Alemanha, as sondagens dão-lhes votações expressivas nas eleições para o Parlamento Europeu. Idem em França, onde estão até largamente à frente das intenções de voto.

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Mas a extrema-direita não é monolítica. Há, pelo menos, uma extrema-direita liberal e uma extrema-direita social. O Chega passou, aliás, da primeira para a segunda quando decidiu defender a saúde e o ensino público quando antes pretendia a sua privatização total. Esta é, aliás, uma característica de muitas dessas formações: defendem uma coisa e o seu contrário conforme as conveniências do momento.

Seja lá como for, não se pode ignorar este fenómeno, muito menos o voto de todos aqueles e aquelas que nele se revêem, sob pena de se estar a aviltar a própria democracia.

Será necessário, por isso, encontrar a fórmula certa para lidar com ele, o que passa por respeitar o voto de quem nele votou, sem o ostracizar. Pelo contrário. Procurando antes entender onde o regime falhou e falha com essas pessoas.