Vira o ano, resoluções são feitas. Expectativas de mudança em vislumbre. Promessas silenciosas para seguir a rigor. Mas o plano do que se pensa e se anseia nem sempre é tão fácil de realizar. E se, por enquanto, há força de vontade, o presente contínuo que se vai desenvolvendo em direcção ao futuro, pode desvanecer os acordos de compromisso internos fulcrais.
Deixar de fumar, deitar cedo para cedo erguer, fazer ginástica, comer mais saudável, emagrecer, não chegar com atrasos, viver o dia-a-dia com menos stress, não sobrepor mil tarefas, largar relações tóxicas, não gritar, ser arrumado, passar mais tempo em família, ler mais, passear mais, gastar menos, poupar mais, aprender coisas novas, são algumas das resoluções mais ouvidas.
Primeiras semanas, e lá se cumprem algumas das ditas resoluções. Traçam-se planos eficazes para aquelas que obrigam a ter mais tenacidade e perseverança.
O problema é que ao fim de um período curto de tempo, mais rápido do que se esperava, inesperadamente lá se cai nas tentações e automatismos habituais.
Porque é tão difícil mudar de hábitos?
Primeiro, custa a percepção da necessidade de mudança de algo. Depois, ainda mais, a paciência e persistência do tempo que dura todo esse processo de transformação, renovação, reconstrução.
A necessidade de mudança acontece sobretudo devido à realização de que algum tipo de hábito, comportamento, pensamento, relação, tonalidade emocional, está a provocar mal estar. Somente, quando se integra verdadeiramente que se perpetua algo de destrutivo para o próprio, é que se desencadeia o processo verdadeiro de mudança. Avançando com a tomada de consciência de tal, passa-se a adoptar movimentos de libertação. Mas aqui, podem surgir em simultâneo, sentimentos de culpa, dúvida, medo de perder pela sensação subjacente de vazio.
A possibilidade de arrependimento de sair do registo do “é o que é”, pode enviesar a capacidade de olhar com clareza para o mal estar em que se está enredado. É precisa uma certa valentia para sair do território pantanoso. Se falta a coragem para contrariar a acomodação a uma situação prejudicial e bloqueadora de bem estar, os anos passam e inviabiliza-se um modo de viver mais saudável.
Se queremos adoptar um estilo de vida com mais saúde, que passe pela mudança da dieta e tempo para desporto, há que, por exemplo, largar a frase de queixume que não há tempo, nem dinheiro. Esse estado de encolher ombros do “é o que é”, pode ser alterado com simples mudanças de rotina. Superar a preguiça e ter disciplina em cumprir os objectivos que conluiem com o desenvolvimento do instinto psicológico de auto preservação.
Se queremos largar uma relação tóxica, idem. Ter noção de que para se auto-preservar, deve não ter medo de perder o que lhe faz mal. A seguir ao vazio surge o alívio.
As recaídas que podem ocorrer no processo de mudança, devem ser olhadas com certa complacência e tolerância. Não vale a pena emitir juízos auto-depreciativos perante a frustração. Um aparente andar para trás pode ser visto como um meio de aprendizagem e reconhecimento do que se deve ajustar. Há que dar-se tempo, de modo a conseguir obter mais conhecimento e menos angústia. Há-de conquistar o que é melhor para si. Há que compreender que não se muda de facto de um dia para o outro, nem de forma mágica. Mudar é gradual e dá trabalho.
Se o disco que se vai virando, não deixa de tocar o mesmo, e fica muito riscado, pela dificuldade em superar as dificuldades que travam o processo de mudança, mais vale procurar a ajuda de um terapeuta. Há momentos na vida que usufruir desse auxílio é crucial para alcançar o seu bem estar.
anaeduardoribeiro@sapo.pt