A confiança é uma matéria delicada e complexa, mas fascinante para quem, como eu, aprende e ensina soft skills a universitários semestre após semestre, ano após ano. Difícil de explicar e quase impossível de abarcar, dada a amplitude de fibras que toca e convoca em nós, a confiança é decisiva para tudo. Nomeadamente e no que toca às novas gerações, é decisiva para entrevistas de primeiros e segundos empregos, para namoros e casamentos, para candidaturas a bolsas ou estudos em países mais e menos remotos, para contratos de trabalho e compromissos entre pares, para liderar organizações e equipas, lidar com as hierarquias, financiar projectos, gerir eficácias, multiplicar talentos, mudar sistemas, criar e recriar mil vezes os pensamentos e as acções, fazer apresentações, angariar fundos, inaugurar movimentos cívicos e políticos, investir no voluntariado, sei lá, uma infinidade de coisas que só se conseguem na base da confiança, essa espécie de combustível que nos exige uma atenção permanente ao nível do nosso depósito.

A metáfora do combustível serve-nos para perceber que encher diariamente este depósito individual de confiança não é tarefa fácil, quando tudo à nossa volta nos faz descrer e desconfiar. É difícil sim, admito, mas não é impossível. Senão vejamos: como ninguém contrata ninguém que não inspire confiança, nem ninguém aposta em ninguém em quem não confie, a ‘cena’ da confiança tornou-se vital. Tão essencial, que passou a ser ensinada, treinada e aperfeiçoada em aulas, turmas e grupos nas melhores universidades e empresas de todo o mundo. A confiança é, aliás, a base das imensas matérias das chamadas soft skills, que hoje em dia são tão importantes como as chamadas hard skills.

Já não há quem não saiba que para ter sucesso e evoluir na vida pessoal e profissional não bastam as competências técnicas. Qualquer engenheiro, economista, advogado, arquitecto, professor ou doutor sabe que não lhe basta ser bom na sua área de especialidade. Também tem que ter competências em matéria de comunicação e relações interpessoais. E mais, tem que saber que estas mesmas relações se constroem e reforçam na base da confiança. Sem combustível, o carro não anda.

Posto isto, como se aprende e treina a confiança? Ou melhor, como se medem os níveis da confiança e onde se atesta o depósito? A confiança individual mede-se da seguinte forma: se as pessoas à minha volta (de cada um, leia-se, pois tudo isto se conjuga na primeira pessoa!) se sentem confiantes na minha presença; se eu gero e projecto confiança nos outros, e se até multiplico a confiança nos que trabalham comigo ou gravitam no meu perímetro e ninguém se protege ou defende de mim, então o nível da minha confiança está próximo do ideal. Adequa-se às circunstâncias, funções e pessoas, sem causar sobressaltos nem entropias. Torno-me confiante e confiável, logo mais funcional, mais eficaz e mais capaz de obter melhores resultados. Se, pelo contrário, a minha confiança faz com que os outros se protejam de mim, se afastem ou até possam ser agressivos comigo; se faz com que se sintam desvalorizados ou inferiorizados, então a minha confiança já é arrogância. Ou presunção de superioridade moral, intelectual, física ou outra. Não serve. Já quando a minha confiança está no limite mínimo, no último risco da reserva do depósito, e mesmo sem me dar conta eu retiro toda a confiança aos outros, deixando-os drenados e secos, então está mesmo na hora de parar e ir à bomba. Cada um saberá qual é a sua fonte de abastecimento, onde é que pode ir buscar a confiança que lhe falta. Só não podemos é esquecer-nos de o fazer pois os tempos que correm são difíceis, o mundo está feroz e competitivo, e nada se consegue sem confiança. Se nada do que fica dito resultar ou fizer sentido, então cabe-nos repôr o reservatório confiando absoluta e imperativamente na confiança dos que confiam em nós. Parece demasiado simples? Experimentem.

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