Se o título deste artigo é uma adaptação do ditado, também as medidas de combate à pandemia não passam de meras transliterações de normas internacionais. Sem adaptação ao contexto, sem respeito pelas necessidades, sem enquadramento cultural, enfim… Uma súmula de vácuo e ineficiência, própria de incapazes bafejados com a leviandade trazida pelo deslumbramento da ocupação de lugares de decisão. Os títulos não tratam. Os cargos, per se, não passam de garantias do que se pode fazer, não sendo, em circunstância alguma, atestados de erudição, produtividade ou conhecimento de causa.
O lockdown que o Primeiro-Ministro anunciou impossível impôs-se e bateu-nos com a porta. Cerra-nos em casa, de novo, com as grilhetas do medo ancoradas na ternura do paternal castigo para quem ousar desobedecer. Com candura, dizem-nos ser hora de recolher.
É hora de voltar a ser herói e salvar o que se puder, para que amanhã, haja menos a ter de renascer.
O lirismo das medidas que, avulso, se vão exsudando é quase romântico. Bem como o indulgente ar de políticos que parecem ter de lidar com as trapalhadas dos outros. Só que não. Não admito mais esta conformada tolerância à morte! Já passou o tempo da união, da correcção, da benevolência e da compreensão. Será hora de nos fecharmos, de novo, em casa. Mas não deixa de ser altura de assacar culpados por este genocídio etário por indolência.
Diariamente morrem mais de uma centena de pessoas infectadas com Covid. Segundo dados recentes, têm morrido mais de 500 pessoas diariamente em Portugal. O Primeiro-Ministro apontou baterias aos Portugueses e, com a condescendência que o caracteriza, passou um ralhete à nação. O Presidente da República, por sua vez, anuncia a recandidatura ao cargo porque Portugal tem “uma pandemia a enfrentar e uma crise a vencer”. Um mês e meio depois, visita lares enquanto aguarda um resultado a um teste Covid e sabe o veredicto através de uma jornalista que o aguardava à porta.
Não estamos confinados. Estamos a brincar aos confinamentos e a arrasar a economia, criando milhares de dependentes do Estado. É um PREC revisitado com outra intervenção externa à vista.
Houve tempo. Houve um verão calmo e uma primeira vaga branda. Houve oportunidade para injectar dinheiro na produção nacional de forma a garantir que o tecido empresarial conseguia reorganizar-se de modo a não só não ter de fechar, como ser uma mais valia no combate à pandemia e à grosseira necessidade de mercados externos para sobrevivência. A produção de equipamentos de protecção individual, ventiladores, álcool gel, desinfectantes, consumíveis hospitalares, têxteis para camas e pijamas dos doentes, etc.. Tivemos o melhor têxtil da Europa, somos uma referência mundial na venda de moldes, dispomos de conhecimento técnico e científico para manufacturação de químicos e temos até conhecimento das estações do ano, sabendo que depois do Verão vem o Outono, que por sua vez, traz o Inverno.
Não nos queiram enganar. Houve tempo. Houve oportunidade para contratar mais profissionais de saúde com contratos que garantissem a sua manutenção no SNS e para negociar calmamente com os operadores privados a assistência que viriam a dar, houve tempo para gerir as consultas e as cirurgias de forma a não ter de ocupar camas quando sabíamos que mais tarde íamos precisar delas.
Houve tempo para tudo, mas não se usou por preconceito ideológico e, sobretudo, pelo facto do combate à pandemia ter sido alicerçado na mentira repetida tantas vezes. A elasticidade do SNS.
O serviço pode ser elástico, mas os profissionais não se multiplicam. Criem-se hospitais de campanha em todas as bouças para a televisão serenar os Portugueses, mas, até para carregar no botão, é preciso saber em qual. A carência crónica de recursos humanos que se faz sentir – ainda mais – todos os anos em Janeiro, Fevereiro, Março, Novembro e Dezembro não foi acautelada.
Não temos uma crise, temos o que semeámos.
Não foi por falta de aviso. Escrevi um artigo publicado no Observador a 5 de Agosto, intitulado a Cigarra e a Formiga a alertar para tudo isto.
Julgo que agora está claro para todos que Marta Temido faltou à verdade. A Ministra da Saúde falou de uma elasticidade fantasiada que só existe na cabeça do Executivo.
A dura realidade é que enquanto o Governo se estica, o país mirra.