Já se apanhou a pensar em como alcançar o corpo de praia? Inscreveu-se no ginásio ou  iniciou uma dieta rígida para atingir esse objetivo? Submeteu-se a uma intervenção  estética? Neste artigo refletimos sobre essas questões, sobretudo se a procura  incessante por um corpo de verão é realmente saudável.

No mundo contemporâneo, a  cultura de massas tem desempenhado um papel considerável na disseminação de  padrões de beleza americanos à escala global, através de plataformas de streaming,  publicidade, programas televisivos e revistas, especialmente amplificados pelas redes  sociais digitais. Nessas últimas, influenciadores como apresentadores, cantores, atores,  modelos, atletas e especialistas em moda e desporto perpetuam ideais de beleza conforme o género, que incluem magreza, tónus muscular definido, pele lisa e  bronzeada, ausência de pelos corporais, cintura fina, quadris largos e seios firmes para  mulheres.

Esses padrões criam um ideal corporal difícil de alcançar para a maioria das  pessoas, especialmente quando as imagens são frequentemente retocadas  digitalmente, perpetuando a ideia de que apenas certos tipos de corpos são desejáveis.  Assim, a procura pelo corpo perfeito pode levar a estratégias controversas, como dietas  extremas que resultam em deficiências nutricionais, o uso de suplementos “milagrosos” (e.g., esteroides anabolizantes, creatina e pílulas de colagénio) que podem ter efeitos  colaterais, exercícios físicos excessivos que causam lesões e a realização de  procedimentos estéticos (e.g., lipoaspiração, mamoplastia de aumento, rinoplastia,  botox e abdominoplastia) que podem aumentar o risco de infeções.

Além disso, a  comparação constante com imagens retocadas digitalmente nas redes sociais pode  distorcer a perceção do próprio corpo, com sérios efeitos no desenvolvimento de  transtornos alimentares, como anorexia e bulimia. Nesse sentido, a anorexia é a doença  mental com a maior taxa de mortalidade em Portugal. Entre 5% a 10% dos pacientes  acabam por falecer, seja devido a complicações médicas severas resultantes da  subnutrição, seja por suicídio, reforçando a necessidade educativa sobre saúde mental  e intervenção precoce. Outros problemas incluem baixa autoestima, autoimagem  negativa, ansiedade e depressão.

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Por outro lado, os efeitos sociais dessa pressão são igualmente preocupantes. Indivíduos  que não se alinham com os padrões de beleza dominantes, frequentemente, enfrentam  discriminação em várias formas. Um estudo da Harvard School of Public Health revelou  que a discriminação baseada na aparência custa aos EUA cerca de 500 mil milhões de  dólares anualmente, incluindo impactos negativos em contratações/ promoções no  ambiente de trabalho e interações sociais/ profissionais. Casos reais ilustram esses  impactos. Veja-se o exemplo de Tess Holliday, uma modelo plus-size diagnosticada com  anorexia nervosa, uma revelação chocante para muitos, dada a perceção geral de que  este transtorno afeta apenas corpos magros. Tess Holliday admitiu que passou anos a  restringir severamente a sua alimentação, muitas vezes comendo apenas uma refeição  grande por dia. Refere que este comportamento foi desencadeado por pressões externas  e internas para conformar-se a certos padrões de beleza, mesmo dentro do movimento  de positividade corporal. Contudo, importa não confundir a promoção da aceitação  corporal com a glorificação da obesidade, que é um problema sério de saúde, associado a uma série de complicações, incluindo diabetes tipo 2, doenças cardíacas e hipertensão.  A Organização Mundial da Saúde aponta que a prevalência global da obesidade quase  triplicou desde 1975, tornando-se um dos maiores desafios de saúde pública do século  XXI.

Assim, os padrões de beleza promovidos pela cultura de massas têm um impacto  profundo na saúde mental e social. Enquanto movimentos de aceitação corporal  trabalham para desafiar esses ideais, importa abordar a questão da saúde de forma equilibrada, reconhecendo a importância de um corpo saudável sem sucumbir à pressão  de padrões de beleza inatingíveis. A verdadeira beleza está na diversidade de corpos,  valorizando a saúde e o bem-estar acima de tudo.