De forma recorrente, Portugal tem ficado aquém do seu potencial e expectativas.

Comparando-nos com os restantes países europeus e ocidentais, estamos, habitualmente, na liga dos últimos no que diz respeito a desenvolvimento económico e poder de compra.

A economia portuguesa estagnou nas últimas duas décadas. Em poucos anos, caímos 6 posições no ranking global da competitividade, com um quinto dos portugueses a receberem o salário mínimo e, em média, a ganharem cada vez menos do que os europeus.

Esta é a realidade de Portugal, apesar de sermos um dos países que mais dinheiro recebeu de Bruxelas nas últimas décadas (135 mil milhões desde 1986) e de o esforço fiscal dos portugueses ser o 6º maior da União Europeia.

É normal que nos sintamos insatisfeitos e, por vezes, até frustrados com os resultados nacionais. Injetamos o Estado de avultadas quantidades de dinheiro e este devolve-nos um país carregado de desigualdades com baixos salários e serviços públicos de fraca qualidade.

Neste contexto, proliferam certezas sobre corrupção em Portugal. Em 2021, o Corruption Perceptions Index avisava que “a corrupção política escapa à estratégia nacional anticorrupção”. No mesmo ano, o Global Corruption Barometer da União Europeia afirmava que “88% dos portugueses acreditava que havia corrupção no governo” e, há poucos anos, um relatório do Parlamento Europeu estimava um valor anual de 18 mil milhões para a corrupção no nosso país, um orçamento maior do que aquele que atribuímos à saúde.

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Ainda que para esta realidade muito tenha contribuído a longa estadia do Partido Socialista no poder e a forma como, reiteradamente, confundiu o Estado com o Partido – basta pensarmos no vulcão Sócrates ou na sucessão de situações que conhecemos nas governações de António Costa – a verdade é que, infelizmente, o problema é muito mais profundo e enraizado na sociedade portuguesa, demasiado marcada pelo amiguismo e chico-espertice.

Seria ingénuo acreditarmos que só de más opções políticas vivem os nossos desaires. Na verdade, apenas a corrupção pode justificar que, ao fim de tantos anos e tanto dinheiro entregue ao Estado, continuemos a ser incapazes de convergir com os restantes países europeus.

O combate à corrupção é o maior desafio do país que Luís Montenegro e o governo da AD herdaram. A direita tem um importante legado nesta matéria – basta recordar a coragem de Pedro Passos Coelho frente ao BES – e é fundamental que não hesite na batalha a travar, sendo muito positiva a apresentação de um programa para o efeito ainda antes de se completarem 100 dias de governação.

A importância do tema para todos nós e a nossa satisfação por ver um governo preocupado com a questão, deve-nos mobilizar a participar e ambicionar mais.

Vencer a corrupção deve ser um desígnio nacional sem tréguas que obriga a que vamos ainda mais além. Exige-se uma profunda discussão sobre a criminalização do enriquecimento ilícito, o reforço das penas para os crimes relacionados, a criação de uma “via verde” para o imprescindível acelerar dos processos judiciais nessas matérias e uma rigorosa comparação dos valores praticados pelo mercado nos serviços prestados ao Estado e ao privado.

Assim, se construirá um Portugal com futuro.