Está na hora de garantir o negócio por mais um ano. Para o ano logo se vê de que lado sopra o vento. Tem sido sempre assim desde que António Costa é primeiro-ministro. Programa de governo? Estratégia para o país a médio prazo? Nada disso. É preciso é deixar o barco seguir sem grandes sobressaltos.

É assim por estes dias como todos os anos em outubro. Ouvimos as grandes exigências de deputadas não inscritas, de quem o resto do ano nem ouvimos falar, do PAN e da causa animal, do PCP cada vez menos exigente e do BE que vai fazendo as contas para saber se este ano vai ser rebelde e chumbar o orçamento, ou se os seus votos fazem falta para manter a mercearia de Costa a funcionar.

Entretanto, num ministério perto de si, a vida continua igual a sempre. Aquele grande projeto, aquela aposta na ferrovia, o reforço do SNS e tudo o mais aguardam a descativação do senhor ministro das finanças. Menos mal que a culpa nunca é dos ministros setoriais e cabe sempre a João Leão, o forreta.

Em São Bento, o dono da mercearia disfarça com uns diplomas bem modernaços sobre a igualdade de género, o fim da transmissão de touradas na RTP, ou o plano de recuperação das aprendizagens nas escolas onde não há professores, mas isso também não interessa nada.

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Gerir uma mercearia do tamanho de um país, na perspetiva de António Costa, é um exercício de ilusionismo. A CP não tem dinheiro, mas a aposta na ferrovia é uma prioridade para o Governo. As escolas não têm professores, mas o ano letivo começou a horas e quando chegarem os professores, se chegarem, vai haver recuperação das aprendizagens. Agora é que é, quando houver dinheiro, vai direitinho para o reforço do SNS. E, entretanto, prometem-se umas revisões da lei laboral ao PCP e uns acertos nos subsídios da função pública e está aprovado o orçamento.

A estabilidade política, tão útil ao país, é também uma ilusão. A gestão da mercearia, para ser bem feita, não permite subir o nível e a dimensão do negócio. Para isso era precisa uma estratégia, um desígnio e um conjunto de metas a atingir. Era preciso que Costa fosse ao mercado parlamentar negociar o futuro e não oferecer brindes em promoção.

A ausência de uma proposta mobilizadora para o país prova-nos, ano após ano, que António Costa não é um bom negociador, é antes um grande ilusionista. Se ao menos fosse mágico, podia tentar mudar Portugal com um toque de magia. Mas, infelizmente para todos, não é esse o talento do primeiro-ministro.

Para a semana, o Presidente respira de alívio, já temos orçamento garantido. O problema volta para as mãos de uma maioria de portugueses que na sua atividade privada continuam a batalhar para construir empresas sólidas e modernas num país político que rema em sentido contrário.