1 Está à vista de toda a gente. O Estado falhou. O caos em que vivemos, e que dá sinais todos os dias em toda a parte, já não é disfarçável. Não há anúncio, discurso ou narrativa que consiga disfarçar os problemas que nos entram pela vida dentro diariamente.

Apesar de sermos um povo de brandos costumes, mais cedo do que tarde cada português irá perguntar-se se está melhor ou pior do que no mal-amado tempo da Troika. E a resposta, por mais que custe ao Primeiro-ministro, será apenas uma: estamos pior. E nem sequer estamos a fazer sacrifícios para beneficiar mais tarde. Estamos mal por incompetência na gestão da coisa pública.

A febre das reposições do tempo da geringonça deu nisto. A ilusão do vai ficar tudo bem com a proteção do Governo socialista acabou. Educação, saúde, transportes e habitação em colapso, enquanto os preços aumentam de dia para dia, acabarão por mostrar aos portugueses que a teoria de um Passos Coelho castigador que só queria fazer mal aos portugueses não era verdadeira. A ilusão de que é uma opção meramente política dar tudo a todos está a mostrar os seus resultados. E o Primeiro-ministro já deixou o alerta em entrevista à TVI: o Governo ainda está a estudar se “temos mais mil milhões de euros de despesa permanente para pagar o aumento dos pensionistas”. O que quer isto dizer? Estamos para ver daqui a pouco tempo se a tudo o que já temos se junta mais um “cisma grisalho”.

Numa altura em que se fala no regresso de Passos Coelho à vida política, não deixa de ser irónico que se comecem a conhecer os resultados das políticas (ou da ausência delas) de António Costa.

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2 Quando foi conhecido o relatório da Comissão Independente para o estudo dos abusos sexuais na Igreja Católica escrevi aqui: “O ato de contrição exige afastar os suspeitos, repensar as práticas e procedimentos, redobrar o cuidado com a formação de padres e religiosos e, acima de tudo, não permitir que nada nem ninguém viva a Igreja como uma realidade solitária e oculta. Só assim a Igreja consegue voltar à sua casa, a casa de Deus.

Faço parte dos milhares de católicos que ficaram desiludidos com as disposições apresentadas pela Conferência Episcopal Portuguesa na passada sexta feira. Admitindo falhas, cada vez mais inadmissíveis, na forma de comunicar dos nossos Bispos, pareceu-me que a reflexão e as medidas adotadas depois da análise do relatório ficam muito aquém do que todos esperamos e exigimos.

A Igreja não é, antes de mais, um lugar de cumprimento de normas legais. É um lugar onde uma comunidade de homens vive a promessa de uma vida plena fundada na certeza de que fomos criados e estamos destinados ao amor de Deus. O único que responde ao desejo do nosso coração. Ora esta Igreja não precisa de normas legais nenhumas para afastar, mesmo que preventivamente, qualquer dos seus sacerdotes que seja alvo de suspeitas. Isto pode trazer injustiças para aqueles que são falsamente acusados? Pode. Mas, face ao que está em causa, é preferível correr esse risco e, se for caso disso, fazer esse sacrifício, a deixar que vidas inocentes continuem a ser vítimas da ação de alguns traidores da Igreja.

Como disse anteriormente, a Igreja somos todos os que fazemos parte dela, todos somos responsáveis pelo que se passou e pelo que se passa. Este não é um problema só dos Bispos. Nesta fase, é importante encontrar uma forma de incluir os que, como eu, estão disponíveis para procurar soluções que respondam eficazmente ao terrível desafio com que estamos confrontados. Todos somos responsáveis e todos queremos que a Igreja Católica corrija os seus erros e seja uma casa de portas abertas para os que procuram uma resposta totalizante para as suas vidas. Só isso, nada mais do que isso.