O período que estamos a atravessar vem marcar um importante ponto de inflexão na crescente confiança e optimismo dos últimos anos. Estávamos, desde 2015, a recuperar da profunda crise que vivemos durante quatro anos e, embora as previsões para o exercício corrente já não fossem as mais optimistas, o covid-19 veio catalizar essa situação.
Hoje em dia, em plena era da inteligência artificial e da digitalização, tudo se passa rapidamente e as epidemias igualmente se elevam a níveis impensáveis neste mundo global em que vivemos. Na verdade o covid-19 encontrou no presente ecossistema as condições perfeitas para a sua disseminação, seja através das trocas comerciais, seja pelas cadeias de produção ou pela livre circulação ou seja ainda pelo turismo e pelos fluxos migratórios.
Com a preocupação dos países centrada, como é natural, na saúde, nos cuidados a tomar, nos doentes a tratar, nas vidas a salvar é natural que tudo o resto seja secundarizado.
Porém, é extremamente importante focar também a nossa atenção na economia ,avaliar os impactos que advêm desta situação de excepção que vivemos e aplicar as melhores soluções para evitar o pior, quer para as empresas e famílias, quer para os próprios países que lutam contra a pandemia.
E se os impactos da disseminação deste surto são identificáveis, já as possíveis soluções a adoptar parecem mais complexas e a merecerem análise e preparação adequadas.
O primeiro impacto, até porque foi lá que o vírus primeiro apareceu, é a quebra da economia chinesa, pelo menos durante estes dois primeiros trimestres. Do lado da oferta, verificar-se-ão falhas nas cadeias de produção e no absentismo. Do lado da procura, a incerteza instalada vai adiar decisões de investimento e produz forte impacto na liquidez das empresas.
As respostas para mitigação desta situação começaram, gradualmente, a ser dadas pelos governos dos vários países. Portugal fez o mesmo, decretando sucessivas medidas para tentar obviar à quebra de rendimento dos trabalhadores. Porém, a nossa integração na União Europeia faz com que possamos também contar com os auxílios e medidas que estão iminentes quer do BCE, quer do BEI ou ainda do MEE.
No caso do BCE, o banco emissor na zona euro, zona de que Portugal faz parte desde a sua criação, a sua ajuda pode revestir várias formas com a vantagem de poder receber no seu balanço as dívidas dos Estados membros que necessitem.
O MEE poderá acordar, muito em breve, um pacote de meio bilião de euros e a possibilidade do recurso a uma linha de crédito com condições favoráveis para os países que precisarem.
O BEI ,tão conhecido dos empresários portugueses, tem igualmente linhas que podem servir de apoio nesta situação excepcional.
A União Europeia não pode falhar este desafio e tem agora oportunidade de mostrar a sua capacidade de resolução dos problemas actuais e de solidariedade com os que mais precisam.
Outra solução que recentemente a Missão Crescimento (think-tank fundado em 2011), de que o FAE faz parte, alvitrou foi o lançamento de Fundos de Reconstrução Nacional, baseados no que no pós-guerra foi lançado para a reconstrução da Alemanha, devastada pela II Grande Guerra e que foram um modo de canalizar investimento para o tecido empresarial com a participação conjunta do Estado e da Banca.
Outras soluções serão possíveis, mas o essencial é cada país identificar devidamente as suas necessidades para a fase da recuperação e do relançamento da economia, agindo com rapidez, inteligência e em função das reais necessidades económicas e sociais dos seus cidadãos, das famílias e das empresas, sempre com um superior desígnio nacional a orientar as suas decisões.
Portugal tem um débil tecido empresarial, com um número infindável de micro, pequenas e médias empresas. É urgente tudo fazer para manter as que são viáveis, ajudando-as a manterem os postos de trabalho, a terem maior produtividade e a ganharem competitividade.
Evitar a insolvência de empresas por falta de liquidez, lançar programas de apoio ao investimento e minimizar os custos gerados por esta crise são vitais.
São tempos difíceis, que põem à prova as pessoas, as empresas e os Estados. Há que ultrapassá-los, trabalhando em sintonia, dentro de cada país, no seio da União Europeia, aproveitando o período de recuperação que aí vem para realizar as reformas e reestruturações que não fizemos ao longo dos últimos cinco anos.
Afinal, as epidemias e as pandemias têm um carácter cíclico e ,cumprindo as regras definidas para evitar ou minimizar a infecção pelo covid-19, deveremos prepararmo-nos para a fase seguinte adoptando políticas de reactivação da actividade económica e de retoma e consequente estabilização.