Neste tempo de COVID-19, quase todos os dias me perguntam “Como posso identificar alterações psicológicas em quem me é próximo – família, amigos, vizinhos e colegas de trabalho?”, quase seguido de “O que devo fazer quando as identifico, como posso ajudar?”
Parece haver uma maior responsabilização pela saúde mental do outro, um querer fazer algo antes que seja tarde.
Os números sempre estiveram lá. Desde há alguns anos que a cada seis meses e em todo o mundo morrem por suicídio 400 mil pessoas, enquanto que por COVID-19 morreram nos seis primeiros meses 200 mil pessoas. Metade. Mas parece que só neste tempo COVID-19, a sociedade começa a dar mais atenção à saúde mental. É caso para dizer: “Há males que vêm por bem.”
Como, então, identificar alterações psicológicas em quem me é próximo – família, amigos, vizinhos e colegas de trabalho?
Nesta fase COVID-19 está a aumentar a sintomatologia de stress pós-traumático, quadro que pertence às perturbações de ansiedade, como a de pânico, a obsessivo-compulsiva, as fobias e a ansiedade generalizada. De uma forma simples, sintomas de ansiedade são o desvio constante da atenção para pensamentos de preocupação — pensamentos ou preocupações intrusivas recorrentes, a evitar certas situações por preocupação, e que podem ter sintomas físicos como suor, tremores, tonturas ou batimentos cardíacos rápidos.
Mas os quadros de depressão continuam igualmente bastante presentes na sociedade. Sintomas de depressão são falta de interesse e de prazer em actividades diárias, perda ou ganho de peso significativo, insónia ou sono excessivo, falta de energia, incapacidade de concentração, sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva e pensamentos recorrentes de morte ou suicídio.
E, como podemos então ajudar o outro, quando identificamos nele alterações psicológicas?
Aqui temos duas situações:
- Quando percebemos que a pessoa já não está a funcionar bem no seu dia a dia – não consegue levantar-se da cama, arranjar-se, comer, fazer coisas simples e que lhe davam prazer – devemos levá-la de imediato à ajuda especializada: pode ser um psicólogo, um psiquiatra ou ambos. Há casos em que é necessária medicação e isso só o psiquiatra pode prescrever. O psicólogo trabalha com a pessoa ao nível dos seus pensamentos e comportamentos para melhor lidar com a situação, através de estratégias psicológicas.
- Quando a pessoa ainda funciona bem no seu dia a dia – levanta-se, arranja-se, alimenta-se, tem algum prazer nos seus hobbies, devemos recordar com ela tudo o que é positivo: memórias conjuntas, sonhos e desejos para o futuro, pedir pequenos favores com base nos seus talentos para que ela se sinta útil.