A um mês das eleições autárquicas, em que irão a votos candidatos a mais de 300 municípios e mais de 3000 freguesias, gostava de lhes perguntar, quantos têm como plano o desenvolvimento de uma cidade de 15 minutos?

Como diz o pai do conceito “cidade de 15 minutos”, Carlos Moreno, professor da Universidade de Sorbonne, o futuro planeamento urbano tem de permitir a cada um alcançar diariamente o que precisa, a pé ou de bicicleta, em 15 minutos. De acordo com Carlos Moreno, a dinâmica quotidiana das pessoas jamais retornará à que era vivida antes desta pandemia. E, acrescento eu, isso não é necessariamente negativo. Senão, vejamos: quantas horas por dia estava a maioria das pessoas em transportes próprios ou públicos em deslocações diárias? Quantas horas permaneciam as crianças nas creches, escolas e ATL diariamente?

Segundo Carlos Moreno, a pandemia fez-nos descobrir o nosso bairro residencial – lugares e pessoas: ser turista à volta de casa. E eu pergunto: isso não é positivo? Seria qualidade de vida quando antes da pandemia o nosso local de habitação era, para a maioria, não uma zona de conforto, mas um local estranho, de alerta, desconfiança ou risco? Nunca foi o meu caso, pois talvez por ter sido estrangeira em vários países, cedo me forcei a estabelecer relações de confiança nas várias zonas habitacionais por onde passei.

Cada bairro residencial deve, segundo Carlos Moreno, permitir seis diferentes funções sociais: viver, trabalhar, fornecer, cuidar, aprender e desfrutar. Enquanto psicóloga especialista em clínica e do trabalho, acrescento que cada bairro residencial deve permitir que cada um alcance em pleno as suas sete saúdes: física, psicológica, social, espiritual, profissional/escolar, familiar e de lazer.

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Também na qualidade de psicóloga especialista clínica e do trabalho, gostava de alertar os candidatos às eleições autárquicas, alguns dos quais – e de todos os quadrantes políticos – tenho o prazer de conhecer pessoalmente, do impacto positivo que tal medida – o novo paradigma da cidade dos 15 minutos – pode ter na saúde mental dos seus eleitores. A evidência científica é indiscutível no que toca ao facto do sentido de comunidade, de pertença e de participação constituírem grandes factores de proteção da nossa saúde mental.

Por fim, atrevo-me a acrescentar, como complemento a este novo paradigma, um outro que tem sido a minha bandeira desde 2012, portanto quase há 10 anos: o paradigma da aprendizagem intergeracional – cada geração pode aprender e ensinar simultaneamente, independentemente da sua idade.

Façamos das eleições autárquicas de 2021 um ponto de viragem para cidades dos três Is: inteligentes, intergeracionais e integradoras.