A dissolução do parlamento e a próxima realização de eleições gerais, em plena nova vaga pandémica de mistura com as festividades natalícias, não podiam ocorrer em pior altura. Faz lembrar o período devastador do anterior primeiro-ministro socialista, José Sócrates, há pouco mais de dez anos. Entretanto, António Costa já se tornou no secretário-geral do PS que mais tempo governou graças ao «golpe parlamentar» de 2015 que trouxe o PCP e o BE para a área governativa e arriscam-se os três a continuar…
Caso o actual primeiro-ministro consiga a «maioria absoluta», isso só aumentará o ferrete socialista! Entretanto, a última informação sobre o governo cessante confirma a fatal incapacidade do PS para cumprir as promessas. Caso o PS regresse sem maioria, continuarão o aumento dos funcionários públicos e dos seus ordenados bem como o do salário mínimo e as ínfimas pensões. O inchaço da função pública e a distribuição de subsídios, a par da gradual degradação de serviços desde o SNS aos lares, continuarão a ser a única coisa que o PS foi capaz de fazer… enquanto se continua a desconhecer cinco o que se passou há meses com o atropelamento fatal causado pela velocidade do carro de serviço de um ministro que há muito devia ter saído de cena! Estes pormenores aparentemente miúdos são o único modo de governar conhecido do PS. A própria adesão à UE não passou de uma manjedoura onde vai comer enquanto a economia real mingua!
Este tem sido o mal. A seguir vem o pior. Caso o PS venha a beneficiar da conjuntura eleitoral, como é possível que aconteça, o pior vem com a inexistência de oposição ao governo. Com efeito, o próprio presidente da República só contribuiu tão activamente para dissolver o parlamento e favorecer uma possível «maioria absoluta» do PS, a fim de desembaraçar António Costa da pressão dos seus aliados. Com efeito, desde que Passos Coelho abandonou a política activa, não há verdadeira oposição ao governo PS que não se limite a votar, ocasionalmente, contra a «caranguejola». Nem sequer contra a eutanásia quando se sabia que a generalidade da população não aprova essa subversão – não do médico A ou B – mas sim dos princípios éticos da medicina!
Ora, o pior da presente conjuntura – para além do record absoluto da dívida pública atingida de novo pelo PS – é a desagregação da oposição ao governo, nomeadamente do PSD e sobretudo do CDS. Quanto a estes, seis anos depois do «golpe» de 2015, não só perderam votos como se fragmentaram internamente e se revelaram incapazes de criticar as pretensas políticas governamentais, para já não falar de medidas alternativas a apresentar, eventualmente, de acordo com um ou mais dos mini-partidos surgidos desde as eleições de 2019.
Concretamente, o PSD submeteu-se, como partido de alternância governamental que era, a dividir-se em dois, se não forem mais, enquanto perdia o momento de se aliar ao CDS a fim de apresentarem juntos uma alternativa governativa clara e competente. Esta deveria, aliás, assumir algumas das reformas económicas e fiscais aplicadas pela «troika», cuja racionalidade acabou por ser demonstrada pelo último governo PSD+CDS ao deixar a economia do país já a crescer quando o PS aproveitou para dar o funesto «golpe» de 2015.
Quanto ao aparente suicídio do CDS, só facilitará um eventual crescimento de atitudes e propostas novas como as da Intervenção Liberal, a qual poderá agrupar eleitores jovens e semi-jovens que até agora ainda não tenham medido a gravidade da situação do país. Por seu turno, o CHEGA é outra louça, a qual será absorvida pela recomposição da ala direita do parlamento ou se arrisca a crescer contra tudo e contra todos sem ventagem para ninguém. Em todo o caso, não dará votos ao pretenso esquerdismo nacional!
Perante a impossibilidade de as sondagens captarem com veracidade os movimentos eleitorais dos abstencionistas, os quais não são necessariamente os mesmos de eleição para eleição, assim como perante a possível volatilidade de anteriores eleitores do PSD e do CDS, não é impossível que parte deste eleitorado seja atraído pelos actuais mini-partidos… A hora, em todo o caso, não é de ficar em casa.
Com os rigores da pandemia e a grave herança da deseconomia dos últimos dois anos, que alteraram também muita da oferta e procura, bem como as mudanças do trabalhar; com o reaparecimento da inflação reprimida há muito; e finalmente com Espanha e Portugal como únicos «socialistas de serviço», enquanto a Itália e a Grécia parecem ter aprendido a lição, a macro-conjuntura que pesará sobre nós nos próximos anos será extremamente difícil de gerir. A própria UE terá dificuldade em fazê-lo. Nunca bastará atirar dinheiro para cima do problema. Enquanto o PS estiver no poleiro, não haverá nada a fazer. Resta saber se há alguém capaz: por ora não se vê.