A primeira vez que escrevi para o Observador foi sobre as primárias republicanas para as eleições presidenciais dos EUA de 2016, numa altura em que o fenómeno Trump estava a ganhar tração para quase incredulidade de muitos, incluindo eu próprio. Não resisto a voltar hoje a falar a este tema até para ajudar a tranquilizar muitos que perderam toda a racionalidade em relação a estas eleições.

A minha ideia sobre Trump era idêntica à que JD Vance, hoje seu candidato a VP, tinha nessa época. Nunca uma pessoa daquelas seria o candidato republicano … mas a verdade é que até com o apoio dos órgãos de comunicação “mainstream” que lhe deram “palco”, provavelmente a pensar que seria “carne para canhão” numas eleições contra Hillary Clinton e com umas boas prestações nos debates, o resto é história.

Como Presidente, apesar do “rodopio” de entradas e saídas do seu staff e algumas monumentais gaffes como no tempo do COVID, atitudes desconcertantes e um estilo populista, provocador e truculento, a economia cresceu, os Estados Unidos não entraram em novas guerras, e o mundo esteve bem mais pacificado do que agora depois de 4 anos da presidência de Biden. Em relação à NATO e às exigências que fez em relação aos países europeus, ele tinha toda a razão e até o próprio Clinton tinha começado a falar neste tema. Mesmo no tema dos imigrantes ilegais, ficou por exemplo muito longe da média de deportações da presidência de Obama. Para o futuro deixou uma Economia pujante e, por exemplo, um Supremo Tribunal com juízes mais conservadores, o que foi de encontro às expectativas de muitos dos que nele tinham votado.

Reagiu muito mal à derrota de 2020 e, apesar das “n” trapalhadas numas eleições quase terceiro-mundistas, nunca devia ter “incentivado” uma manifestação que foi deixada entrar no Capitólio, o que deixou uma péssima imagem final da sua Presidência. Daí até ter havido uma tentativa de golpe de Estado vai um grande salto.

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Voltou em força, arrasou nas primárias republicanas e está agora à beira de ser reeleito para choque da grande maioria dos meus amigos e conhecidos, muito influenciados por um pensamento quase único em relação a este tema na comunicação social do nosso país, que deixa com que muitos tenham medo que venha aí algo de terrível e que haja um ódio em relação a Trump.

A rival Kamala Harris apesar de ser ter saído bem no único debate, tem-se mostrado muito fraca e com poucas ideias e não consegue descolar de uma Presidência que não melhorou os EUA. Todo o processo pouco democrático da sua nomeação não lhe terá sido benéfico, está demasiado ligada a uma agenda “woke” que já foi mais popular e à ala mais à esquerda do Partido, e as suas tentativas de mostrar o contrário não têm sido convincentes. Escolheu um candidato a VP igualmente fraco, com um histórico de radicalismo como Governador e com uma estranha propensão para mentir, o que é especialmente impopular nos EUA. A forma como Joe Biden foi mal-tratado deixou ainda muitos independentes desconfortáveis.

JD Vance tem uma história de vida inspiradora, é consistente intelectualmente e pode ser um grande apoio a Trump nos próximos 4 anos e talvez venha liderar o Partido Republicano no futuro. A equipa desta vez é bem melhor, está mais preparada, tal como o próprio Trump … se resistir à tentação de se vingar de quem o tem perseguido.

Embora faltem alguns dias que podem ser decisivos e porque as sondagens continuam a dar um empate, arrisco dizer que Trump ganhará com alguma folga no colégio eleitoral e que a reação dele no dia do atentado que revelaram sangue-frio, presença de espírito e até uma coragem extraordinária estará na mente de muitos eleitores.

E depois? Posso estar a ser demasiado otimista mas tenho a convicção que se resolverão depressa alguns destes conflitos terríveis que existem no mundo. Por outro lado, a tendência isolacionista dos EUA que se tornou quase inevitável desde que se tornaram autónomos em termos energéticos, e que assusta os Europeus, vai-se intensificar, mas isso seria sempre assim independentemente do candidato vencedor. Temos que nos habituar a ter estratégia e pensamento próprio… o que até me parece positivo.