O Homem é um ser social por excelência, nem sempre de excelência. Assim o dita a destruição maciça do planeta provocada pelo próprio, ao longo dos anos, e o cenário de patologia social em que vivemos.
Defrontamo-nos com um dilema prático, assente na questão social, que deve, o quanto antes, fazer parte efetiva da agenda política. Segundo uma perspetiva multidimensional, vislumbram-se cenários de desigualdades sociais que serão, tendencialmente, agravados nos próximos tempos, caso não se lhe atribua a devida importância. Urge combater, de forma pragmática e efetiva, o estado de pobreza em Portugal, potencializado pela situação pandémica em que vivemos. Na verdade, a desigualdade gera patologia social.
Remendar o problema com medidas avulsas, conjunturais, não tem chegado e não chega, sendo necessária uma efetiva mudança estrutural e sustentada. Tenhamos consciência de que a desigualdade exacerba a perda de coesão social – uma ameaça à saúde de qualquer democracia.
Com o incremento da situação pandémica e de todas as circunstâncias nefastas que daí decorrem, preparamo-nos para fazer face a um incremento exponencial das doenças mentais, sintomas de disfunção social, que não se tratam (na sua essência) com fármacos, mas com proatividade e sustentabilidade.
O contrato social que definiu a vida da sociedade do pós-guerra, assente na garantia de segurança, estabilidade e justiça, é posto em causa de forma irredutível.
A imprevisibilidade aliada à insegurança constante, do ponto de vista económico, do ponto de vista social, político e físico gera e potencia o medo, que em nada favorece o bem-estar de todos e de cada um.
Neste contexto, quanto maior for a incapacidade de o Estado se relacionar eficazmente com a sociedade civil, maior será o grau de anomia social. De facto, assistimos diariamente a um cenário de medidas toldadas pela incongruência e incoerência, o que leva ao questionamento da sua eficácia, num contínuo desgoverno no combate à Covid-19 por parte de quem nos devia governar.
De que nos serve um discurso político imbuído de ideias fraternas, se continuamos grotescamente desiguais? Sociedades desiguais são, tendencialmente, sociedades instáveis.
É notória uma descrença relativamente aos objetivos comuns, de bem-estar coletivo e individual, que nos uniram inicialmente no combate à pandemia. Começamos, literalmente, a cumprir à risca o distanciamento social e, a pouco e pouco, nas várias dimensões da nossa vida, no seio da família, na escola, no trabalho. Inculcamos atitudes materializadas em comportamentos que, de forma sucessiva, poderão vir a ter repercussões efetivas na construção do nosso ethos enquanto comunidade.
Sendo certo que qualquer situação de pandemia é altamente disruptiva, atendendo à descontinuidade que lhe é inerente, não mais voltaremos a ser o que éramos e o habitus, decorrente de um conjunto de disposições continuadas, será tendencialmente incorporado na herança cultural coletiva.
Desde há muito, que a nossa sobrevivência enquanto espécie humana depende de uma consciência coletiva, baseada no respeito por si, pelo outro e pelo meio circundante. Sendo o Homem, também, um “animal político”, urge repensar o discurso político, com seriedade, por forma a fomentar não a alienação, mas a empatia alicerçada na unidade, justiça e coesão social. Para que não se caia, de novo, na ideia de que a única forma de superar as iniquidades do sistema capitalista é através da revolução.
Um desafio de todos e de cada um.