A desigualdade económica é, sem dúvida, um dos grandes dilemas éticos e sociais da actualidade. É vista frequentemente como um problema a ser combatido – e bem – quando leva à fome e à pobreza extremas e quando afecta biliões de pessoas. Contudo, paradoxalmente, essa mesma desigualdade também cumpre um papel importante, pois é um dos motores que impulsionam a inovação, o desenvolvimento económico e a diferenciação.
O problema não é existirem classes sociais (pois precisamos da vontade de ascender na vida), mas sim existirem classes miseráveis. O problema não é existirem ricos, mas existirem pobres. Se à classe média pouco importa que existam ricos, a quem passa fome a desigualdade é intolerável.
Uma sociedade igualitária não é, como almeja a esquerda, uma sociedade em que todos têm a mesma quantidade de capital. Veja-se o exemplo cubano em que há igualdade na miséria e nem aí o sistema é igual entre povo e classe política/militar.
O importante, na verdade, é criar as condições para que se crie mais riqueza, ao mesmo tempo que se reparte o que se cria, de modo a que ninguém fique para trás. O modo Robin dos Bosques ideológico à la Bloco de Esquerda e PCP, de tirar aos ricos e dar aos pobres, de nada serve. Passo a explicar.
A Ilusão da Distribuição Igualitária da Riqueza
Imaginemos um cenário utópico no qual todo o dinheiro do mundo é distribuído de forma igualitária entre cada habitante. De acordo com estimativas, o valor total de riqueza no mundo situa-se à volta dos 400 triliões de euros, o que serve para este exemplo. Dividindo essa quantia pelos cerca de 8 biliões de pessoas, cada indivíduo teria aproximadamente 50.000 euros.
Embora esse valor pareça tentador quando tanta gente nada tem e uns poucos tanto têm, a divisão igualitária da riqueza, na prática, criaria uma série de problemas. A redistribuição massiva, por exemplo, ignoraria o comportamento económico das pessoas. Alguns iriam investir, enquanto outros iriam gastar. O resultado seria nova desigualdade económica a curto prazo. Concluímos assim que atitude em relação ao dinheiro — seja investir, gastar ou poupar — recria a desigualdade.
A Desigualdade como Incentivo à Inovação
Ao eliminar a desigualdade, poderíamos acabar também com o incentivo à inovação. Em sociedades desiguais, o desejo de ascender económica e socialmente motiva empreendedores na procura de novas ideias e tecnologias. É, em boa parte a recompensa financeira que empurra cientistas e empresários para a resolução de problemas, gerando novas oportunidades e riqueza.
Sem a “promessa” de uma recompensa, poucos optariam por correr riscos, empreender ou inovar. Temos exemplos reais de estados falhados na URSS e em Cuba. Temos igualmente exemplo contrário na China, que só se desenvolveu quando se abriu aos mercados e tirou milhões da pobreza, mas mantém um enorme nível de desigualdade social e um sistema político autocrático.
A Irlanda, por exemplo, tem um nível de desigualdade (GINI 32,9) similar a Portugal (33,7) mas um nível de pobreza muito inferior (13% para os 18,4% nacionais). Existem comparações idênticas com Estónia, Letónia ou Lituânia.
Concluímos então, que a desigualdade pode existir mas que, para diminuir a pobreza, interessam muito mais as políticas fiscais que aliviem a pobreza e o crescimento económico rápido.
Os Impactos da Redistribuição na Inflação e Desvalorização do Dinheiro
Distribuir toda a riqueza do mundo igualmente entre as pessoas levaria provavelmente a uma inflação extrema. Quando todos os indivíduos têm o mesmo poder de compra e decidem consumir de forma intensa, a demanda por bens e serviços aumenta exponencialmente. A produção não seria capaz de acompanhar a demanda, os preços subiriam drasticamente e o dinheiro, desvalorizaria. Isto, por sua vez, criaria uma situação onde a riqueza acumulada rapidamente perderia valor, frustrando a tentativa inicial de criar igualdade económica.
Além disso, os problemas estruturais que alimentam a desigualdade, como o acesso desigual à educação, à saúde e às infraestruturas, manter-se-iam presentes. Estes fatores limitariam a possibilidade de ascensão social de muitas pessoas, perpetuando as condições que levam à desigualdade.
A Educação e Outras Questões Estruturais
A desigualdade não se resume apenas à divisão da riqueza monetária. Está também nas diferenças de acesso a serviços essenciais e oportunidades. Mesmo com uma distribuição igual de dinheiro, os indivíduos com acesso a uma educação de qualidade e literacia financeira, por exemplo, teriam uma vantagem significativa pois estariam melhor preparados para multiplicar os seus recursos. Assim, ao ignorar fatores estruturais, como o acesso desigual à educação e à saúde, a redistribuição de riqueza tornar-se-ia apenas uma solução temporária, incapaz de corrigir a desigualdade de forma sustentável.
Conclusão: O problema não é a desigualdade, mas a pobreza e a iliteracia financeira.
A desigualdade é prejudicial quando resulta em pobreza extrema e limita o acesso das pessoas a necessidades básicas. No entanto, ela também tem um papel funcional na sociedade, impulsionando a inovação e o desenvolvimento económico.
Uma sociedade mais justa não exige que todos tenham o mesmo nível de riqueza, mas que todos tenham acesso às oportunidades necessárias para alcançar uma qualidade de vida merecida e possam explorar seu potencial. Assim sendo, a desigualdade pode existir, mas dentro de limites que garantam um bem-estar social mais amplo e sustentável.
Urgente é quebrar este discurso da esquerda nacional, que não passa de luta de classes, ódio a quem tem mais que nós, inveja e ressentimento. Ao insistir no discurso monotemático da luta contra a desigualdade à custa de taxas imbecis e irracionais, esquecem que a mesma só se resolve com crescimento económico e com aumento da literacia financeira. Esta é a única maneira de aumentar a qualidade de vida dos portugueses e diminuir a pobreza que ainda nos assola. Crescer e educar.