Andam por aí muitos pais escandalizados com “Destemidas”, uma série de filmes de (des)animação passada no programa Zig Zag que, segundo a RTP, é um espaço infantil “dedicado a crianças entre os 18 meses e os 14 anos”. Um dos episódios conta a vida de Thérèse Clerc, pioneira do aborto livre e do movimento feminista em França.

Thérèse nasceu numa família católica conservadora, valha a redundância, e, por isso, é representada com uma cruz ao pescoço. O pai diz-lhe que deve ser dócil, enquanto a mãe acrescenta que se deve manter virgem até ao casamento. É óbvia a intenção de ridicularizar a moral cristã: a troça é o elogio que o vício presta à virtude.

Na cena seguinte, Thérèse, no leito matrimonial, com a cruz ao pescoço e sob um grande crucifixo, espera de forma submissa o marido, que lhe diz que quer ter mais uma criança. A mulher é, portanto, reduzida a um mero instrumento de reprodução, ou seja, uma proletária. Enquanto o homem tem uma vida profissional activa, a mulher fica em casa, escrava das tarefas domésticas e do cuidado a dar à numerosa geração.

Em jeito de ‘distração’ – é assim que se diz na curta-metragem – Thérèse frequenta a igreja. É aí que, por intermédio dos padres operários, conhece a obra de Karl Marx. É O Capital que a inspira a dar um novo rumo à sua existência: se todos os homens devem ser livres, as mulheres também!

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A nova Thérèse, já feminista e sem a cruz que trazia ao pescoço, sai de casa com os filhos e junta-se a outra mulher. A partir dessa altura, apesar de saber que o aborto ilegal é a principal causa de óbitos femininos, dedica-se a essa prática criminosa.

O documentário sobre Thérèse Clerc, apóstola do amor livre e do aborto, canonizada pela televisão estatal e proposta como exemplo de virtudes à mocidade portuguesa, é digno de uma Leni Riefenstahl, senão mesmo do próprio Josef Goebbels.

Há por aí muito boa gente desanimada com este filme de animação, passe a contradição. Sem ânimo de polemizar com a RTP, a Radiotelevisão de Todos os Portugueses (excepto os católicos que, segundo dados oficiais, são apenas 80%), sugiro uma leitura alternativa desta obra-prima da sétima arte, digna de um leão de ouro de Veneza, ou até mesmo de um escaravelho de prata do Nepal ou, pelo menos, da melga de bronze do grande festival de cinema da Papua-Nova Guiné, sem ofensa para venezianos, nepalenses ou papuanos, nem leões, escaravelhos e melgas.

Então, devia ser assim: Thérèse nasce numa família feliz, porque católica. É bonita e rebelde, porque fiel ao maior revolucionário de todos os tempos: Jesus de Nazaré. Aprende dos pais e na catequese que, enquanto Marx, Engels, Lenin e Stalin, morreram na cama, como bons burgueses, Cristo, para salvar a humanidade, morreu crucificado. Thérèse é virgem, que é afirmação de personalidade e de amor, de que só são capazes as melhores mulheres e os mais homens, como seu pai e mãe lhe ensinaram, com a sua palavra e o exemplo da sua vida cristã, nomeadamente o seu casto namoro e noivado.

A Thérèse cristã sabe que a Missa não é nenhuma distração, mas o acto do mais sublime rebeldia e libertação de todos os homens e mulheres. Ao ouvir o Evangelho, percebe a força transformadora da doutrina social da Igreja. Enquanto o marxismo é o ópio do povo ignorante, a religião cristã é o grande segredo das vidas heróicas, como as das suas homónimas Santa Teresinha de Lisieux, padroeira das missões; Santa Teresa de Ávila, doutora da Igreja; Santa Teresa Benedita da Cruz, a filósofa carmelita que foi mártir em Auschwitz; e Santa Teresa de Calcutá, fundadora das missionárias da caridade.

É graças a um padre ‘operário’ que esta Thérèse católica lê o Evangelho, escondido sob a aparência de O Capital, de Karl Marx, porque vive num país comunista, como a China, ou a Coreia do Norte, onde não há liberdade e, por isso, a Bíblia é proibida. Este padre não é um mercenário, como os guerrilheiros marxistas da teologia da libertação, mas um verdadeiro ‘operário’ da messe do Senhor, que não tem medo de pregar o Evangelho.

Depois, a Thérèse cristã regressa a casa e, em vez de abandonar o marido, contagia à família o ideal da evangelização. Leva os filhos consigo, para que a ajudem no seu trabalho de promoção espiritual, humana e social.

Consciente de que o aborto, ilegal e legal, é a principal causa de morte de milhões de seres humanos inocentes, Thérèse decide ajudar as jovens mães em apuros. A sua missão é, sobretudo, salvar as crianças, mas também libertar as mulheres vítimas de parceiros opressores, reféns de organizações abortistas, ou ignorantes de uma evidência científica universal: o feto é um ser humano, com vida e personalidade própria.

Quando, finalmente, a mãe que pretendia dar morte ao seu filho ainda não nascido, se dá conta do embuste do aborto como ‘direito’ da mulher, decide-se a lutar pela vida. Já não o faz com um tímido sussurro, mas com um grito de rebeldia, que arrasta muitas outras mulheres, que passam a ser – estas sim! – as verdadeiras destemidas.

E, a concluir, um happy end. A Thérèse católica, ao contrário da homónima do filme, não enjeita a mãe idosa, mas mantém-na em casa até à sua morte natural. O seu marido e filhos agradecem-lhe, felizes, a bênção de uma tal presença.

É justo que os pais, desanimados com este filme de animação, protestem e aproveitem esta oportunidade para explicar às suas filhas e filhos a beleza da vida humana e a grandeza da moral cristã. Quanto respeito merecerão as jovens que se se souberem dar ao respeito! Há que ensinar a nova geração a ser destemida na luta contra a ideologia que o nosso nacional socialismo, através do Ministério da Educação e da RTP, lhes quer impingir.

Um voto, que é também um pedido a todos os pais, sobretudo os cristãos: que as vossas filhas não sejam outras Thérèse Clerc, mas outras Teresas santas, como a de Ávila, a de Lisieux, a de Auschwitz e a de Calcutá! Que estejam sempre prontas a dar razão da sua esperança, proclamando a dignidade de toda a vida humana – all human lives matter! – desde a concepção e até à morte natural! Que sejam destemidas na luta contra o aborto, vivam na liberdade gloriosa dos filhos de Deus e se animem a praticar a caridade cristã, que é a experiência revolucionária do verdadeiro amor.