A digitalização da saúde está na ordem do dia, mas provavelmente não temos uma estratégia definida para o país que contemple a integração dos dados de saúde para cada cidadão. Os receios da proteção de dados são compreensíveis mas, porventura, na ignorância de como funcionam os sistemas, têm sido um obstáculo difícil de ultrapassar, quiçá também influenciado por negligência e pelo medo de tomar decisões.

As unidades de saúde, como os hospitais, estão munidas de imensas soluções que muito dificilmente podem ser integradas. Dessa forma, em vez de integrar o que existe devemos preparar o futuro e impor que os novos sistemas que entram nessas unidades possam ser integrados e integradores, garantindo que o acesso é devidamente controlado.

A escolha dos parceiros certos com capacidade de escalar soluções que existam ou que as desenvolvam a partir de projetos piloto é fundamental para que se crie uma base de dados realmente útil para o sistema de saúde. Esses projetos devem tanto quanto possível cumprir os prazos de execução para não serem ultrapassadas rapidamente por outras soluções, uma vez que a velocidade de inovação é alucinante neste mercado.

Uma solução deste tipo deve ser estruturada, ter parceiros internacionais e preparar o seu desenvolvimento, pois o upgrading será constante e os profissionais envolvidos têm que ter o espírito de inovação, dando inputs para alimentar o desenvolvimento das soluções digitais. Um dos intervenientes mais importantes é o doente, pois uma parte importante da informação é dada e introduzida pelo próprio. Naturalmente o recurso da Inteligência Artificial é fundamental para estas soluções poderem escalar em processos de antecipação baseadas na experiência massiva. Antecipar uma patologia garante que o tratamento é planeado, atempado e mais eficaz. O doente recupera mais depressa, melhora a sua qualidade de vida e os custos com a sua saúde poderão não ser tão altos.

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Desconheço a taxa de sucesso dos projetos europeus neste domínio mas temos que acreditar no velho ditado: “água mole em pedra dura tanto dá até que fura”. Temos que acreditar que apenas com estes sistemas poderemos enfrentar os desafios do futuro dos sistemas de saúde, delegando na excelência dos nossos recursos humanos na área da saúde bem como das engenharias de informação.

A história diz-nos que é nos momentos de crise que surgem as oportunidades de sermos disruptivos e de introduzir inovação que seja efetiva, tornando os sistemas mais eficientes, ou seja, por cada euro gasto em saúde, se consiga mais resultados de melhoria da saúde e que, idealmente se consiga aplicar menos recursos no sector.

Há fundos europeus para este processo mas falta-nos um plano congregador. Precisamos de uma entidade com quem se possa planificar a digitalização envolvendo diversos intervenientes da saúde , privados, públicos, prestadores, financiadores, fornecedores, entre outros. Essa entidade poderá ser o Health Cluster Portugal, que tem feito um trabalho notável nesta área.