A esquerda portuguesa, e desta vez toda ela, sempre quis reduzir a direita a uma situação de menoridade política. Para tanto, faz-se a defensora autêntica da «liberdade» e remete a direita para as «trevas». Junta-lhe um caldo pseudo-cultural baseado na transformação da história do nosso país num martirológico dos pobres e oprimidos e o remédio está pronto. Embrulha a gora o produto que vende em papel feminista e ambientalista, colorido com estampas de animais. É assim há décadas e já tinha começado muito antes do 25 de Abril.

Para tanto, exibe uma dupla estratégia; por um lado, identifica a direita com o fascismo ou seja, usa o estafado argumento ad hitlerum que tem grande sucesso dentro das apoucadas cabeças que a ele são sensíveis. Como não sabe bem o que foi o fascismo, faz dele uma confusa nebulosa de preconceitos e ignorâncias. Tudo serve. Se não é bem fascismo, é porque é «fasciszante» e, em períodos de aperto eleitoral, tenta lá meter dentro todas as direitas, sejam quais forem. Por outro lado, faz o possível por identificar a direita com um exército de energúmenos incultos, selvagens, racistas, ignorantes e alcoólicos maioritariamente integrada por frades e toureiros e pouco mais. Não evoluiu nada desde o setembrismo oitocentista. Todos os argumentos valem, sobretudo os desonestos e os falsos. Acresce agora, como já li num artigo de um sevandija escrevinhador profissional num jornal respeitável, que os direitistas batem nas mulheres, praticam a violência doméstica e desrespeitam os animais. Alvitram que a democracia «está em perigo», nas sábias palavras do inteligente e culto secretário-geral do PS, e afirmam a necessidade de estabelecer «linhas vermelhas», pretexto para a censura que já praticaram e esperem continuar a praticar. A ignorância e estupidez da (maioria da) esquerda portuguesa não têm limites.

O objectivo é apenas justificar a permanência da esquerda no poder, arvorada a herdeira legítima do país e detentora única da legitimidade democrática tornada possível pelo 25 de Abril. Democracia e esquerda equivalem-se. Monta assim um espectáculo, logo ampliado pelos media, que controla completamente, destinado a fornecer um produto simples, vendável e comestível bem embalado numas cores atractivas e promovido como «cultura» e «democracia».

Ora, o que é preciso compreender é que uma parte apreciável da esquerda portuguesa tem vivido da mistificação, do insulto e do mais descarado populismo. Insiste em peças de propaganda sem valor destinadas a obscurecer os destinatários e diminuir o confronto de opiniões. Continua, neste aspecto, fiel a Marx que era useiro e vezeiro na estratégia de começar por achincalhar os seus adversários ideológicos como bem consta dos seus livros de juventude e da sua epistolografia. O objectivo é instituir uma ordem em que ela tem o papel principal, tendencialmente único. Nada de governo moderado, nada de oposições que não sejam por ela controladas, nada de tolerância com os contrários e, sobretudo, nada de portugueses autónomos, independentes e críticos. É que a esquerda nacional não se considera como mais um parceiro legítimo na vida democrática do país. Nada disso. Num assomo quase teológico, considera-se uma espécie de povo eleito com o inerente direito a discriminação legal favorável, subsídio e romaria. E como a maioria da imprensa a apoia, pode mentir e distorcer a verdade à vontade.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

É assim que a esquerda nacional julga poder manter a hegemonia cultural que é a única coisa que lhe interesse hoje, numa conjuntura em que a sua tradicional base social de apoio se esboroou completamente porque a sociedade actual nada tem a ver com aquela em que foi nada e criada.

Só que a história não lhe vai de feição. Quando dispunha de base social de apoio sólida e as massas com ela alinhavam, não tinha hegemonia cultural e hoje, que a tem (ou pensa ter), não tem as massas do seu lado. Coitada; não está em sintonia com a história.

E não está em sintonia porque não percebeu a história. As massas populares afastaram-se dela e a respectiva composição está muito longe de ser a que a esquerda pensava. Por outro lado, a hegemonia cultural de que deveras dispôs está em perda.

O recurso sistemático à mentira, a agressividade e a tentativa de manipulação só revelam fraqueza.