De um lado do Atlântico, Mario Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu e ex-primeiro-ministro italiano, apresentou uma visão ambiciosa para a Europa. Um plano de modernização essencial, reconhecido como verdadeiro e urgente, mas que, ao estilo europeu, rapidamente se viu arquivado à mesma velocidade com que foi apresentado. A proposta foi louvada por especialistas como “necessária e pertinente”, mas encontrou resistência no espírito europeu de procrastinação e complexidade burocrática. Enquanto isso, do outro lado, Elon Musk, com a sua visão disruptiva e ousada, amado e odiado, continua a incendiar o imaginário norte-americano e global, consolidando-se como uma força motriz de inovação prática e de transformação real.

A reação a ambas as figuras e às suas ideias revela mais do que diferenças de estilo: expõe dois paradigmas culturais profundamente distintos. Na Europa, Draghi foi recebido com a habitual mistura de admiração e resignação. A sua visão parecia a receita certa para os desafios do continente, mas esbarrou na estrutura lenta e cautelosa da política europeia. Como tantas iniciativas anteriores, acabou vítima de uma cultura que prefere debater, regular e analisar “trezentas e vinte cinco vezes” a implementar mudanças de forma ágil, assumindo a possibilidade de errar, mesmo que rápido, e aprender, fazendo de novo melhor.

Nos Estados Unidos, Musk, em contraste, exemplifica um modelo de liderança orientado para a ação. Seja com a Tesla, que transformou a indústria automóvel, ou com a SpaceX, que redefiniu o setor aeroespacial, Musk personifica o otimismo e a agilidade que caracterizam a mentalidade americana. A sua nomeação para o órgão de modernização administrativa do governo federal foi encarada como “alguma tinha de mudar, ele certamente fará mudar”, mesmo que com alguns erros, ficará diferente e melhor no final. As suas iniciativas não só atraem investidores e mercados, mas também geram um sentimento coletivo de possibilidade e renovação. Não surpreende que a sua influência transcenda as fronteiras empresariais, inspirando até movimentos financeiros alternativos como os criptoativos.

Esta dicotomia reflete-se também nas narrativas que os continentes constroem sobre o futuro. A Europa, embora rica em história e cultura, parece cada vez mais confinada a um papel de espectadora. Focada em regulamentos e normas, muitas vezes atua como um tutor moral global, ditando “como as coisas devem ser feitas” – um eco do modelo de ordem e etiqueta promovido por figuras como o cardeal Richelieu. No entanto, enquanto regula e observa, o mundo avança.

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Os Estados Unidos, por outro lado, permanecem fiéis ao espírito do “sonho americano”. Trata-se de um país que celebra o fracasso como parte do processo de inovação, que valoriza o risco e que está disposto a moldar o futuro em vez de apenas reagir a ele. A capacidade de Musk de capturar este ethos e traduzir ideias visionárias em resultados concretos é uma lembrança do dinamismo que ainda define a América.

A grande questão que emerge deste contraste é: o que está a acontecer à Europa? Um continente que já liderou o mundo em ciência, cultura e comércio, parece agora atolado em discussões intermináveis e falta de ação estratégica. Começa a emergir uma sensação de que a Europa pode estar a trilhar um caminho semelhante ao de Portugal no pós-Descobrimentos. Um país que, apesar de ter sido uma potência global com um papel determinante na criação do mundo moderno, sucumbiu a divisões internas, egos inflados e incapacidade de acompanhar as mudanças globais.

Hoje e no futuro, o mundo mudou. Ainda há dias vi alguns comentadores reputados a considerar inacreditáveis algumas atitudes de Trump e de Musk, não entendendo que as regras de jogo e a forma de fazer política e gerir os Estados nesta escala não se coaduna com o mero politicamente correto. A ação rápida e dinâmica atual requer também mudanças na forma como se faz política, caso contrário os extremismos, a que assistimos na Europa, irão sobrepor-se. Estamos perante desafios mundiais que carecem de ação e pragmatismos quase imediatos: uma nova ordem geopolítica, mudanças climáticas, digitalização e o crescimento de uma potência como a China. Uma Europa de resposta lenta, fragmentada e marcada por disputas internas que minam a capacidade de agir em conjunto irá traduzir-se em insignificância. Enquanto isso, os Estados Unidos avançam, com tropeções, trambolhões, levantando-se e avançando para almejar a continuidade no topo da liderança no novo paradigma global.

Se a Europa quiser reverter este declínio, terá de abandonar a mentalidade de “temos tempo” e adotar uma abordagem mais proativa e unificada. Isso significa valorizar análises visionárias como a de Draghi, mas também transformar ideias em ações concretas e imediatas. Mais do que nunca, é preciso compreender que o futuro não espera – e que a capacidade de agir agora será o fator determinante entre a relevância global e a irrelevância histórica.

Num mundo em transformação, é tempo de a Europa decidir se quer liderar, seguir ou desaparecer na irrelevância, como um eco distante de uma grandeza passada.