Nas eleições dos últimos anos tenho tido poucas dúvidas quanto ao meu voto.
Em 2011 não votei em Passos Coelho por desconfiar de políticos cuja carreira profissional, nos intervalos das intrigas partidárias, não me parece sólida, o que é agravado quando dedicaram muito do seu tempo às jotas.
Em 2015 votei sem espinhas em Passos Coelho, que me tinha demonstrado ter uma fibra que nunca imaginei, mostrando-me que eu estava enganado.
Depois disso foi sempre simples.
Comecei a prestar atenção às propostas de um grupo de gente que desconhecia por completo, comecei a escrever coisas que manifestavam um claro apoio às suas propostas políticas, e foi havendo uma natural aproximação.
Pediram-me para usar o meu nome numa das coisas que fizeram, eu disse que sim, começaram a pedir-me opinião sobre matérias em que eu poderia saber alguma coisa, conservação, ambiente, florestas, um bocadinho administração pública (mas nesse assunto rapidamente a conversa bloqueou) e acabei envolvido no programa para as eleições legislativas, nessas matérias.
Como disse, não conhecia ninguém desse grupo de gente e, por várias razões, nunca me fiz militante nem participei em coisas organizadas pela Iniciativa Liberal, com excepção de uma ou outra coisa pontual.
Para além da coincidência numa abordagem liberal aos problemas, gostei particularmente dos processos de construção de propostas políticas, com um claro esforço para ouvir a sociedade e quem tinha experiência concreta de lidar com cada problema a que se pretendia responder.
O meu profundo pessimismo antropológico faz-me estar mais atentos aos processos que aos resultados e às pessoas envolvidas.
Talvez por isso, mal a Iniciativa Liberal passou de um para oito deputados, tentei alertar os poucos com quem tinha vindo a ter contactos para o risco da IL seguir o rumo “leninista” que é natural que os partidos sigam, acabando mais preocupados com a eficácia da vanguarda partidária que com os problemas das pessoas comuns.
Tentei, com o meu escasso poder de influência, puxar para a necessidade de manter as pontes e as portas abertas para as pessoas comuns, mas rapidamente verifiquei que os grupos em que participava, e que até então eram grupos de discussão e construção de políticas, passaram a ser encarados como assessorias ao grupo parlamentar.
Rapidamente me dei conta de que não conseguia influenciar nada e desliguei-me, mantendo a disponibilidade para apoiar e responder ao que quisessem e manifestando publicamente o meu apoio à IL, mesmo que fosse crescente o meu desconforto com os processos que me parecia que estavam a ser usados.
Quando Cotrim de Figueiredo se declarou cansado da guerra, apontou um sucessor e foi tratar da sua futura candidatura ao Parlamento Europeu, não tomei qualquer partido na disputa interna, apesar dos pedidos nesse sentido, entre outras razões porque nunca fui militante, parecendo-me normal que os partidos tenham disputas internas (é assim nas famílias, como poderia ser de outra maneira nos partidos?).
Quando quem ganhou com 51% o partido, em vez de se empenhar em refazer a unidade do partido resolveu pôr sal nas feridas, culminando no vergonhoso processo das listas de candidatos por Lisboa, deixei de ter interesse em premiar esta opção.
A minha opção política continua a ser por um país mais liberal e é verdade que daqui a vinte anos ninguém se lembrará das questões de mercearia associadas a estas eleições, mas a verdade é que daqui a pouco mais de um mês eu tenho de fazer uma opção de voto concreta.
O meu primeiro objectivo é combater a coligação PS/ jornalismo que tem permitido uma colonização do Estado e um enfraquecimento das instituições que já está muito para lá do aceitável, pelo que o voto em branco ou a abstenção não são hipóteses, visto que na prática são votos no status quo.
É preciso mudar de pessoas, de canais de comunicação, de mecanismos de influência, não porque haja muita gente melhor à espera para fazer muito melhor, mas porque sendo as coisas o que são, convém mudar regularmente as pessoas que detêm algum tipo de poder, para evitar a sedimentação de processos irregulares e de captura do Estado por interesses particulares.
Nos distritos em que não há qualquer hipótese de eleger deputados da Iniciativa Liberal, esta minha ideia torna o voto muito fácil, eu votaria em qualquer que fosse a opção que aumentasse as probabilidades do PS perder deputados (incluindo no PC, num dos distritos alentejanos, se preciso fosse).
Percebo a tentação de em Coimbra eleger Pedro Brinca, ou em Aveiro Mário Amorim Lopes, ter estes deputados na Assembleia seria bom, diria que nesses distritos o meu voto dependeria da minha convicção sobre as probabilidades de os eleger.
Ainda assim, parece-me mais seguro votar na AD, diria eu, para atingir o primeiro resultado que pretendo: derrotar a coligação PS/ jornalismo.
Votando, como voto, num círculo eleitoral em que vários partidos elegem deputados, tanto me faz que os eleitores votem na AD ou na Iniciativa Liberal, desde que votem contra a coligação PS/ jornalismo.
Pessoalmente, porque não quero premiar a substituição de bons deputados por aparelhistas, como foi a opção da Iniciativa Liberal em Lisboa com base no argumento da confiança política, lá terei de votar na AD, contra a minha vontade.