No seu discurso de apresentação de candidatura, Paulo Rangel identificou três objetivos principais para o seu eventual futuro como líder do PSD. Unir o partido, fazer uma oposição acutilante e apresentar uma alternativa que dê esperança aos portugueses.

Se ganhar, o primeiro objetivo será provavelmente o mais simples de conseguir num curto espaço de tempo. Depois de uma liderança fechada, cabe a Paulo Rangel fazer o oposto. Beneficiando do inicial estado de graça e das boas relações com a generalidade dos ilustres do PSD, poderá trazer de volta ex-militantes importantes, como Pedro Santana Lopes. Poderá incluir na sua equipa os melhores quadros da equipa de Rui Rio, como Joaquim Miranda Sarmento. Poderá contar com o apoio de ex-candidatos como Luís Montenegro e Miguel Pinto Luz, ou até de aspirantes a líderes como Jorge Moreira da Silva. Mas a dificuldade residirá em fazer com que todos se sintam importantes, ou seja, com que todos acreditem que vão ter um papel relevante na história futura do PSD no poder. Depois, o cheiro a vitória, o principal cimento de qualquer partido, tratará do resto.

O segundo objetivo passará por romper com a política de acordos desejada por Rui Rio. Passará também por denunciar as atitudes menos éticas do Governo, os seus ataques à qualidade da democracia, a falta de políticas de estímulo à criação de riqueza e a ausência de uma estratégia de longo prazo que responda aos principais desafios de Portugal.

Neste capítulo Paulo Rangel nadará como um peixe na água. Beneficiará da sua experiência parlamentar e do seu faro político para marcar a agenda, para realçar as falhas do Governo através de uma comunicação incisiva e mediática. Mas conseguirá antever e responder aos diferentes ataques e contra-ataques que vão surgir? Será capaz de manter a serenidade, a consistência e demonstrar um domínio aprofundado dos temas? Escolherá e mobilizará os aliados certos para esse combate?

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O terceiro objetivo exigirá um programa e a capacidade de o comunicar. Não será fácil atrair os portugueses que se desiludiram com o PSD. Será ainda mais difícil cativar os cidadãos que se desapontaram com a política ou que nunca acreditaram nela. Para isso, será preciso ir além da proposta de construção de uma sociedade com mobilidade social, em que qualquer português possa realizar os seus sonhos e subir na vida. Será preciso ir além do discurso de defesa da indepea fazer renascer o espírito patriótico da AD.ndência das instituições democráticas, da liberdade de expressão, e de um modelo político liberalizador, mas social. Será preciso ir além da congregação das diversas matrizes do PSD, a democrata cristã, a liberal, a social democrata e a conservadora.

Será preciso explicar qual será o novo modelo de desenvolvimento económico e social que permitirá edificar uma sociedade mais móvel, flexível e competitiva. Uma sociedade onde impere uma verdadeira igualdade de oportunidades. Será preciso explicar quais serão as políticas públicas concretas que vão responder aos principais desafios de Portugal, nomeadamente a demografia, a pobreza, a sustentabilidade, a desigualdade, o imobilismo social, o desemprego jovem, a falta de competitividade, e as carências na saúde, educação, justiça, segurança e demais serviços públicos. Será preciso explicar como tornaremos Portugal num dos países mais inovadores do mundo e qual será a política fiscal e energética do país para os próximos anos.

Obrigará o PSD a liderar uma coligação, a fazer renascer oPara construir esse programa, Paulo Rangel terá de mobilizar e liderar uma equipa sólida, com pessoas competentes e credíveis, disponíveis para enfrentar os holofotes mediáticos e capazes de gerar empatia e confiança junto dos portugueses.

Porque desta vez não será como em 2011. A maioria absoluta não voltará a cair nas mãos do PSD e do CDS na ressaca de um pedido de assistência financeira. Desta vez, o BCE não olha a meios para apoiar a economia, os fundos Europeus são mais do que nunca, o sistema financeiro está mais sólido, o Governo PS não abdicou do controlo do deficit e da divida pública, o Chega aparenta estar pronto para ensombrar a direita moderada e este PS parece cada vez mais virado para os seus parceiros de extrema esquerda, que, mesmo contrariados, lá o vão apoiando.

Por todas estas razões, caso vença as eleições de 4 de dezembro, Paulo Rangel não terá uma vida fácil. Mas de certa forma ainda bem. Porque isso exigirá mais dele e da sua equipa. Obrigará o PSD a liderar uma coligação dos partidos do centro-direita moderado. Obrigará, mais do que nunca, a fazer renascer o espírito patriótico da AD. Com capacidade de trabalho e inteligência essas dificuldades poderão resultar num projeto mais sólido para Portugal. Porque sem esse programa consistente, o país assistiria apenas a mais um projeto de poder, carregado de populismo e demagogia, e disso os portugueses já estão fartos.