Este é o título parcial de um artigo de Ana Batalha Oliveira, editora do Capital Verde, do jornal ECO, “um espaço editorial especializado e dedicado à economia verde nas suas múltiplas dimensões: económica, social e ambiental mas com uma especial atenção para a económica”.
O resto do título diz que “Os jovens estão a perder a paciência”, sendo um artigo sobre meia dúzia de adultos que fazem criancices, confundindo essa meia dúzia de pessoas com “os jovens”.
Ilustra bem o sentido geral da imprensa, bem caracterizada por um comentador do Corta-fitas, o blog em que escrevo mais habitualmente: “Cinco dias depois de um grupo de grunhos ter invadido e perturbado a apresentação de um livro “inclusivo”, outro grupo de grunhos invadiu e perturbou um evento da indústria da aviação. No primeiro caso, as televisões (as que eu vi) entrevistaram a autora do livro “inclusivo” e não os grunhos, no segundo caso, entrevistaram os grunhos (ou melhor, as grunhas) e não os organizadores do evento da indústria da aviação”.
Francisco Ferreira, o Kelly Slater do movimento ambientalista, que surfa qualquer onda na zona mais crítica, independentemente da qualidade da onda, já veio fazer o costumado número de equilibrismo, acabando a dizer que é pena que se acabe a discutir a forma e não a substância dos protestos.
Há já muitos anos, quando as FP25 assassinaram um bebé, qualificaram o episódio como um erro técnico, naturalmente não pondo em causa a substância da justa luta dos trabalhadores.
Os ascendentes das FP-25 também só eram jovens e trabalhadores bem-intencionados, até tiveram um candidato presidencial com quase 20% dos votos, Otelo Saraiva de Carvalho.
Muitos deles, à medida que o tempo foi passando, foram-se aburguesando até serem, por exemplo, manda-chuvas de uma empresa de energia.
Não estou a inventar, Nuno Ribeiro da Silva, ex-secretário de estado de Cavaco Silva e ex-presidente da Endesa, integrou o GAC, Grupo de Acção Cultural – Vozes na Luta, talvez o melhor grupo de música de intervenção que já houve em Portugal (sem surpresa, na sua origem estiveram José Mário-Branco e Fausto, embora Fausto se tenha posto ao fresco muito cedo).
Não deixa de ser curioso reparar como uma das músicas do mesmo GAC (“Cantiga sem maneiras”) coincide com Francisco Ferreira no desprezo pela forma das acções “Sou mulher de trabalho/ E falo com poucas maneiras/ porque as maneiras/ são como a luva que calça o ladrão”.
Só que ao contrário da maioria, que foi ganhando juízo com a idade, grupos cada vez mais pequenos, cada vez mais radicais, foram abandonando progressivamente a fé nas acções que respeitam o chão comum das sociedades liberais e foram aderindo, progressivamente, a acções cada vez mais radicais, ao ponto do assassinato de um bebé ser considerado um erro técnico.
Estes adultos que agora andam nas bocas do mundo podem acreditar que nunca farão acções que agridam fisicamente alguém, o que é fácil quando se considera que atirar bolas cheias de tinta a alguém não é agredir fisicamente ninguém. Mas não podem garantir que não estejam a abrir caminho para os cada vez menos que aceitarão acções cada vez mais violentas.
E é por isso que a forma das acções é fundamental e a forma dos processos é mesmo o que distingue a democracia liberal (passe o pleonasmo) dos sistemas totalitários.
Sim, concordo com o título do post, eles merecem uma resposta: se querem políticas diferentes, deixem-se de criancices e venham a jogo, formem organizações políticas sérias, convençam-nos de que têm razão, ganhem eleições e executem os vossos programas.
É que já passaram por cá fascistas, comunistas e todos esses totalitarismos sortidos, de maneira que só tenho uma novidade para vos dar: os métodos que usaram são os mesmos que os vossos.
Nota editorial: Os pontos de vista expressos pelos autores dos artigos publicados nesta coluna poderão não ser subscritos na íntegra pela totalidade dos membros da Oficina da Liberdade e não reflectem necessariamente uma posição da Oficina da Liberdade sobre os temas tratados. Apesar de terem uma maneira comum de ver o Estado, que querem pequeno, e o mundo, que querem livre, os membros da Oficina da Liberdade e os seus autores convidados nem sempre concordam, porém, na melhor forma de lá chegar.