Até já petições vi: “manifestamos por este meio nosso repúdio veemente e inabalável contra a recente decisão do Primeiro-Ministro Luís Montenegro de reverter a inovadora identidade visual do Governo de Portugal”. Vamos ser sinceros: não era assim tão inovadora… é tal e qual o desenho que se pinta nas caras, utilizando três dedos com marcadores comprados em supermercados para apoiar a seleção quando joga no Mundial. Comparar isto com Dali é, no mínimo, insultuoso.
Li também “um ato de recessão a práticas obsoletas e uma adesão a uma visão estreita do que constitui a identidade nacional”. Tudo isto me parece um exagero desmedido, contudo, comparado com os 74 mil euros gastos no antigo logótipo não é nada. Isso sim, faz jus à palavra “exagero”. É importante relembrar que não é pelo antigo Governo ter despendido essa quantia que devemos manter esses frutos. Ninguém se lembra do “Allgarve?”. Campanha que custou ao estado 7 milhões de euros numa tentativa de globalização e que cessou cinco anos depois.
Utilizar o logo antigo não é regressar ao passado, é utilizar um logótipo que se assemelhe mais à nossa bandeira (que existe desde 1910). Ontem li um artigo que dizia “voltar atrás é sempre melhor que prosseguir pelo caminho errado” e não podia estar mais de acordo. Retirar a esfera armilar e o escudo não é modernizar, é inventar e mexer em património; e para quê? Se a bandeira se mantém igual não vejo a necessidade de se alterar o logótipo.
Outro elemento curioso é o facto desta conjuntura ter suscitado tanto ruído. Este logótipo é utilizado em conferências de imprensa e documentos oficiais, circunstâncias onde a maioria dos contribuintes não está presente ou tem acesso. Não é como se alterassem o logótipo do Pingo Doce ou do Continente que frequentamos semanalmente (e mesmo nesse caso nada se poderia fazer a esse respeito).
Luís Montenegro como atual Primeiro-Ministro não tem de contar com a autorização do Orçamento nem do aval do Tribunal de Contas, para mais, tem todo o direito de o fazer e está em plenas funções de o alterar se quiser. À face do exposto, é pertinente relembrar que o PSD, partido em função, é mais conservador do que o anterior. É portanto expectável que o logótipo mais aproximado da bandeira prevaleça.
Constatei também os inúmeros tons jocosos que decorreram desta permuta. Não sou membro do governo, mas digo com toda a certeza que esta não era nem é a prioridade. Contudo, penso ter sido um exemplo claro da tão conhecida expressão “juntar o útil ao agradável”. É ótimo que, para esta troca, seja preciso pouco tempo de execução e, ao mesmo tempo, promissor ver que um governo em funções há tão pouco tempo já tenha feito alterações e que já esteja a tentar mudar o país: uma lufada de ar fresco, um sinal de esperança e uma folha em branco num caderno cheio de rabiscos.