A Educação continua a ser um calcanhar de Aquiles da nossa sociedade. Andamos, enquanto sociedade a brincar com alterar regras de acesso ao Ensino Superior — ora contam exames, ora deixam de contar; ora temos exames no fim de ciclos, ora temos exames intercalares (que teoricamente nem contam para a nota final). Num ano passamos a ter o exame de Português obrigatório; depois deixamos de contar com o Exame de Matemática; noutro ano mudam os pesos (%) que são atribuídos a exames e notas do secundário; umas vezes é por causa da pandemia que alteramos as regras; outras vezes é por outro motivo qualquer, pois as regras alteram-se com mais frequência do que mudamos de Ministro da Educação.

A instabilidade é tudo menos saudável. Cria ansiedade nos alunos, nos pais e nos professores. E a alteração estrutural, essa fica por fazer. Um ensino que seja capaz de formar as pessoas que precisamos, os profissionais de que precisamos, enquanto sociedade.

Exame de Matemática

Pessoalmente considero que faria sentido manter o exame de Matemática para todos os alunos dos cursos de Ciências e Tecnologia e de Ciências Socioeconómicas. Mas, é um tema de somenos importância, que não vale a tinta que já gastou. Considero que isso faz sentido, pois, sendo para estes cursos, permite o melhor nivelamento (comparação) de conhecimento entre os alunos de todas as escolas. Por outro lado, para os casos em que as notas contam (entrada para o Ensino Superior), sempre que as Universidades/Politécnicos assim o exigirem, os alunos terão de realizar o exame. E aqui, chegamos ao cerne da questão: quando conta, os alunos terão de realizá-lo.

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Chegou a discutir-se algo que realmente fosse importante? Não.

O que falta é discutir propostas mais estruturais. Dou alguns exemplos:

Escolaridade obrigatória

Mais uma vez, começo com uma clarificação: devemos dar toda a escolaridade (e educação) que nos for possível, e o mais possível, a todos e a cada aluno.

No entanto, para ficar bem na fotografia europeia, levou-se a escolaridade obrigatória até níveis que estão afastados da realidade. O que assistimos na realidade é que, as escolas, para levarem os alunos a cumprirem o 12º ano, acabam por facilitar a transição ano após ano, para que não haja alunos retidos. E mais uma vez, temos uma disparidade de alunos, que tecnicamente têm o mesmo nível de escolaridade, mas que na realidade têm níveis de conhecimento muito diferentes. Valerá a pena? Com que finalidade?

Falta o Ensino Técnico

Nem todos os alunos têm de ser bons a Matemática, a Inglês ou a Ciências. E não são. Não faz sentido insistirmos em ensinar a todos os alunos as mesmas coisas e avaliá-los da mesma forma. Há alunos que são excelentes em matérias que nem são avaliadas nas escolas. E são as competências que um dia mais tarde vão usar nas suas profissões. Então por que não potenciar essas mesmas competências? Porque não estimular o ensino e aprendizagem de matérias como fotografia, como mecânica, como tecnologias digitais?

Não só do ponto de vista dos alunos faz sentido esta abordagem. Como sociedade, vemos licenciaturas sem empregabilidade decente e licenciados a realizarem todo o tipo de trabalhos fora das suas áreas, mas vemos uma escassez atroz de profissionais dos quais, enquanto sociedade, precisamos, mais do que precisamos de médicos (e até precisamos bastante), economistas ou engenheiros. Não conseguimos encontrar um mecânico; um fotógrafo, muitas vezes é um curioso que foi tirando umas formações de fotografia; a cabeleireira ou esteticista que foi tirando uns cursos (uns credíveis, outros quantos de qualidade muito duvidosa), o canalizador, é frequentemente “um jeitoso” que foi acompanhando um profissional mais velho e aprendendo. E são poucos, muito poucos para o que sociedade precisa.

Se é para aprender com um profissional mais velho, porque devemos levar os alunos a um ensino obrigatório e a completarem o 12º ano? Melhor será a solução em que estas profissões são ensinadas no ensino técnico. Fomentar mais ensino técnico e ter mais escolas profissionais e de cada vez melhor qualidade é essencial.

Além de tudo, dada a sua escassez, são profissões tendencialmente bem remuneradas. Sendo de qualidade, não se entende o estigma pela sua escolha.