No fim do dia 25 de Setembro de 1910 o jovem rei D. Manuel II estava contentíssimo.
Acabara de regressar do Buçaco onde assistira às comemorações da memorável batalha que se travara contra os franceses naquele local, em 1810. Cem anos antes.
O seu contentamento quis partilhá-lo com os seus íntimos e confidenciou-lhes que naquele dia tinha conquistado o Exército! A que se devia este seu julgamento? Pois ao brilhantismo da cerimónia, àqueles milhares de homens perfilados nos seus melhores uniformes engalanados de todas as condecorações, aos discursos, às saudações. Enfim àquela memorável revista em que todos em uníssono, gritaram “Viva o Rei”!
A alegria do rei poderia ter sido justificada se a interpretação que deu aos factos fosse a correcta.
Naquela conturbada época a agitação política e social era infrene. A monarquia portuguesa estava abalada nos seus alicerces. O jovem monarca não tinha sido preparado para ser rei, ao contrário do seu irmão Luís Filipe, barbaramente abatido com seu pai às mãos do Buíça e do Costa, dois anos antes.
Ter uma força como o Exército ao seu lado seria indubitavelmente importante.
Mas a ingenuidade do rei, o faz de conta dos cortesãos, a fraqueza do governo, as dissensões dos monárquicos e o não me comprometas dos restantes, ditaram a sorte neste lance da História.
Na madrugada do dia 5 de Outubro, isto é, apenas nove dias depois, era proclamada a República e o único Oficial do Exército que levantou armas pela monarquia foi Paiva Couceiro, herói das campanhas de África. O Comandante e o 2º Comandante de Infantaria 16 foram mortos por sargentos, os navios de guerra tomados por uma espécie de sovietes de marinheiros, que incluíam também alguns sargentos e oficiais.
Na Rotunda restava apenas um oficial, o Guarda-Marinha Machado Santos, e umas centenas de populares mal armados e enquadrados.
O Batalhão da Municipal e as restantes forças militares podiam-nos tê-los dizimado em pouco, mas… renderam-se.
O resto debandou ou adesivou-se.
O golpe não tinha pernas para andar, mas saiu vitorioso em pouco tempo.
Pergunta-se, seria possível a hierarquia daquele tempo não se ter dado conta de que tinha as unidades subvertidas pela Carbonária? Andariam todos cegos e não saberiam do seu ofício? É difícil de crer. As razões para que as coisas se passassem desta maneira, como em outras épocas da nossa História, terão que se buscar noutras áreas.
Mas não vamos hoje por esse caminho.
Finalizamos lembrando que é preciso olhar para o porvir estando atento às lições da História.
O rei anda nú em qualquer época.