Caros leitores, no seguimento das eleições legislativas de 2024, do passado dia 10 de Março, verificamos um país com uma nova geometria política, após 8 anos de PS a governar – 6 anos com apoio do PCP e BE e os últimos 2 com maioria absoluta.

Antes de mais, dar os parabéns à AD – Aliança Democrática, liderada por Luís Montenegro, que ganhou nas urnas. Fez uma campanha positiva, trouxe ética e maturidade para a discussão política e conseguiu sobreviver às sucessivas colagens ao Chega, bem como a discursos de comentadores políticos, que tanto tentaram destratar os seus principais apoiantes, como Manuela Ferreira Leite ou Pedro Passos Coelho.

Seguidamente, dar parabéns ao Chega e ao Livre. Parece paradigmático dar parabéns a dois partidos tão extremados nas convicções políticas, mas o seu crescimento em votação e deputados é prova que souberam capitalizar bem o seu discurso, para o seu eleitorado-alvo.

Rui Tavares, do Livre, soube representar uma esquerda moderna, com maturidade, sem os chavões ultrapassados do PCP, nem as “histórias da avó” protagonizadas pela líder do BE, Mariana Mortágua. Retirou eleitorado ao BE e PCP e conseguiu eleger, pela primeira vez, um grupo parlamentar com 4 membros.

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O Chega, na figura do seu líder André Ventura, foi o grande protagonista da noite: ultrapassou a barreira de um milhão de votos e alcançou 48 deputados, com 18% dos votos.

Este partido cresceu muito pela figura do líder, com o seu discurso inflamado, que expõe os “podres” da sociedade e dos fracassos de governações sucessivas, em especial, dos 8 anos do PS. Aproveitou o fracasso do PS nos serviços públicos, como na saúde, na educação e até a tratar a temática da emigração e da minoria cigana.

Aproveitou a revolta com a perda de autoridade da Polícia e da GNR, que fizeram múltiplas manifestações e têm feito aumentar a perceção e a insegurança em Portugal. Os dados não enganam. Em 2020, Portugal era o 4º país mais seguro do Mundo. Agora, em 2023, caiu para 10º lugar.

Quando os ministros PS e a esquerda do PCP e BE tentaram negar este discurso, André Ventura manteve-se irredutível. O pior, para exemplificar, é que os dados atuais do Relatório de Segurança Interna, publicado em Janeiro de 2024, comprovam que a criminalidade violenta e grave aumentou 14,4% e a criminalidade geral aumentou 14,1%, face a 2021. Logo, o discurso de André Ventura e do Chega cresceu também por aqui.

O Chega é o produto de todos os fracassos do sistema governativo feito por partidos moderados e que desde 1975 alternou entre PS e PSD. Para comprovar, é o partido que fez o PCP desaparecer do Alentejo, em 2024, ganhando deputados em Portalegre, Évora e Beja.

Percebeu o abandono e desertificação do interior, acompanhado pela descrença nos partidos tradicionais. Conseguiu a proeza de ganhar no Algarve, com vitórias em muitos concelhos governados pelo PS, como Portimão e Olhão. Novamente, uma zona do país onde o Estado falhou na saúde, nos transportes e na educação, nos últimos anos.

Também conseguiu tirar força aos partidos tradicionais em distritos como Santarém, em que ganhou nas urnas em concelhos tradicionalmente de esquerda (PS/PCP), com alguns problemas com serviços públicos e etnia cigana, como Benavente e Salvaterra de Magos.

Logo, o Chega foi atrás do “país real”, fora das esferas do eixo Príncipe Real-São Bento (Lisboa) ou do eixo Aliados-Foz (Porto).

Vimos dezenas de comentadores políticos a destratar o Chega após os debates, nas televisões. Basta ver a quantidade de 0 e notas negativas que André Ventura levou de comentadores como a Ana Sá Lopes, Anabela Neves ou Daniel Oliveira. Vimos programas de humor a fazer chacota com o partido e os seus dirigentes, semana após semana.

No final do dia, o partido em questão e o seu líder só podem agradecer o tempo de antena dado, de forma gratuita, enquanto iam tentando semear o “papão” nas mentes do eleitorado.

Os 18% nas urnas, com 48 deputados eleitos, no dia 10 de Março é a prova cabal de que os eleitores portugueses do Chega, do “país real”, do interior ao litoral, ressuscitaram o antigo selecionador Scolari e disseram aos comentadores políticos, às sondagens e à esquerda, que os tratou de forma paternalista: “E o burro sou eu?”.

Agora, para concluir, este resultado só mostra que o desafio eleitoral é que a AD, vencedora nas urnas, e a Iniciativa Liberal se consigam unir de forma construtiva para governar o país, apresentando uma alternativa de direita moderada, a 8 anos de socialismo.

E, acima de tudo, não esquecer que, apesar de 76% dos deputados se elegerem nos distritos do litoral, existe país para ser governado de Bragança a Vila Real de Santo António, passando pelas ilhas.