Considero-me atento e desperto para os assuntos relacionados com a vida do nosso País e acompanho com interesse a teia política e mediática em torno da aprovação, ou não, do Orçamento de Estado para 2025.

Julgo que a questão essencial, no meio da troca de argumentos, marcação de reuniões, encontro de líderes partidários, linhas vermelhas, suspeições e outros tantos episódios, é saber, agora que está entregue a proposta orçamental e agendada a sua votação na generalidade para o próximo dia 31 de outubro, se na cabeça do líder do Partido Socialista há tempo e vontade para esperar que o atual governo, sob a liderança de Luís Montenegro, floresça, amadureça e apodreça lá mais à frente; ou se arrisca tudo agora, já, optando por uma retórica velha que inviabilize a aprovação daquele documento (nem consigo imaginar, no contexto de crispação existente, que orçamento será aprovado com as alterações que seriam introduzidas em sede de discussão na especialidade!).

Não é fácil prever a decisão. Pedro Nuno Santos está encurralado entre os socialistas moderados e as sondagens ou barómetros que o animam, uma vez que as primeiras apontam para uma “Aliança” que não descola e os segundos para a culpabilização do governo, por parte da opinião pública, se vivermos um período de eleições antecipadas. A sua impulsividade não ajuda: lembram-se do episódio do aeroporto, da precipitação do seu anúncio e do puxão de orelhas do então Primeiro-ministro, António Costa?!

Do lado do PSD, a situação é mais confortável. Eleições antecipadas nesta altura, conforme determinado pela pressão do Presidente da República, por chumbo do principal instrumento de gestão da vida dos Portugueses, alimenta a crença de uma vitória mais folgada, sobretudo pelo retorno do impacto das medidas remuneratórias sobre diferentes grupos profissionais da função pública e pelo horizonte de estabilidade que o País vive. Elas são reais e os Portugueses, grande parte deles, sente isso. Do mesmo modo que os Portugueses também sabem o esforço do governo, até ao limite, para negociar a respetiva aprovação do Orçamento com este mesmo Partido Socialista.

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Quando John F. Kennedy começou a discursar diante de toda a comunidade académica da Universidade Rice, em Houston, Texas, o mundo inteiro esperava uma resposta: porque é que os Estados Unidos tinham decidido mobilizar todos os seus recursos financeiros, científicos e humanos para levar a Humanidade até à Lua? Em 1962, em plena Guerra Fria, o então presidente norte-americano apelou então ao compromisso de todos os seus concidadãos para abraçarem a ideia de explorar novas fronteiras como um objectivo colectivo: “Escolhemos ir não porque seja fácil, mas porque é difícil!”.

É também isso que os Portugueses esperam dos seus líderes políticos: convicção e capacidade de construção de um sentimento de possibilidade na resolução dos seus problemas. Governar é isso, resolver as dificuldades concretas das pessoas, e Luís Montenegro tem procurado fazê-lo.

Enquanto a novela sobre o futuro próximo do país se desenrola, “adia-se” o começo de uma outra, a das eleições autárquicas e que são também elas decisivas para o dia-a-dia da vida das comunidades locais.  E sobre estas não há dúvidas, serão entre setembro e outubro de 2025.

O PSD já anunciou que decisões sobre candidatos só para depois do Congresso, previsto para 19 e 20 deste mês, e do PS não há sinais públicos. Para a maioria dos cidadãos, o sentimento é de que as autárquicas estão num horizonte distante, mas quem está atento percebe que pelos concelhos fervilham iniciativas nas cúpulas dos partidos, e dos seus militantes, que procuram encontrar soluções. Verdade seja dita, uns mais preocupados em responder aos interesses do aparelho e outros à procura dos melhores candidatos, aqueles que melhor resolvam os desafios locais.

O concelho de Sintra, ao qual estive e estarei sempre ligado, merece a minha contínua atenção, dedicação e cuidado. Faço parte da sua história pública dos últimos 30 anos, observo a sua situação atual e olho para os desafios do futuro com profunda preocupação. O segundo maior concelho do país do ponto de vista populacional, associado ao mediatismo provocado pelo seu valioso património, tem gerado a tentação de se optar por candidatos mediáticos, de os importar, muito deles sem convicção, sem conhecimento da realidade da gestão municipal ou da vida das comunidades, e que na prática podiam fazer o frete aqui, ali e acolá. Já o escrevi, Sintra perdeu com isso e com isso tornou-se o concelho low cost da área metropolitana. No rendimento per capita, no tecido empresarial, nos níveis de frequência no ensino superior, na mobilidade, no saneamento básico, na higiene pública, e por aí fora, o concelho revela sinais preocupantes e derrapa todos os dias face aos municípios vizinhos. Para uma parte substancial dos sintrenses que aqui vivem ou trabalham o desânimo instalou-se. Estamos a um ano das eleições autárquicas. Há 3 anos foram escolhidos os atuais Presidentes de Câmara, dos quais 112 estão impossibilitados de se recandidatarem por imposição legal. Nos dois maiores partidos, serão 30 autarcas do PSD e 50 autarcas do PS, incluindo Sintra.

O ciclo liderado pelo Dr. Basílio Horta termina, faz hoje precisamente 3 anos que tomou posse para o seu último mandato,  e com isso cria-se a oportunidade para relançar o concelho, para lhe dar um destino diferente, ambicioso nas suas políticas de reordenamento do território e na qualificação da vida dos sintrenses e das suas famílias, que responda aos seus problemas concretos e que comece por aquilo que é simples e básico nas nossas vidas, o desejo de bem estar no espaço publico em que habitamos, nas escolas que os nossos filhos frequentam, nas unidades de saúde a que recorremos, nos circuitos que utilizamos na nossa vida diária, nos parques, jardins e praias que frequentamos, na oferta cultural abrangente, nas atividades económicas e associativas aqui desenvolvidas, e no ambiente que nos rodeia. Recuso-me a cair na tentação de dizer que nada foi feito, mas afirmo que foi insuficiente.

Tenho a profunda convicção de que apesar dos desafios imensos que a próxima gestão municipal tem pela frente, ainda não atingimos o ponto de não retorno. Fruto do frouxo investimento camarário, as contas municipais estão recheadas. A previsão é de que a autarquia disponha, no fim de 2025, de qualquer coisa como 3 centenas de milhões de euros. É preciso olhar para essa disponibilidade orçamental e dirigi-la para investimento concreto, para aquele que permita alterar o paradigma de um concelho assistencialista para um território promotor de desenvolvimento, para uma Câmara que cuide, mas sobretudo que estimule, que promova e que invista estrategicamente com vista a desbloquear os nós que hoje o amarram. É preciso libertar o concelho do conformismo e direi como em posterior artigo.

2025 está à porta, com mais ou menos Orçamento nacional pelo meio, as eleições autárquicas estão aí e a minha reflexão aponta para lá.