A instabilidade em Hong Kong não dá sinais de abrandamento e a sua duração já alcançou a do “movimento dos guarda-chuvas” de 2014. Mas desta vez a situação é diferente. Os jovens lutam desesperadamente para prevenir a opressão de um regime comunista tirânico que já começou a roubar-lhes a liberdade. As suas mensagens são claras quanto aos objectivos: “Os Céus irão destruir o Partido Comunista” e “Libertem Hong Kong”.
Porque é que os jovens receiam o Partido Comunista? O Observador publicou recentemente uma excelente peça sobre a situação em Hong Kong. Mas um artigo no “Journal of Democracy” do passado mês de Julho explica mais detalhadamente porquê.
A razão é o “dedo digital do Big Brother” que está instalado na China. A tirania chinesa controla o ciberespaço e manda prender quem nele lançar rumores “inapropriados”, perscruta minuciosamente todo os acessos e elimina ligações VPN que não autorizou. Mas pior ainda, o opressor chinês vigia a vida privada e pública de todos os chineses usando para isso tecnologias de vídeo vigilância, de reconhecimento facial e de voz, e de recolha e tratamento de ADN que o Ocidente lhe disponibilizou. Com base nesta informação faz um “ranking” de bom comportamento dos chineses (e dos estrangeiros que visitam a China). É isto que os jovens de Hong Kong receiam e que os de Macau parecem aceitar ou ignorar.
Não sabemos qual será o desfecho destes protestos mas a acreditar nas experiências do passado a dúvida é saber quando é que a China vai substituir o “dedo digital do Big Brother” pelo “punho-de-ferro” e esmagar os protestantes, impondo o mesmo controlo sobre a população de Hong Kong que hoje coloca sobre os chineses.
O desinteresse do Mundo ocidental é quase generalizado. Uns porque não querem colocar em risco potenciais investimentos, outros porque sendo a China um regime totalitário de esquerda não há que fazer ondas e o que se deve é criticar as políticas tarifárias de Trump.
Apesar disso, o Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas recebeu recentemente uma carta de 22 países a apelar ao fim da prisão e da lavagem cerebral em centros de reeducação que o regime chinês faz ao povo Uighur no Oeste do país. A maioria dos países desenvolvidos votou favoravelmente esta condenação. Portugal assinou? E porque é que isso passa totalmente despercebido?
A esquerda totalitária afirma-se cada vez mais como o grande perigo para a liberdade e para a democracia. Da China à Rússia, onde Putin procura a todo o custo restabelecer a estabilidade controlada do Comunismo, passando por Venezuela, por Cuba e por outras regiões do Mundo, os regimes ditatoriais de esquerda continuam a ser admirados no Mundo ocidental.
Em Portugal essa admiração é evidente e traduz-se pela presença no parlamento de três partidos anti-democráticos que lutam diariamente por limitar a liberdade dos portugueses. Com 15% dos deputados, estes partidos estão na expectativa de crescer em breve.
Só assim se pode explicar que ao mesmo tempo que em Hong Kong se protesta contra um acordo de extradição para a China, Macau, que já tinha assinado em Fevereiro passado um acordo com a China para a extradição de condenados (como escrevi aqui isso não é um problema em Macau), assinou também com Portugal um acordo para a entrega de infractores em fuga.
A Ordem dos Advogados levantou legítimas dúvidas sobre a legalidade e as consequências deste acordo assinado por Portugal, designadamente se estão garantidos os direitos dos condenados caso sejam transferidos para Macau. Mas continuamos sem saber se o perigo de enviar “desgraçados” para as garras de um regime autoritário existe ou não. Estamos em férias.
O texto reflecte apenas a opinião do autor
Economista