Ao contrário do que crêem os fanáticos da eutanásia, não há razão nenhuma para pensar que, de repente, os médicos de todo o país se meteriam a «eutanasiar» os doentes que lhes caiam na mão e mesmo que o fizessem, o que seria completamente idiota, não o diriam a ninguém. Estou absolutamente convencido que a pior coisa que um doente pode fazer é pedir ao médico que o «eutanasie». A lei que o PS quer impor ao país contra toda a evidência levará a generalidade dos médicos a dizer NÃO a tais pedidos contrários à sua ética e reputação.

O único sítio onde a eutanásia poderia vir a ser praticada seriam as «casas da morte» especializadas e pagas que um ou outro médico poderia abrir ao público. Nessa altura, tratar-se-ia menos de eutanásia hospitalar praticada em hospitais públicos do que desse «suicídio assistido» que vemos anunciado na internet por algumas raras figuras internacionais, conforme sucedeu com o cineasta Godard! Obviamente, tais «estabelecimentos» estariam fora do alcance do cidadão médio e não é certo que as seguradoras aceitassem esses poucos clientes!

Noutros países, que não os católicos, é possível que haja quem venha pedir aos médicos que lhes ponham fim à vida. Em Portugal, porém, tal prática colocaria a generalidade dos médicos numa situação extremamente embaraçosa, sobretudo nos hospitais públicos. Só faltava pôr um cartaz dizendo: «AQUI FAZEM-SE EUTANÁSIAS»! Quem visse isso fugia, como efectivamente fugirá para a «privada», mesmo sem cartazes afugentadores, se porventura instituições portuguesas como o Presidente da República e o Tribunal Constitucional acedessem ao absurdo fanatismo do PS alguns deputados.

Em Espanha, acaba de se passar o primeiro ano da lamentável experiência de «liberalizar» a eutanásia. Ora, a prova da pretensa relevância do fenómeno terá sido o caso de 800 pessoas em perto de meio-milhão de óbitos anuais: nem um por cento. Não foi por acaso que o PS afastou imediatamente a ideia de realizar um referendo que perderia, como já perdeu o da «regionalização». Por piores razões ainda, o parlamento português nunca referendou a entrada de Portugal na «Comissão Europeia» nem, posteriormente, a adesão cega ao «euro», a qual faz hoje com que Portugal venha baixando sistematicamente na escala da UE, enquanto a cidadania continua excluída de referendar a Constituição e as suas alterações, bem como os tratados europeus.

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A questão dos referendos, esses e outros, tem vindo a tornar-se cada vez mais evitada e é manifesta a prática do PS pretender impor novas regras fugindo a referendá-las agora que diz ter a «maioria absoluta». Aliás, 41% de votos podem ter dado uma maioria de deputados manipulada pela lei eleitoral mas não são a maioria dos votantes. Por outro lado, se é certo que hoje em dia o PCP vem perdendo importância, nem por isso deixa de ser relevante que seja contra a ideia de permitir a prática pública da eutanásia no SNS, o qual já está no estado em que está e que todos os dias vê perder doentes para a «privada», para não esquecer o respeito formal que o PCP sempre teve em relação à Igreja e ao eleitorado católico!

Além disso, a promoção da chamada «morte assistida» é muito mais ambígua do que pode parecer quando se chora o sofrimento por que passam os pacientes em estado de doença mortal. Com efeito, tal situação é muito menos óbvia em alguns casos do que pode parecer, o que impede os médicos de aliviar o sofrimento dos doentes para além de certa medida. Acresce que muitos doentes mortais não estão em condições de decidir pedir ou deixar de pedir a «eutanásia» ao médico. Nestes casos, a família do doente poderá intervir no sentido de o médico pôr termo ao sofrimento, vindo porém a revelar-se demasiado tarde que tal «sugestão» não era isenta de interesses… Este tipo de situação até pode tornar-se altamente embaraçosa para os médicos, o que faz com certeza que estes ignorem tais «pedidos»! Não seria a primeira vez que tal veio a revelar-se…

A concluir esta discussão sem fim cujos riscos éticos, profissionais e até económicos são, por assim dizer, infinitos, é absolutamente inaceitável tratar a questão da chamada «morte assistida» da mesma maneira que se faz propaganda da cartilha ideológica na moda. Com efeito, não é por acaso que a eutanásia é permitida em muito poucos países e que a promessa feita aos moribundos não passa de um tipo de salvação ideológica perante aquilo que se passa diariamente no silêncio dos hospitais sob a nobre e árdua actividade dos médicos e dos profissionais de saúde, que por princípio só não salvam quem já não pode ser salvo. Se o actual governo pretendesse mesmo intervir de forma positiva numa matéria tão séria como as doenças mortais, então investiria nos cuidados intensivos que não financiou em vez de tentar impor-nos a ideologia da moda.