Tomem lá uma anedota para descontrair. Conhecem a do cigano, do cavalo e da deputada municipal do PAN na Moita? É gira: a senhora do PAN criticou os maus-tratos dispensados aos cavalos por parte dos ciganos da região. A assembleia acusou a senhora de “xenofobia”. O PAN forçou-a a demitir-se. Os ciganos continuam a sobrecarregar os cavalos de trabalho e pancada. Os cavalos continuam a sofrer. O PAN continua a ser o partido que defende os bichos. E, desde que inspire uma boa indignação, a xenofobia tem costas largas.

Parecendo que não, até por causa do significado das palavras e doutras minudências, sempre é preferível que a xenofobia diga respeito à aversão a estrangeiros, e que os crimes não se castiguem ou perdoem de acordo com a “etnia” dos perpetradores. Os crimes variam. Os estrangeiros são os do costume. Chegam aí exaustos, desorientados, vindos de lugares remotos, exprimem-se em línguas diferentes, vestem roupas esquisitas, exibem costumes estranhos, interpelam transeuntes com pedidos inconvenientes, atafulham ruas e pracetas, vêem-se frequentemente explorados por gente sem escrúpulos e, de brinde, acabam insultados onde calha. Falo, é claro, dos turistas.

Há dias, a propósito do São João no Porto, o “Público” publicou um artigo acerca do São João no Porto. É um artigo preguiçoso e mal escrito, sem função ou tema, que se resume a meia dúzia de depoimentos de feirantes em volta das vendas e da “tradição”. Entre os feirantes, um vendedor de “pipocas vermelho garrido” queixa-se das modernices e, em particular, do turismo. O “Público” aproveitou a deixa e elevou o drama a título: “O São João do Porto já não é o que era? ‘Há turistas a mais’”.

Não importa que deixem dinheiro. Não importa que criem emprego. Não importa que façam a exacta figura que fazemos quando visitamos os países deles. Para boa parte da esquerda, uns pedaços da “direita” e inúmeros indecisos, os turistas constituem uma praga atentatória da “vida portuguesa”, a erradicar com urgência. Além disso, promovem um milagre: em tempos de ofensa fácil e vigilância apertada, os turistas concedem-nos a liberdade de ofender forasteiros com uma violência que o PNR não ousaria dedicar a refugiados sírios. E, ao contrário do que agora é moda, sem aborrecimentos profissionais, morais ou legais. Para cúmulo, o ódio aos turistas encontra um alvo, ou cinco, literalmente em cada esquina, enquanto o ódio do PNR a refugiados e afins se vê à rasca para descobrir destinatários (excepto, talvez, nos aeroportos, a caminho da Europa que lhes interessa). Aliás, convém evitar quaisquer confusões com sentimentos de intolerância: se o sr. Trump não permite que as populações integrais da Guatemala, El Salvador, Nicarágua e México penetrem confortavelmente o Texas, o sr. Trump é fascista. Se desejarmos enxotar 17 alemães do Chiado, somos patriotas. Em suma, descontados os que chegam na penúria, que servem a demagogia e o escarcéu, os estrangeiros são essencialmente desprezíveis e, em prol da higiene pública, reclamam a acção das autoridades.

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A boa notícia é que as autoridades já começaram a agir. Na pequena escala, multiplicam as taxas, as taxinhas, os regulamentos, as restrições, as coimas e o geral inferno burocrático que, grão a grão, transformam as actividades ligadas ao turismo em suplícios que indivíduo algum suportará. Ao nível “macro” (perdão), temos os benefícios fiscais ou os 6500 euros que o Estado oferece aos emigrantes que regressem à terrinha e contribuam para diluir a sujidade turística e afinar a pureza da “portugalidade”. Apenas se estranha um pouco que, dado o fulgurante sucesso económico dos drs. Costa e Centeno, os emigrantes necessitem de incentivo material para voltar aqui. A acreditar nos peritos amestrados do governo, a pujança de Portugal é tanta que os outrora foragidos da “troika” deviam esgadanhar-se para alcançar Vilar Formoso. Pelos vistos, não se esgadanham. E nem os incentivos convencem esses traidores.

Felizmente, há excepções. Decerto desiludido com a fraca resposta dos emigrantes indiferenciados, o governo passou a apostar no regresso dos especializados. Em particular, os funcionários do Estado Islâmico. É uma ideia radiosa, a de recuperar “jihadistas” em fase indefinida das respectivas carreiras. Trata-se de trabalhadores altamente motivados, assíduos e dotados de competências raras nos sectores dos rebentamentos e das decapitações. É verdade que não são muitos. Mas são muito empenhados e propensos a provocar impacto junto dos que os rodeiam. Um único terrorista (certificado) é capaz de, sozinho, eliminar directamente dezenas de turistas e indirectamente afugentar milhares.

Portugal para os portugueses, pois – mesmo porque nenhum estrangeiro mentalmente equilibrado aguentaria isto mais do que um fim-de-semana. A apatia perante os selvagens que mandam no país não é para todos os paladares. O que está a acontecer no prédio Coutinho, que deliberadamente não invoquei para não chamar os selvagens pelo seu autêntico nome, é um reles, bastante reles, exemplo do que acontece diária, impune e discretamente entre o poder e um povo que se quer orgulhosamente só. É uma sorte: um povo assim orgulhoso de enxovalhos seria péssima companhia.