Sou daquelas pessoas que gosta de fazer anos. Gosto que me deem os parabéns, de ouvir vozes, pessoalmente ou transportadas por telefonemas. Bem sei que os padrões de comunicação mudaram na era da digitalização, e eu sou uma entusiasta da comunicação digital, mas não para determinadas circunstâncias, como é a do aniversário. Não gosto de ser parabenizada por WhatsApp ou outras redes sociais, com mensagens padronizadas sugeridas por inteligência artificial.
Sou da velha guarda, “incomodem-me de viva-voz” que eu fico feliz. Fico feliz por terem algum minuto do dia para partilharem comigo, e não me assola nenhuma desilusão se não tiverem esse tempo. É a vida e cada um tem os seus afazeres, o que compreendo (umas vezes mais do que outras). Acima de tudo, prefiro a ausência de um contacto sem consciência humana à leitura de palavras que resultaram de um mero “clique”. Está tudo bem: deixem-me gostar do que gosto, e não do que se espera que prefira por uma questão de conveniência de terceiros ou de modas.
Continuo a acreditar que nutrir afetos só é possível se cultivarmos e fortalecermos os laços emocionais e os relacionamentos com as pessoas escolhidas, e isso requer esforço e tempo. Meios estes que escasseiam cada vez mais, preteridos por soluções estandardizadas e imediatistas
Não meço a qualidade das minhas relações por likes, seguidores, “conexões, nem tão pouco pela quantidade de toques do meu telefone, mas pela forma de consagração a um propósito maior chamado amizade.
Daqui a dois dias faço anos, o primeiro aniversário órfão de avós com quem aprendi, também, o fundamental significado da proximidade, e quero hoje contar-vos duas breves histórias que ilustram o que falo:
- O meu avô paterno faleceu há uns alguns anos. As cerimónias fúnebres realizaram-se na Beira Baixa. No dia do funeral o condutor do carro que seguia atrás de mim apita e acena. Era um dos meus grandes amigos. Comentei com a minha tia como era possível ele ali estar, num dia de trabalho, sendo que por princípio não participa de cerimónias desta índole. “Este rapaz esteve também ontem à noite à porta da Igreja – não disse nada porque não o reconheci”. Quando saí do funeral ele estava à porta do cemitério. Recebeu-me com um sorriso e disse: vim só buscar-te para comermos um gelado. Na altura cada um já tinha um Nokia.
- Este ano foi a vez da minha avó partir. Vicissitudes de mãe não permitiram que acompanhasse o meu pai como queria, e a preocupação de o saber sem mim apertava-me ainda mais o peito. Um telefonema dele descansou-me: os teus amigos estiveram cá, mas desencontramo-nos. Ligaram-me agora para vir aqui ao hotel fazer-me companhia. Agora já todos temos iPhones.
Em momentos de felicidade e em momentos de tristeza, a ligação humana, autêntica, que acresce verdade às relações interpessoais em contraste com a conveniência das interações digitais merece sempre os parabéns. Mensagens padronizadas e manifestações automática há muitas. Escolham bem em que circunstâncias, e com quem, querem investir tempo e esforço.