INAPA cheia de dívida e com Parpública e banca como acionistas
Quem olhasse para o capital da INAPA por volta de 2015 e anos seguintes via rapidamente sinais de alerta. O capital desta era maioritariamente ocupado pelo Estado e bancos. Ou seja, notava-se que uma boa parte de dívida já tinha sido convertida em capital no passado.

BCP (cujo fundo de pensões chegou a deter praticamente 20% da INAPA), CGD e Novo Banco eram acionistas qualificados. Destes 3 bancos, só o Novo Banco acabou entalado com a falência da INAPA. Pelo menos, enquanto acionistas, já que falta saber se o processo de insolvência atual também afetará alguma dívida que estas entidades tenham concedido à INAPA.

2018/2019: All-in da Parpública e o negócio Alemão
Os anos de 2018/2019 foram dos mais importantes para esta história, já que foi quando a INAPA comprou a subsidiária alemã que originou a sua falência. Esta compra implicou a emissão de obrigações convertíveis em ações, que podiam permitir que o vendedor ficasse com até 23% de capital da INAPA, em caso de incumprimento.

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Sendo que, os mais de 5% de taxa de juro que estavam associados a essa operação sinalizavam bem o risco que era confiar na INAPA. 5% até é pouco no contexto atual, mas em 2019 a taxa diretora dos bancos centrais andava pelos 0%, vemos bem o prémio de risco que foi necessário.

Neste ano, A CGD vendeu a sua participação ao Estado, mostrando que os gestores competentes e bem remunerados do banco público souberam livrar-se de um problema. Pena é que não o tenham conseguido fazer sair da alçada pública. Ao vender a INAPA à Parpública tudo continuou em mãos do Estado, não evitando o risco de nos queimar com a falência dos seus negócios.

Também o BCP conseguiu a muito custo desfazer-se de uma participação de quase 29% no capital da distribuidora de papel. Para tal, aproveitou o período de recuperação do negócio que falo de seguida.

Sinais de recuperação nos negócios
Curiosamente a pandemia de Covid-19 até beneficiou a empresa, sendo nesta fase em que registou uma significativa diminuição da dívida. A adoção de softwares de gestão de apoio à restruturação da atividade pareciam estar a levar a INAPA ao caminho da recuperação.

Em 2022, e por efeito da expressiva subida do preço da pasta de papel a nível global, que permitiu fazer com que as margens aumentassem muito, a INAPA chegou mesmo a ter um resultado líquido de 18 milhões de euros positivos. Embora seja um resultado escasso para uma empresa que faturou mais de mil milhões de euros nesse ano, este resultado fez a cotação da empresa em bolsa subir quase 300%, atraindo capital que permitiu ao BCP vender toda a sua posição em bolsa.

Contudo, 2023 acabou com as expectativas de recuperação. Percebeu-se que o incremento de faturação nos anos anteriores esteve relacionado com uma política dos clientes criarem stocks adicionais. Este efeito extraordinário do período pandêmico ajudou a que alguns especuladores decidissem comprar ações da INAPA e se encontrem atualmente entalados.

A falta de rumo da gestão INAPA que conduziu à falência

A gestão da INAPA nunca pareceu ter um rumo muito certo, sendo a compra da francesa LOOS (na área da comunicação visual), ao mesmo tempo que vendia centros logísticos em Espanha e se mudava para Sintra, um exemplo de que a estabilidade não era um valor central da empresa.

A dificuldade em definir um rumo foi agravada pelo posicionamento num setor em decrescimento, visto que o processo de desmaterialização das economias globais levou à descida do consumo de papel em formato tradicional. Por outro lado, com a recente subida em flecha das taxas de juro ao nível global, a INAPA ficou numa situação em que qualquer necessidade de capital seria um problema, visto que já devia mais de 200 M€.

Embora o valor da dívida líquida tenha vindo a diminuir nos últimos anos, a velha tese de Warren Buffett de que é nos momentos de crise que se vê quem anda a nadar nu mostrou-se novamente válida.

A falência com a passividade da Parpública
Na altura mais decisiva Estado revelou-se o pior dos acionistas. Visto que a Parpública (empresa que gere as participações do Estado português) demorou 35 dias a informar o governo. Em situações de crise, a capacidade de responder de forma diligente e flexível mostra-se fundamental para conseguir salvar negócios. Tudo o que o Estado não é portanto…

José Realinho de Matos não pode continuar a dirigir a Parpública! Demorou demasiado tempo a pegar no telefone e informar o governo, contribuindo para que não fosse possível encontrar uma solução em tempo útil.

A lição a retirar desta história é a de que quando o Estado entra numa empresa sem plano de saída vamos acabar todos a perder. Assim, o mais sensato é evitar que o Estado se meta nas empresas. Logo, a Falência da INAPA deve ficar na nossa memória para evitar que continuemos a colocar a Parpública em posição de queimar dinheiro e negócios.