Num vídeo que por aí anda, Noa Tishby, actriz, modelo e directora israelita, entrevista jovens manifestantes numa concentração pela “causa palestiniana”, e a favor de um cessar-fogo. A manifestação em causa teve lugar nos últimos dias de Janeiro, no Sundance Film Festival, Utah, e é representativa das manifestações similares que temos visto em várias cidades da Europa e América do Norte.
Os manifestantes debitam slogans a plenos pulmões, aparentemente muito convictos e indignados. “Palestina will be free, from the river to the sea”, ouve-se urbi et orbi, e lê-se em vários cartazes. Que rio e que mar?, pergunta a entrevistadora?
Um deles adopta instantaneamente a expressão envergonhada de uma criança apanhada a roubar rebuçados do boião: “Ahhh… esqueci o nome do rio, mas o mar é o Vermelho”. A ignorância fica exposta: na verdade o rio é o Jordão e o mar é o Mediterrâneo. A terra entre os dois é Israel, pelo que este slogan advoga explicitamente a destruição de Israel. O rapaz não se detêm, jura que a “ocupação é ilegal” e que os israelitas não deixam sequer entrar chocolate e vestidos de noiva em Gaza. Termina dizendo que Israel devia ser “dissolvido”.
Uma jovem de capucho vermelho, empunhando um cartaz, responde, com ar comprometido, que se trata do Mar Negro e o rio é “do outro lado de Gaza”. Basta olhar para um mapa para perceber que não há nenhum rio “do outro lado de Gaza” e que o Mar Negro é muito, muito para Norte. O cartaz? Não sabe do conteúdo, foi alguém que lho deu para empunhar. Mas enfatiza que apoia a libertação do território entre o Mar Negro e o rio do outro lado de Gaza. Da “ocupação”, faz questão de sublinhar, novamente afoita. Parece satisfeita. Turcos, sírios, libaneses e israelitas, provavelmente também, pela oportunidade de uma boa gargalhada
Sobre as violações de judias no 07 de Outubro, diz que ouviu umas coisas mas que nada está confirmado. Outra interrompe uma rajada de slogans sobre genocídio para responder à pergunta da jornalista sobre uns tais reféns do Hamas. Diz que não sabe nada sobre isso mas que a “ocupação é ilegal”.
Uma mulher madura, com idade para ter juízo, extremamente indignada e aparentemente sob a influência de substâncias retardantes, garante que é genocídio e que o Hamas nem sequer está em Gaza, mas sim os judeus. Não sabe se há reféns em Gaza. Nem quer saber, presume-se! A excitada manifestante, atrás de um cartaz gigantesco, foge às respostas berrando freneticamente “cessar-fogo, já”, tal como uma devota beata foge de ouvir blasfémias, repetindo com fervor uma litania.
E fazendo por ignorar que a sua “exigência” é justamente o que pretende neste momento o Hamas, o Irão e a constelação de terroristas que têm como objectivo a destruição de Israel e a morte dos judeus. Faz sentido para o Irão e o Hamas “exigirem” agora um cessar-fogo, já que o fogo não está a correr nada bem, mas ausência de fogo era exactamente o que havia no dia 6 de Outubro. Se era isso que queriam, porque desencadearam o fogo no dia 7 de Outubro?
A manifestante não quer cansar os neurónios com tais perplexidades, recitar slogans é muito mais fácil! Pausa para rir…ou chorar!
Fora da bolha de ignorância desta gente, no mundo real, a 7 de Outubro de 2023, o Hamas invadiu Israel e perpetrou um rol de atrocidades, só possíveis se os indivíduos que as cometeram estivessem sob o efeito de pesadas doses de ódio ou de certas substâncias psicoactivas, já que não é crível que todos fossem sociopatas. Matar crianças a sangue frio e a olhar para elas, não é algo que um ser humano normal faça, sem pestanejar.
O horror ficou amplamente documentado, não apenas pelas vítimas, forças de segurança israelitas, e vários grupos que visitaram os locais, mas pelos próprios terroristas do Hamas, alguns dos quais “jornalistas”, correspondentes locais de vários media ocidentais, funcionários locais de agências da ONU (da UNRWA, por exemplo), etc. Os seus telemóveis e câmaras registaram a carnificina com todos os detalhes. Foi tudo minuciosamente registado, com a finalidade estratégica de amplificar o terror.
Não há como negar a brutalidade e a escala dos ataques e sequestros, o Hamas fez questão de postar essas imagens no seu site, com assinalável orgulho. As imagens de uma jovem violada e ensanguentada, agarrada pelos cabelos e forçada a entrar numa viatura de terroristas, correu mundo. O cadáver seminu de outra, alvo das cuspidelas dos espectadores, atirado para a caixa de uma camioneta e levado para Gaza, também foi amplamente visto.
A decapitação à pazada, de um trabalhador asiático, foi censurada por muitas televisões, mas esteve sempre disponível para quem teve estômago para a ver. Como milhares de outras. Tudo isto, mais as imagens e testemunhos dos reféns e sobreviventes, não deixam dúvidas do que se passou. Quase 1500 mortos, a maioria a sangue frio, e quase 240 judeus sequestrados, entre os quais bebés de colo, crianças, idosos e mulheres.
E, no entanto, inacreditavelmente, apesar de todas as evidências, há quem relativize e até negue.
Um crescente número de cidadãos das democracias, nomeadamente jovens, desconhece ou enviesa os factos puros e duros. Alguns argumentam que tudo foi encenado pelos israelitas para justificar uma invasão de Gaza, e que os reféns foram sequestrados por…. Israel! Alguns acham que se trata de um plano dos EUA, na verdade há sempre quem ache que há sempre um plano dos EUA, por detrás de tudo o que se passa no planeta e arredores. Chomsky fez escola!
Esta gente é diversa e perpassa transversalmente toda a sociedade. Desde neonazis a islamistas, passando por esquerdistas antirracistas, putinistas, alegados “amantes da paz”, idiotas vários, teóricos da conspiração e antissemitas de todos os quadrantes e etiologias. O que os une é o ódio ao judeu, agora cristalizado no “judeu” do Sistema Internacional: Israel!
A teoria da conspiração não é, claro, novidade. Para os que sofrem deste transtorno paranoide, os judeus são os culpados de tudo, controlam o mundo, manipulam os políticos, nada é o que parece e não se pode acreditar em nada do que venha de uma fonte oficial, incluindo governos e media ocidentais. Mas, paradoxalmente, estes intrépidos cépticos, acreditam em tudo o que venha directamente de grupos terroristas, imprensa de estados ditatoriais e histórias mirabolantes que circulam nas redes sociais.
Para estas criaturas, há sempre uma razão alternativa e rebuscada para qualquer evento significativo, como 11/9, a ida à Lua, o Holocausto, os rastos dos aviões, o 7 de outubro, etc.
A ignorância é o oxigénio destas narrativas. É gente que já não lê livros, ou sequer textos com mais de três linhas. A “informação” de que precisam para tentarem compreender o mundo que os rodeia, é captado em duas linhas do X, slogans simples, e pequenos vídeos do TikTok.
São estes tolos ignorantes, crédulos e superficiais que fazem o espírito do tempo, presas fáceis dos activistas das “causas”, condenados a ver o mundo em termos binários, bem versus mal; preto vs branco; opressor vs oprimido, “sionistas maus” vs “palestinianos bons”.
É esta a narrativa distorcida que aplicam ao 7 de outubro. Sem o manto blindado da ignorância, como argumentar que o Hamas, cuja brutalidade foi tão ostensiva e chocante, não é o “mau”, ou nem sequer existe em Gaza?
Alguns argumentam que a culpa é da “opressão” e que o Hamas e seus seguidores têm o direito de resistir por qualquer meio. Estes admitem com algum esforço as atrocidades de 7 de outubro, mas culpam Israel por fazê-las recair sobre si mesmo. É como culpar uma mulher violada da violação de que foi vítima, porque não tinha nada que ser atraente e vestir-se ou andar assim, a provocar.
Foi isto que fez António Guterres, ao relativizar o massacre levado a cabo pelo Hamas! É isto que faz ao adoptar constantemente os pontos de vista do Hamas e ao relativizar e desculpar os claros crimes cometidos e/ou ocultados pela UNRWA, uma organização funcionalmente capturada pelo Hamas, sobre a qual tem autoridade e responsabilidade. De que outra forma se poderia argumentar que um grupo que tortura, assassina e sequestra brutalmente civis inocentes, incluindo mulheres idosas e crianças pequenas, é afinal dos “bons”?
Para o Hamas, este tipo de idiotas é ouro sobre azul. Sem claridade moral para assimilar informações diversas, os idiotas úteis recitam alegremente slogans e cânticos antissemitas, sem terem a mínima ideia do que realmente significam.
“Palestina free, from the river to the sea”, é o exemplo acabado. As criaturas que se têm juntado às manifestações de apoio ao Hamas e à “causa palestiniana” papagueiam-no de forma acéfala, sem suspeitarem que ele preconiza, preto no branco, a destruição de Israel e limpeza étnica dos judeus. Quando questionados, a exibição de ignorância é perturbadora.
É verdade que muitos dos que apoiam o Hamas e a “causa palestiniana”, se refastelam na clássica atitude de rebanho. E no conforto da manada, verbalizam, sem escrúpulos ou vergonha, o seu antissemitismo. A maioria dos manifestantes argumentará, obviamente, que não é contra os judeus em si, mas apenas contra as políticas de Israel, pelas suas acções “desproporcionadas” contra os “palestinianos pobres e inocentes”. Desses, a esmagadora maioria não conseguirá responder, se for questionada, por que razão só as políticas de Israel, um entre quase 200 estados do mundo, e um dos mais pequenos (tem o tamanho do Alentejo), lhe suscita tais paixões, e não o que se passa com o povo norte-coreano, russo, sírio, iraniano, afegão, e o de numerosas regiões e países onde a guerra, a fome, e a repressão, são o pão nosso de cada dia e servidas em doses bem generosas.
Para estes entusiastas da “causa palestiniana”, o 7 de outubro não conta para nada, nada daquilo importa, se calhar nem aconteceu, e se aconteceu, foi legítima “resistência “ dos bons, o Hamas, contra os maus, os judeus, a “ocupação”!
Qual ocupação?, pode-se perguntar. Gaza estava ocupada, a 06 de Outubro? Jurarão que sim, nem chocolate, berrava o jovem do vídeo. Toneladas de cimento, bombas e mísseis, sim, mas não chocolate…nem vestidos de casamento.
Não é provável que quando decidiu o massacre, o Hamas tenha antecipado esta estranha reacção antissemita de milhares de ocidentais, mas o facto é que rapidamente se apercebeu e adaptou a sua própria narrativa.
O seu recente relatório sobre o 7 de Outubro, apropriadamente designado de “Nossa Narrativa”, tem 16 páginas de completo descaramento. O Hamas escreve que “Se houve alguns casos de ataques a civis, foram apenas acidentais, no confronto com as forças de ocupação”. São 16 páginas de ostensivas mentiras, susceptíveis de enfurecer qualquer pessoa medianamente informada. E contudo, milhares de pessoas no Ocidente, engolem tudo sem mastigar e regurgitam pedaços inteiros sem digerir.
Os terroristas do Hamas, quais flautistas de Hamelin, não pode deixar de se maravilhar perante a facilidade com que levam atrás de si esta imensa quantidade de tolos que se consideram informados.
Há mais de 100 anos, Ortega y Gasset (A Rebelião das Massas) profetizava este fenómeno, de massas ignaras, arrogantes na sua ignorância e que não suspeitam de si mesmas. Como chegámos a isto?