Bem, grande estreia para a CNN Portugal, logo com uma entrevista ao fugitivo João Rendeiro. Não sei se a CNN saiu vitoriosa em termos de audiências, mas acredito que tenha ficado tudo especado enquanto o ex-banqueiro falava. Olha, mais ou menos como as autoridades portuguesas ficaram enquanto o ex-banqueiro se escapulia para destino incerto, excepto que é certo não ser o Belize.

Convenhamos que a entrevista a João Rendeiro foi um grande furo. E não só. A aparição de Rendeiro na CNN fez mesmo o pleno ao nível da bricolage. Pode dizer-se que foi uma entrevista Leroy Merlin. É que, além de um furo, foi também um prego. Nomeadamente, mais um prego no caixão da credibilidade da justiça portuguesa, que não há forma de descobrir o paradeiro do homem. Quando ele até dá pistas, e das boas. Portanto, no Belize sabemos que não está. E no sítio onde se encontra diz fazer uma vida “perfeitamente normal” e haver “ginásio, praia e restaurantes. Hum… O meu palpite é que o Rendeiro está na Costa da Caparica.

A verdade é que este arranque da CNN Portugal, em conversa com um criminoso a quem ninguém deita a mão, deixa a fasquia muito alta para outros canais de notícias que queiram vir para Portugal. Imagino que se, por exemplo, a Fox News estiver a planear abrir uma sucursal no nosso país, tenha de pedalar muito para almejar este tipo de impacto. Não sei, mas é possível que os donos da Fox News tenham na calha, como chamariz para o dia do eventual lançamento, para aí uma entrevista ao Jack, o Estripador, ou assim.

O que interessa é que temos a CNN em Portugal. E como não podia deixar de ser, a ocasião prestou-se a que engraçadinhos alvitrassem parvoíces do calibre de um: “O quê, a CNN está em Portugal? Ah! Por isso é que nos Estados Unidos já ninguém a vê”; ou “A CNN chegou a Portugal! Vês como é estúpido dizer que as coisas que há na América demoram vinte anos a chegar cá? São quarenta anos, não são vinte.” Enfim, lamentável.

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Até porque o arranque da CNN, comandado por Judite de Sousa, correu muito bem. A jornalista esteve impecável. Nomeadamente em termos de escolha do penteado, que se revelou uma óptima opção para a estreia da CNN. Da CNN norte-americana, que estreou em 1980, bem entendido. Que eu não percebo muito de cabelos, mas era capaz de jurar que o Limahl, o intérprete do imorredoiro “Never Ending Story” de 1984, usava um corte de cabelo bastante semelhante àquele da Judite de Sousa.

Mas, calma, posso estar completamente enganado. Não em relação às semelhanças capilares entre Judite de Sousa e Limahl, que me parecem indiscutíveis, mas quanto ao facto de o penteado da jornalista ter sido uma opção sua. Pode perfeitamente ter-se dado o caso – como é normal suceder nestes projectos que ainda estão a ser ultimados, tipo CNN Portugal – da pivô ter raspado uma perna num cabo descarnado de uma tomada ainda por instalar e a descarga eléctrica ter provocado todo aquele desgrenhe. Não é impossível.

Impossível seria não assinalar a forte aposta da CNN Portugal no humor. É verdade, consta que, todas as semanas, seremos brindados com uma crónica de Luís Costa Ribas, correspondente nos Estados Unidos na América. E no seu primeiro contributo, indigna-se Costa Ribas: “A Constituição [americana]a cada estado o direito de gerir as eleições no seu território. Ui, o horror! Ai, a desgraça de cada estado governar-se como entender! Para, mais à frente, alertar para “o papel nefasto de um Supremo Tribunal (…) sem sintonia com a maioria do país e à sombra do qual se abriga uma corrente preconizando que, de acordo com a Constituição, os Estados Unidos são uma república, mas não necessariamente uma democracia” Ui, o perigo de estar consciente das limitações da democracia! Ai, a desgraça de querer evitar ditaduras da maioria! Eh pá, sinceramente. Se isto é um jornalista, eu sou um Rendeiro. Que não sou, atenção. Apesar de também não estar no Belize.