Impacto dos preços da energia, dos transportes, aumentos de preços de bens essenciais, nomeadamente nos cereais, inflação… têm estado nas capas de jornais e são preocupação da maioria das empresas e especificamente das PME, que são a grande maioria do nosso tecido empresarial.
A situação da maioria das microempresas e PME já não era fantástica. Depois da pandemia já se anteviam impactos, nomeadamente no que diz respeito ao aumento da inflação (que já se refletia em todas as prateleiras em fevereiro deste ano). Percebia-se o efeito dos problemas logísticos que levavam a atrasos nas entregas de mercadorias e enorme aumento de preços de transportes (com aumentos de mais de 600% no valor dos contentores). Percebia-se também problemas com recursos humanos – dificuldade em recrutar mão de obra, mais ou menos especializada, e desafios acrescidos em adaptar uma parte da população que estava em teletrabalho à nova realidade do trabalho presencial.
Eis senão quando, acrescido a tudo isto, a guerra na Ucrânia traz ainda mais incerteza em todos estes aspetos – energia, cereais, transportes, inflação, pessoas. As empresas, e principalmente as PME, numa situação já fragilizada, passaram a focar-se ainda mais em fazer sobreviver o negócio e não em geri-lo. Um barco em que o capitão está tão preocupado com o manuseamento do remo e do leme que não tem a perceção para onde o barco está a ir… e devia… fazendo das tripas, coração. Caso contrário, afunda mesmo.
O que tenho vindo a notar são as empresas focadas nesta sobrevivência e a estarem totalmente alheias (embora não o admitam) a alguns problemas que estão mesmo ao virar da esquina. Senão, vejamos:
Taxas de juro
Não é uma estimativa minha mas uma estimativa dos principais centros de estudos económicos que se espera um aumento da taxa de inflação.
As empresas que já estão debaixo de água vão estar numa situação pior ainda. As que ainda “só” estão em stress têm de se preparar. E como? Avaliar a sua verdadeira situação. Avaliar as opções, renegociar as suas dívidas, criar acordos e evitar entrar em situações de incumprimento, o que tornaria a situação bastante mais grave. Calcular antecipadamente qual será o impacto deste aumento de taxas de juro permite-lhes preparar o fluxo de caixa para sobreviver no curto prazo sem destruir o longo prazo.
Ciber-segurança
Já não era um tema que fosse prioridade da maioria das mesas da administração das PME, mas, pensemos, como sobreviveria a nossa empresa se tivesse “apenas” uma semana sem o seu sistema operativo? Ou “apenas” uma semana em que perderiam toda a informação das caixas de e-mail?
Foram notícia os ataques a empresas como a Vodafone e a Impresa mas vai acontecer nas pequenas também. E, pior, onde não existe o músculo financeiro para sobreviver a estes ataques.
Equipa
Ineficiência da gestão de pessoas é um custo incomportável para qualquer empresa. Principalmente em momentos de crise. Há que alinhar as expectativas da equipa e desenvolver competências. Há que ter a equipa toda a remar para o mesmo objetivo. A comunicação tem de ser direta e assertiva. A formação de competências tem de ser prática, relevante e focada. Não há tempo, nem dinheiro para ser de outra forma. E no fim, a equipa vai agradecer.
Cadeia de valor
Se a vida na sua empresa não está fácil, a dos fornecedores e clientes também não. Há que perceber onde estão as maiores dificuldades. Criar parcerias e de uma forma global conseguir boas soluções.
Novos modelos de negócio
A criatividade e capacidade de inovar foi o que sempre salvou Portugal de situações de crise. Sempre foi assim. Tornar os negócios mais ágeis, mais flexíveis, encontrar novas formas de captar clientes, percebendo quais as suas necessidades e desejo e entregando-lhes valor.
Cada empresa é única, cada caso é um caso, mas gerir nos dias de hoje é encontrar a determinação ucraniana que há dentro de cada um de nós.