Expressões como valorização do interior ou coesão territorial são, aos dias de hoje, chavões muito apreciados pelo tecido político. Na hora da verdade, são as populações do interior os maiores prejudicados por políticas que não as servem, seja em infraestruturas, serviços ou na procura por combater a desertificação e o isolamento. Ainda assim há uma solução que seria um impulso regional e uma oportunidade nacional: a utilização regular do Aeroporto de Beja.
Corria o ano de 1960 quando Franz Josef Strauss, então ministro da Defesa da República Federal alemã, visitava Portugal para assinar o acordo que permitia a instalação de uma unidade militar deste país em Beja, no Alentejo. O facto de se situar a 150 km de distância tanto de Faro como de Lisboa, foi um fator crucial para a escolha daquele local como base aérea da Luftwaffe, a Força Aérea alemã. Posteriormente, em 1993, com a partida dos alemães, a base passou a operar apenas com unidades portuguesas. Atendendo ao potencial da mesma, foi prevista a utilização para fins civis sendo que em 2000 foi criada a EBAD – Empresa de Desenvolvimento do Aeroporto de Beja com o objetivo de construir as infraestruturas necessárias para fins civis. Apresentando o preâmbulo, coloca-se a pergunta: afinal porque é que é tão óbvia e essencial a utilização deste aeroporto?
Há três tipos de pessoas favoráveis ao aeroporto de Beja: aqueles que o defendem como aeroporto de passageiros, aqueles que o defendem como aeroporto de carga e aqueles que o defendem porque reconhecem no Alentejo um potencial que seria alcançado com tamanha infraestrutura a funcionar. Gosto de acreditar que me insiro nos três tipos. Passo a explicar.
Em primeiro lugar, os alemães identificaram há 60 anos um fator intemporal: Beja encontra-se a 150 km de Faro e de Lisboa e ainda a uma distância próxima dos portos de Setúbal e Sines. É por isso um local geograficamente privilegiado. Neste sentido podemos pensar de uma forma positiva e constatar que seria benéfico ter um aeroporto funcional numa zona de tal forma colocada ou pensar de uma forma um pouco mais negativa, constatando que o aeroporto de Faro se encontra em rutura e que por isso precisa de uma alternativa de baixo custo. Ambos pensamentos válidos. Se por um lado é habitual por toda a Europa fazer percursos de 100 a 150 km entre aeroportos e cidades, por outro, para consumo regional tanto do Alentejo como do Algarve, um novo aeroporto seria uma excelente notícia que traria mais turistas, menos concentrados pelos polos urbanos. Também as ligações a Sines e a Setúbal seriam notícias positivas para as necessidades portuárias que tanto têm crescido.
Por outro lado, as características da pista são também um fator favorável a este aeroporto: as suas dimensões são únicas em Portugal, tornando-o no único capaz de receber o maior e um dos mais luxuosos aviões de passageiros do mundo, o A380. Se nos queremos colocar entre os melhores no turismo, temos que diversificar a nossa oferta.
Em terceiro lugar, a importância estratégica para a carga aérea: o facto de dispor de espaço para o desenvolvimento de uma plataforma logística é central e crucial tanto para a região como para o país. Beja tem um elevado potencial como zona industrial, estando neste momento construídos 33 ha num espaço global de 110. Há por isso 80 ha de terreno onde, por hipótese, é possível criar uma zona de características fiscais especiais, potenciando-a como zona franca, ou seja, possibilitar a entrada de mercadorias nacionais ou internacionais sem as sujeitar a taxas alfandegárias normais. Tal medida, que não acarreta investimento público, teria como consequência a chegada de investimento privado de grande dimensão. Tal investimento, obrigaria o Estado a realizar aquilo que deveria fazer à partida pela população: construir e dotar a zona de acessibilidades.
Em resumo, explico: dotando o aeroporto de características fiscais especiais, atrair-se-ia investimento privado e aí seria possível modernizar e reformular os troços ferroviários e as acessibilidades rodoviárias existentes. Com tais investimentos, seria natural que mais portugueses escolhessem no Alentejo o seu local de residência, não só pelas diferenças em termos de custo imobiliário, mas também pela qualidade de vida e emprego que lá surgiria. Por outro lado, quem quisesse trabalhar em Lisboa poderia ter em Beja (ou arredores) o seu local de habitação. Demoraria tanto como alguém que todos os dias se dirige desde a linha de Sintra ou margem sul, contribuindo assim para um êxodo urbano essencial em termos de sustentabilidade e de demografia, lutando contra a desertificação e isolamento populacional. Uma política que seria sem dúvida de valorização do interior e coesão territorial.
É precisamente esta escada de investimento que é necessária – começar com uma forte aposta na indústria poderá ser a salvação de um aeroporto de interesse nacional. Não um aeroporto de complementaridade ao Aeroporto da Portela porque este precisa urgentemente de outro que o faça, mas sim numa perspetiva de aproveitamento de um ativo que exigiu um investimento de 34.170.000,00€ e que por pouco poderia trazer muito a uma região que tanto tem para oferecer.
Concluo assim referindo que qualquer português, preocupado com a coesão territorial, problemas demográficos, isolamento, falta de investimento no interior, falta maioritária de aposta dos privados em zonas que não Lisboa ou Porto e desperdício de ativos em depreciação, terá de olhar para Beja como uma questão de resposta óbvia. De qualquer forma, e para ficar de consciência tranquila, não posso deixar de referir: sim, sou a favor da utilização do Aeroporto de Beja. Está na altura de cumprir o Alentejo e de cumprir Portugal.