Todos os católicos portugueses rezam o Pai Nosso da mesma maneira há séculos e nele usam o tratamento vós para exprimir reverência e rigor conceptual sem qualquer prejuízo da experiência de intimidade que a incarnação do Filho proporciona.

A razão pela qual na primeira tradução em português do Novo Testamento, publicado em 1681, o tratamento de Deus é tu e não vós é o seu autor, João Ferreira de Almeida, ter sido um pastor da chamada igreja reformada holandesa.

O argumento de que em aramaico e grego só há uma forma de tratamento e que portanto o tu é a respetiva tradução correta é bastante fraco para não dizer mesmo insignificante.

De facto na língua portuguesa há quatro formas de tratamento não havendo razão nenhuma para, à luz da história, vir agora de repente defender que a tradução literal da única forma de tratamento naquelas línguas é afinal o tu e não o vós.

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Os católicos portugueses tomaram essa decisão há muito tempo e portanto não há ninguém que tenha aprendido a tratar qualquer das pessoas divinas por tu nem há ninguém que tenha até hoje protestado contra essa forma de tratamento.

A generalização neste século do tu como forma de tratamento no seio das famílias, promovida pelos professores das escolas públicas e pela comunicação social, não aboliu as outras formas de tratamento na nossa língua.

Parece pois um pouco atrevido os filólogos católicos quererem impor essa mudança fazendo tábua rasa da tradição e da realidade no terreno numa matéria que não é dogmática.

Acresce que os católicos portugueses acreditam que Deus é formado por uma Santíssima Trindade de pessoas divinas e que também por isso faz mais sentido trata-Lo por vós do que por você ou por tu.

Seria portanto avisado que a Conferência Episcopal Portuguesa não desse mais ouvidos aos lentes universitários de língua ou de religião do que às dezenas de gerações de católicos portugueses que nos precederam, ou aos milhões de fiéis portugueses vivos que não o solicitaram, e se precipitasse a criar divisões onde elas não existem.

Apelo pois instantemente aos nossos bispos para manterem a forma tradicional e comum de tratamento de Deus quer na tradução oficial do Novo e do Velho testamento quer na liturgia que se preparam para aprovar.