A discussão em torno do “aparecimento” e evolução da “Inteligência Artificial” (IA) vem ocupando cada vez mais fóruns, congressos e convenções, os nossos pensadores, filósofos, sociólogos, cientistas, profissionais das diferentes classes e profissões e decisores políticos.
Sem dúvida que a evolução é necessária, e com a “Pandemia”, a tecnologia, a internet e o digital, em abstrato, deram um salto qualitativo enorme.
Na saúde, a evolução tecnológica, a electromedicina e a nanotecnologia ajudaram cada vez mais, no diagnóstico, em novos materiais de cirurgia e de tratamento de feridas das diversas especialidades. A robótica também chegou às salas e blocos operatórios.
A evolução da “IA” foi te tal forma grande e rápida que vem apanhando muita gente de surpresa e distraída, o que vem provocando reflexões muito sérias e a levantar e colocar questões do foro ético, deontológico e até moral.
Se, por um lado, e muito longe da “IA”, até aceitamos que, virados para uma parede, possamos “pedir” à máquina que nos dê parte do nosso dinheiro, falamos para um smartphone que nos ligue para o contacto X ou Y, ou, quando fazemos uma viagem, aceitamos que uma voz da máquina nos dê ordens para virar no cruzamento ou sair naquela rotunda e até sabe que chegamos ao nosso destino, por outro lado vai ser difícil aceitar que um robô nos preste cuidados de saúde num internamento hospitalar, ou nos vá prestar esses mesmos cuidados de saúde ao domicílio. E mesmo que a evolução seja tanta e tão grande que torne tudo isto, estranhamente, uma realidade, faltará sempre uma comunicação verbal e não verbal no relacionamento e compreensão humana.
Parece-me que a “IA” trabalha e apresenta-se com base em algoritmos, fórmulas matemáticas, e bases de dados longas, complexas e com “inúmeras chaves” e hipóteses de resposta. Serão sempre máquinas muito complexas, criadas pelo Homem, a tentar imitar e substituir este, nas suas várias dimensões e qualidades. Deixará a “IA” de ter defeitos? Será tudo tão perfeito? E na saúde, em que condições e como irá funcionar a “IA”?
Com a “Pandemia”, tivemos um exemplo claro de que, apesar da alta tecnologia, da química, dos medicamentos e vacinas, sem recursos humanos nada era possível.
Podemos evoluir muito para as tecnologias, para os robôs fazerem cirurgias, para a “IA” dar respostas às inúmeras perguntas, projectos e documentos, mas nada será jamais comparável aos momentos em que o enfermeiro se acerca de um doente e lhe segura nas mãos transmitindo-lhe presença, segurança, afecto e momento de escuta às suas dúvidas e inquietações. Às confissões, desabafos e mensagens do último minuto de vida. Ao momento em que o enfermeiro traz ao mundo, e o recebe nos braços, o bébé que acaba de nascer e o coloca no peito da mãe, ou o deixa no colo do pai. Nos momentos difíceis, quando tem que olhar nos olhos dos familiares, ou usa o telefone, para comunicar um óbito! Por muito que a tecnologia possa ser apurada, faltará sempre o calor do toque, do afecto. do humanismo e das emoções. Mas os enfermeiros estarão lá, sempre!
Pensemos um pouco como será, ou tentará ser, esta “IA” num serviço, valência ou unidade de ambulatório de psiquiatria? Ou de pediatria ou obstetrícia? Ou doenças degenerativas ou oncológicas? Sabemos, sem qualquer sombra de dúvida, que a empatia, o tacto e a linguagem não verbal são importantíssimas numa comunicação. No extremo, como será a comunicação da “IA” na interação com o utente/paciente/cliente/cidadão?
Numa outra dimensão, parece-me também necessário pensar sobre o trabalho e as profissões e novos conteúdos e competências destas, carreiras e remunerações. Mas recursos humanos serão sempre necessários.
Um novo paradigma surge sobre a ciência, a saúde e a forma do cuidar do cidadão, seja ele mais ou menos informado, pertença a que classe profissional ou social pertença, mas as questões éticas e deontológicas terão de ser de forma clara, firmes e de fronteira, para que as pessoas sejam sempre atendidas e tratadas como pessoas humanas e, não como humanoides!
O Futuro o dirá!