Mais uma volta ao sol, mais uma COP, mais uma mancheia de nada. Após 29 edições, a COP parece uma daquelas reuniões de horas, convocadas por um colega sem muito que fazer, que tão bem podia ter sido um email.  

Irremediavelmente, muito se fala na COP, no quão é importante para países e sociedades, mas depois de vinte e nove (por extenso) edições, a COP continua a trazer muito pouco, para os objetivos que almeja e para a finalidade para que foi criada. Se por um lado, é bom ter países, comunidades, empresas num espaço a fazer um showcase (em inglês) do que fazem em prol do planeta e da sustentabilidade da espécie humana, por outro parece ser um contrassenso levar dezenas de milhares de pessoas para um local no planeta, agudizando a pegada carbónica das instituições e contribuindo para as altas emissões de gases de estufa. Parece o perpetuar de um “andem a pé, para que eu possa continuar a andar de avião”. Invariavelmente, continuamos sem estar todos juntos nisto.

É preciso uma grande desonestidade intelectual para se dirigir às populações dizendo que se está a fazer tudo e um par de botas pelo amanhã melhor, sem comprometer o bem-estar das gerações futuras, quando se é conivente com auto- e plutocracias, com marcas que pouco ou nada fazem para mitigar o seu verdadeiro impacto ambiental e social.

Muitos de nós, profissionais e interessados pelas questões de sustentabilidade, questionamos se as pessoas, os cidadãos levam a COP a sério. Como é que se pode falar de sustentabilidade, quando as caras que aparecem são as mais poluentes? Ou que representam organizações que continuam a perpetuar crimes contra diferentes sociedades e contra o ambiente?

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É difícil levar a sério um evento em que representações de países, através dos seus ministérios, dos seus representantes regionais e das muitas empresas privadas que contribuem diariamente para que os nossos estilos de vida, a nossa saúde, a nossa educação, os nossos ecossistemas, os nossos estilos de vida se continuem a deteriorar.

Portanto, encerrada mais uma COP, o país que a recebe certamente agradece a publicidade positiva. Fica com “créditos de sustentabilidade” para usar como carta na manga de futuras discussões sobre os esforços de sustentabilidade do país. Quando uma ONG ou um jornalista apontar o dedo a um governante, sobre a fraca implementação de estratégias de conservação de espécies, por exemplo, com certeza ele poderá responder, recorrendo a um subterfúgio do “whataboutism” (em inglês): “Mas aqui há anos organizámos uma COP”.

Após estas 29 edições de resultados frustrantes, irremediavelmente e repetidamente insuficientes para muita gente, há que refletir: em vez de enviar a equipa para o Azerbaijão, devíamos enviar os ministérios do Ambiente e os departamentos de sustentabilidade para o Ruanda!

Pode parecer contraproducente, pois a pegada carbónica também vai ser elevada, no entanto, o Ruanda é um dos casos onde todos poderemos aprender. O país, há já largos anos proibiu o uso de plásticos de uso único, passando por limitar, quase draconianamente o uso do plástico. Obviamente foi uma escolha, uma decisão muito contestada por muitos grupos sociais e políticos. Encontrou forte oposição popular e industrial. Entretanto, o país fez disso um ponto de promoção, alcançando um estatuto que muitos países, desenvolvidos e em desenvolvimento, almejam só a invejar: o país mais limpo de África. Tendo estas palavras como verdade, só teremos de aprender com o Ruanda, com os tomadores de decisão que escolheram este caminho, com as empresas e instituições que se viram a braços com diversos problemas de produção e distribuição, adaptando-se a uma realidade única no mundo e com a população que teve de se adaptar a um estilo de vida que, aos olhos do resto do mundo, é quase alienígena.

Ao contrário da COP, podemos evitar o envio de aviões e aviões carregados de especialistas em sustentabilidade para uma tão meridional latitude, pois se encontrarão exemplos de circularidade e sustentabilidade a caminho do aeroporto. Em vez de ir para o outro lado do mundo, poderemos aprender tanto com projetos e empresas mais modestos, sem orçamentos de sustentabilidade para se promoverem nas COPs desta vida. Longe das urbes, onde a sustentabilidade e a circularidade fazem parte do dia-a-dia há décadas, encontrarão os profissionais de sustentabilidade exemplos, metodologias e casos de sucesso. Pessoas, equipas, empresas que adaptaram os seus modus operandi (em latim) para melhorar as suas atividades em prol de sustentabilidade. Faltando a estes projetos mais locais o traquejo para o marketing e promoção fácil, continuam a passar debaixo dos radares, dando lugar a organizações de maior porte financeiro ir para sítios exóticos, ouvir o eco vazio daqueles que, como dizia o comediante, “falam, falam, falam, falam e ninguém os vê a fazer nada”.

Até lá, antes da COP30, na expectativa dos seus resultados abaixo do esperado, pensemos em métodos alternativos de promoção e desenvolvimento mundial da sustentabilidade. E que a COP se transforme da visita do vendedor pela newsletter da empresa que representa. Que seja uma comunicação esclarecedora, em vez daquela horrível reunião que tão bem podia ter sido um email.