O Governo aprovou a Isenção de IMT para jovens (e outras taxas e impostos) na compra de habitação própria.

Será esta medida a mais adequada à dificuldade de aquisição de habitação por parte dos jovens?

Vai o Governo conseguir os seus objectivos?

Como se formam os preços na habitação?
Antes de mais, comecemos pelo que se tem passado no mercado de habitação. Este mercado é livre, portanto, os preços formam-se como noutro mercado qualquer: dependem da oferta e da procura. Mas o que aconteceu em Portugal a partir da segunda década deste século é que se construíram apenas 15% das casas do que se construía nas décadas anteriores. Segundo o Instituto Mais Liberdade, “Portugal foi o país onde menos se construiu na última década, entre um grupo de países desenvolvidos analisados pelo Financial Times.”

Desta forma, o crescimento da procura por novas habitações não foi acompanhado por um crescimento da oferta, levando a um aumento dos preços.

Irá a isenção de IMT para jovens originar o aumento de habitações disponíveis?

NÃO!

Então será que, pelo menos os jovens vão sair beneficiados? E será que ninguém vai sair prejudicado? É isso que vamos tentar perceber já de seguida.

1. IMT para jovens e a procura no mercado de habitação
Sim, ao diminuir a despesa que os jovens têm de enfrentar na aquisição de uma habitação, estes ficam com mais facilidade em realizar essa aquisição. Pressupondo que nada mais se altera.

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Como assim? Então os jovens ficam com mais poder de compra e nada se altera?

Claro que altera: se o rendimento real dos jovens aumenta, a procura de habitação aumenta.

Sim, caro leitor, não duvide, pois este efeito encontra-se explicado até num Manual de Economia para Totós.

E o que acontece quando há um aumento da procura? Surpreendentemente, o mesmo manual explica: os preços aumentam.

A esta altura está o leitor a pensar: “Sim, os preços vão aumentar, mas mesmo assim os jovens saem a ganhar”. Pois saem. EM contrapartida, os “não-jovens” saem a perder.

Bem, mas o objectivo da isenção de IMT para jovens parece cumprido.

OU TALVEZ NÃO!

2. influência do IMT para jovens no comportamento de quem já tem habitação
Tal como sabemos, o mercado de habitação é composto por habitações novas e habitações usadas.

Imagine um casal que ocupa uma habitação T3, que foi muito funcional enquanto tiveram os 2 filhos em casa, mas neste momento tem espaço a mais. Procuram um T1 que lhes sirva para o resto da vida. Porém, no mesmo prédio existe um casal jovem que ocupa um T1, mas procura um T3 pois a família está a crescer, com um filho que já diz as primeiras palavras e outro na barriga da mãe, que sairá em breve.

Se quiserem “trocar” de habitação, o Estado vai meter-se na vida destes dois casais, recolhendo uma “comissão” nesta transacção. É certo que o casal jovem fica isento do pagamento dessa comissão ao Estado, mas o casal mais idoso, não!

O que vai acontecer?

Tal como já referido, a Isenção de IMT atribuída para jovens faz aumentar o preço do T3, dificultando-lhes essa transacção. Pois o aumento do preço do T1 para o casal mais idoso, que não vai ter qualquer isenção de impostos, também lhes dificulta a mudança de apartamento.

A Isenção de IMT para jovens ajudou-os? É muito duvidoso!

3. IMT para jovens e a oferta de habitação
Até aqui vimos o comportamento da Procura. E a Oferta?

Com toda a certeza, esta medida não vai aumentar a construção de novas habitações nem vai colocar mais habitações usadas no mercado. Ou seja, a quantidade de habitação disponível vai manter-se. Apesar de legalmente proibido, quem tem habitações usadas para venda ou quem está a construir pode até vir a fazer discriminação de preços conforme a idade, conseguindo apropriar-se de uma parte do imposto que reverteria a favor do Estado.

É isto justificação para os impostos não baixarem para todos?

Claro que não. Temos de perceber que o mercado de habitação está numa fase em que há um grande desequilíbrio entre Procura e Oferta, e aumentos da Procura têm-se reflectido em aumentos de preço e não aumentos da quantidade oferecida. Verifica-se aquilo que os economistas chamam de “inelasticidade da oferta”.

Qual a solução para facilitar a aquisição de habitação pelos jovens?

Como seria de esperar, a solução para os jovens é a mesma de qualquer pessoa: facilitar a construção de novas habitações e facilitar a colocação de habitações no mercado de arrendamento.

Por isso, é preciso inundar o mercado com dezenas de milhares de habitações. Os obstáculos a remover são vários, e apenas remover alguns impostos para algumas pessoas, não vai adiantar nada!

O IVA continua a 23% para todos, incluindo os jovens, e a transacção dos terrenos onde a habitação vai ser construída também continua a pagar IMT, independentemente de as habitações virem a ser compradas por jovens ou não.

Há grandes atrasos no licenciamento de novas habitações, o que vai encarecer as habitações e também dissuadir muitas pessoas de construir.

Quem consegue ultrapassar os obstáculos até à fase de construção vai deparar-se com muita falta de mão-de-obra, o que atrasa ou mesmo impede a construção. E o Estado parece ter esquecido este factor.

O tratamento a que os senhorios têm vindo a ser sujeitos nas últimas décadas torna muito arriscado colocar habitações no mercado para arrendar. De facto, ninguém sabe se de um momento para o outro vai perder a sua propriedade, com novas leis que impedem o despejo de inquilinos que não cumprem ou de congelamento das rendas.

O Estado possui uma grande quantidade de imóveis que já não utiliza há vários anos e têm vindo a degradar-se. Infelizmente, nem o próprio Estado sabe quantos imóveis tem nesse estado. Desta feita, colocando-os à disponibilidade dos particulares para os recuperar e converter em habitação, iria providenciar milhares de novas habitações para os portugueses.

Concluindo
Em suma, para repor a queda da construção de nova habitação desde 2010, seria preciso quase multiplicar por 10 a quantidade de habitações novas a construir. Não é com pensos rápidos que vamos curar uma pessoa com fracturas múltiplas vítima de um acidente.

É preciso correr atrás do tempo perdido e construir centenas de milhares de habitações para que o preço das habitações volte a baixar.

Vamos olhar para este problema com vontade de o solucionar?