Spoiler alert: Jesus faz anos daqui a dois dias, no dia 24 Julho. Sopra 66 velas. Que piroseira. Sessenta e seis primaveras. Outra piroseira, maior ainda que a anterior, chi-ça.

Vamos melhorar.

Spoiler alert (agora já não, raios e coriscos): Jesus faz anos daqui a dois dias, no dia 24 Julho. Ao todo, 66 anos de vida.

E agora?

Quem é o último campeão nacional com 66 anos? Giovanni Trapattoni. E o penúltimo? Lajos Baroti. Pontos em comum: ambos do Benfica, um em 2005, outro em 1981. Ambos só uma época em Portugal. Ambos chegam à final da Taça – o Benfica de Trapattoni perde de virada com o Vitória FC (2-1), o de Baroti ganha de virada ao Porto (3-1). Ambos fazem uma só substituição em dois jogos desses campeonatos. No caso de Baroti, é normal. No de Trapattoni, já é mais fora do comum pela regra das três substituições. Ponto em comum com Jesus: no seu último título de campeão português, em 2015, também só faz uma substituição em dois jogos. É o regabofe (e a pré-época 2020-21 ainda nem dá sinais de si).

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Por partes, 1980-81. O Benfica quer um treinador de categoria internacional, capaz de interagir com o plantel, para fazer esquecer o pesadelo Pal Csernai, um velho do Restelo, sem consideração pelo adjunto Toni, quanto mais pelos jogadores – só dá a mínima para Pietra e Carlos Manuel, de resto é cara fechada para todos. O Sporting sagra-se campeão e o Benfica salva a época com a conquista da Taça de Portugal, golo do brasileiro César ao Porto, na célebre final em que os adeptos de Sporting e Belenenses aparecem no Jamor com bandeiras anti-Pedroto, em retaliação pelas constantes bocas do treinador portista sobre o poder da capital.

Csernai levanta a Taça e sai do caminho. Entra Baroti, um gentleman. Diz Nené, o capitão na final da Taça de Portugal. “Foi uma época inesquecível para o Benfica e também para mim, como melhor marcador da 1.ª divisão e autor dos três golos da final. Como treinador, tínhamos o Lajos Baroti, antigo seleccionador da Hungria. Era uma pessoa muito educada, um treinador que se dava bem com toda a gente e dava gosto uma pessoa ser comandada desta maneira. Nas palestras, antes das partidas, dizia sempre a mesma frase: “Eu ter muito medo deste jogo”. No campeonato, estivemos 635 minutos sem sofrer golos. Foi um recorde que pretendíamos prolongar, mas o Walsh desfeiteou o Bento e acabou-se. Houve jogos difíceis, com o Amora (6.ª jornada) e Académico Viseu (9.ª), e outros especiais, com o Marítimo, em que marquei o golo da vitória. Apesar do jogo ser em Alvalade, os benfiquistas aderiram em massa e estávamos praticamente em casa.”

“Na Taça, o nosso percurso foi feito fora e, até ao Belenenses nas meias finais, sempre em campos pelados. Em Sacavém, por exemplo, o público estava sobre a linha de jogo. Na final, marcámos os quatro golos. Primeiro o Veloso, na própria baliza. Depois, eu fiz os três, todos a passe de Shéu. Este jogo ficará para sempre na minha memória. Na Taça das Taças, atingimos as meias-finais. Antes, jogámos com o Malmoe e recordo-me de ter marcado dois ‘penalties’ na Luz frente a um guarda-redes altíssimo, quase com dois metros, e que ocupava a baliza toda quando esticava as mãos. Mais tarde, fomos eliminados pelo Carl Zeiss Jena, uma equipa forte no aspecto físico. Lá, deram muita pancada e nunca nos deixaram jogar. Cá, tivemos oportunidades para ir ao prolongamento, mas nada feito. Apesar disso, nunca me esquecerei que o público da Luz se despediu de nós com uma ovação extraordinária. Na Supertaça portuguesa, vencemos o Sporting com um golo meu, junto ao poste depois de um canto, e outro do Vital, que não costumava ser titular.”

Faltam os dois pormenores: Baroti, 66 anos e só dois jogos com uma substituição (Sporting 1-1, Vitória SC 0-0).

Avançamos no tempo, 2005. Para dar sequência à conquista da Taça de Portugal sob a orientação de Camacho (2-1 ao Porto), o Benfica de Veiga dá um golpe de autoridade e sente-se no centro do mundo com a chegada de Trapattoni, único treinador até hoje a ganhar as três provas europeias pela mesma equipa (Juventus: Taça UEFA 1977, Taça das Taças 1984 e Taça dos Campeões 1985). O objectivo é chegar ao título de campeão nacional, que foge ao Benfica desde 1994. O dominador Porto perde Mourinho e uns quantos artistas de nível extraordinário como Deco e Ricardo Carvalho, é aproveitar agora.

Com Trapattoni também chegam 13 reforços entre Quim, Yannick, Dos Santos, Geovanni, Nuno Assis, Karadas, Everson, André Luís, Paulo Almeida, Bruno Aguiar, Alcides, Amoreirinha e Carlitos. Na estreia, Trapattoni perde a Supertaça para o Porto mas desenha um estilo de jogo fiel ao seu estilo cauteloso e eficaz para se sagrar campeão português na 34.ª e derradeira jornada, no Bessa, uma semana depois de ter ultrapassado o Sporting no primeiro lugar com o 1-0 de Luisão. Sporting, esse, que também seria afastado da Taça de Portugal num excitante jogo na Luz com quatro golos na primeira parte, outros dois no prolongamento e resolvido nos penáltis, inédito em dérbis.

Na Europa, o furacão CSKA Moscovo varre tudo. Depois de incomodar FC Porto na Liga dos Campeões, elimina Benfica e Sporting (este na final) na Taça UEFA. Resta só a 1.ª Divisão. Graças aos golos de Simão (15) mais os de Mantorras (só cinco que valem sete pontos), o Benfica mantém-se até à última a discutir a liderança com FC Porto e Sporting. O dérbi na Luz decide-se a seu favor e o empate no Bessa é um mero pró-forma para desencadear uma festa explosiva em todo o país, com epicentro no Marquês de Pombal.

Pormenores: Trapattoni, 66 anos e dois jogos com uma substituição (Bruno Aguiar por Karadas vs Rio Ave e Amoreirinha por Luisão vs Estoril), além de 11 só com duas. Que campeão.

Saltamos para 2015. No dérbi com o Sporting (1-1), Jesus só faz uma substituição, e aos 85 minutos: Derley para o lugar de Talisca. No fim, a explicação do mister: “Por que só fiz uma substituição? Um jogo permite ao treinador fazer três substituições. Depois há uma razão técnico-tática para as fazer. Ponto. Olhei para o jogo, achei que não devia fazer nenhuma substituição. Mudei o Talisca porque ele tinha algumas queixas, se não nem o mudava. Sou eu que olho para o jogo e hoje olhei desta forma. Optei por não fazer substituições, porque sabia que os que estavam em campo sabiam muito mais do que os que tinha no banco.”

Dois meses mais tarde, o Benfica volta a perder pontos (agora é derrota), com outro Sporting (o de Braga). No Minho, o treinador volta a só mexer uma vez na equipa: Jonas por Samaris aos 62’. No banco, Júlio César, César, André Almeida, Cristante, Pizzi e Jara. Nenhum lhe merece consideração.