Desde o enterro do Santo Padre Cruz que não há memória na cidade de Lisboa de um padre tão chorado.

Pelo Bispo, colega de seminário, impressionado também pela multidão comovida à sua volta.

Pelos padres que carregaram o corpo às costas na Sé de Lisboa onde foram as exéquias, e na igreja de Valada onde foi a enterrar. Muitos desses padres confirmados na vocação pelo seu exemplo.

Pelos amigos de sempre, muitos que encontrou na Universidade Católica e a quem mudou a vida. Eu sou um deles. Lembro-me bem desse primeiro encontro decisivo, num corredor da Universidade Católica há quarenta e um anos.

Pelos amigos recentes, igualmente próximos. O Padre João tinha essa capacidade rara de se tornar íntimo, até ao mais profundo da alma, no primeiro encontro. Com muita graça, contava a história de uma tia velha que não tinha querido conhecer a noiva de um neto ou bisneto: “Eu já conheço tanta gente…” O Padre João também conhecia muita gente, muitíssima gente, como se viu nas cerimónias fúnebres, mas a afeição profunda e comovida por cada um era sempre nova.

Pelas crianças, que conhecia pelo nome, cada uma, e que tinham por ele a ternura que as crianças têm pelos homens bons.

O Padre João Seabra fez muitas coisas extraordinárias, mas a sua maior obra foi esta Igreja construída encontro a encontro.

Quando conheceu o movimento Comunhão e Libertação, escreveu-me a contar que, velho cristão, podia finalmente dizer que tinha encontrado Cristo. Tinha encontrado o olhar e o abraço de afeição de Luigi Giussani, e repetia-se o encontro de João e André com Cristo, e o diálogo fundacional da Igreja: “Que procurais?”. “Mestre, onde moras?”. “Vinde e vede!”. Era por volta das quatro da tarde.

Cada um que nestes dias chora a morte do Padre João sabe, talvez não a hora, mas certamente as circunstâncias em que se deu esse seu primeiro encontro com ele, o encontro com o olhar e o abraço de afeição de Cristo.

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