Escrevo estas palavras, sabendo que a esta hora decorrem as últimas cerimónias fúnebres e de homenagem ao Viktor Frankl Português, João Semedo ou Johnson para os amigos. Chamo-o assim, sem receio de ser mal interpretada, acreditando que em todos nós reside e no João Semedo em especial, a mesma força que habitou (ou floresceu) a pessoa Viktor Emil Frankl, Nelson Mandela, Martin Luther King, Madre Teresa de Calcutá, Desmond Tutu e muitos mais (só para mencionar os que já partiram).

Podia começar por falar de João Semedo e da sua obra, mas não posso, pois não tive a sorte de privar com ele e existem tantos outros que o poderão fazer com grande propriedade. Podia falar de Viktor Frankl, famoso neurologista e psiquiatra vienense, mas de algum modo já o fiz nos meus dois últimos artigos.

Aquilo que me leva a afirmar que considero que o percurso de João Semedo reflete aquilo que Viktor Frankl sempre acreditou e fez com que muitos outros o seguissem nesta certeza, é que está ao nosso alcance encontrar o sentido das nossas vidas, ajudando  os outros a encontrarem o sentido das suas vidas [1], independentemente da nossa biografia existencial. Para Frankl, em cada situação desesperante, existe sempre a possibilidade de nos transcendermos e nos posicionarmos perante cada momento da nossa vida, opondo-nos aos efeitos e sintomas que possamos vir experimentar, pois cada um de nós é convidado a comportar-se de forma livre e responsável em qualquer circunstância da vida. E creio que João Semedo, perante as adversidades e contextos experienciados, escolheu posicionar-se perante a vida, encontrando nela a motivação para se auto transcender.

A capacidade de nos posicionarmos perante a vida permite-nos encontrar o verdadeiro sentido das nossas vidas. Por outras palavras, cada um é responsável por fazer-se a derradeira pergunta existencial: o que é que a vida quer de mim? E creio que João Semedo, a dada altura do seu percurso existencial, teve a coragem de a fazer. E acredito que no instante em que encontrou a SUA resposta, percebeu que o verdadeiro sentido não reside no prazer – como afirmava Freud – nem tão pouco no poder – como afirmava Adler  mas sim numa causa, no amor, numa tarefa a realizar. No fim de contas “viver significa assumir de forma livre, a responsabilidade de encontrar a resposta correcta para os problemas que a vida nos coloca e cumprir as tarefas que ela continuamente aponta a cada um de nós.”

Creio que a vida de João Semedo, deve servir – como a vida dos grandes lideres da história – para ser amplamente replicada, ou quanto muito, para nos desafiar a refletir sobre que medida é que queremos mensurar a nossa vida.

Então como podemos encontrar sentido nas nossas vidas hoje?

Frankl propõe três formas, que João Semedo as encarnou de forma eximia, ao qual somos todos desafiados a enformar as nossas vidas :

  • através de ações concretas, criando algo que contribua para tornar o mundo melhor;
  • através do amor dado e recebido, enriquecendo-nos interiormente;
  • através da nossa atitude perante o sofrimento, na certeza que ninguém nos pode tirar a nossa liberdade e bússola interior que nos norteia e nos permite tomar a posição/direção diante de todas as circunstâncias da vida, mesmo as mais adversas. Transformando cada tragédia pessoal numa vitória, tal como João Semedo ou ou Johnson para os amigos.

[1] Parafraseando a frase de Viktor Frankl: “Encontrei o significado da minha vida, ajudando os outros a encontrarem o sentido das suas vidas.”

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