Relativamente às eleições regionais na Madeira, importa começar pelo óbvio: a coligação PSD/CDS teve uma vitória clara e o principal derrotado foi o PS, que teve menos de metade dos votos da coligação vencedora e foi fortemente penalizado pelos madeirenses, tendo baixado face a 2019 de 36% para 21%.
Miguel Albuquerque vence claramente e tem todas as condições para continuar no poder mas fica fragilizado já que a coligação PSD/CDS por si liderada perdeu votos, perdeu percentagem da votação e perdeu a maioria absoluta. E tudo isto num contexto em que o PS foi fortemente penalizado pelos madeirenses, com JPP e CH (que foi quem mais cresceu e reforça na Madeira estatuto de terceira força política nacional) como principais beneficiários. Já CDU, IL, PAN e BE cumprem mínimos com a eleição de um deputado.
Luís Montenegro, que foi à Madeira para tentar ganhar algum fôlego nacional capitalizando uma vitória folgada com maioria absoluta da coligação PSD/CDS, acabou por regressar ao Continente com o PSD a precisar do PAN para manter o poder. André Ventura, que também apostou forte na Madeira, agradece certamente o sinal dado ao eleitorado pelo PSD.
Quem também pode agradecer ao PAN é a IL. Depois de um resultado que cumpriu mínimos (eleição de um deputado) mas não entusiasma, a IL arriscou-se a sofrer custos políticos nacionais ao disponibilizar-se pronta e imprudentemente para um acordo com o PSD-Madeira. O contexto da Madeira é muito diferente do dos Açores, no qual o PS governava há muito tempo, e a última coisa de que a IL precisa é de passar a imagem de que a sua primeira prioridade é chegar ao poder.
Dada a situação actual do CDS o tema tem uma importância residual, mas vale a pena assinalar também que é interessante ver o CDS a ser arrastado para um acordo com o PAN, alienando dessa forma muito provavelmente aquele que seria um dos seus últimos possíveis nichos de apoio eleitoral.
Por fim vale a pena fazer algumas contas. O conjunto da direita teve em 2019 na Madeira cerca de 47% tendo subido para 54% em 2023. Dados que sugerem que é possível CH e IL crescerem sem perdas significativas para o centro-direita. Neste contexto, mesmo havendo um ligeiro recuo face a 2019, a coligação pré-eleitoral entre PSD e CDS foi provavelmente importante para evitar maior fragmentação à direita. Um exemplo a ter em conta a nível nacional.