Quem passou por Lisboa ultimamente terá reparado em como as ruas do centro pululam de turistas. Muitos lisboetas congratulam-se com esta invasão estrangeira. Lisboa está viva e Deus sabe que Portugal precisa do dinheiro.
Mas também há muitos lisboetas descontentes por ver a sua cidade — sonolenta, bela e idiossincrática – subitamente afogada por gente com cor de lagosta e pelos tuk-tuks e segways que apareceram para ajudar essa gente a visitar esta “Montanha Russa de Sete Colinas” à beira do Tejo. A Baixa está a tornar-se na “Experiência Turística do Pastel de Nata” e o Bairro Alto enche-se todas a noites da semana, e não só aos fins-de-semana.
Simpatizo com ambas as opiniões. Adoro a energia renovada da cidade, mas detesto a sensação de parque temático. As novas lojas e os novos restaurantes, com o seu espírito empreendedor, dão-me esperança, mas as multidões vestidas de calções e sandálias estão a cobrir a Lisboa genuína com uma máscara insípida, e a submergir os verdadeiros lisboetas.
Sou sempre pela evolução. O que será, será. Não podemos ter a Lisboa do século dezoito, nem a Lisboa dos anos sessenta. Lisboa é o que é. Mas cabe aos lisboetas definir o futuro da cidade, a sua estética, o seu espírito, e é importante que sejam firmes e não deixem acontecer certas coisas … Digo isto, não só porque a imagem de muitas pessoas em calções não é pitoresca (e não é), mas também porque Lisboa enfrenta uma grande ameaça, e os lisboetas são, neste momento, os únicos que ainda podem salvar a cidade.
Qual é a ameaça? As despedidas de solteiro dos britânicos. Antigamente, uma despedida de solteiro no Reino Unido não ia além de uma noite descuidada na cidade mais próxima. Agora, gangues de homens ou mulheres apanham voos low-cost, e rumam até onde o álcool é mais barato, e a cidade suficientemente exótica para que a sua despedida de solteiro seja mais interessante do que a de outros noivos. Existem duas variedade de despedida: a “hen party” = “festa da galinha”, para a noiva, e o “stag party” = “festa do veado”, para o noivo (não confundir este veado heterossexual com o veado brasileiro). Há a versão civilizada: um fim-de-semana sossegado, a comer e beber com amigos, num sítio agradável. E há a versão não civilizada e muito mais comum: um fim-de-semana desleixado e ruidoso, a subverter e a arruinar uma cidade europeia, depois de deixar o sentido de responsabilidade em casa, a mil milhas de distância (ou a mil e seiscentos quilómetros, para sermos devidamente métricos).
Lisboa, deixa-me dizer-te que eles estarão a caminho daqui a muito pouco tempo, logo que a notícia de que Lisboa é a nova cidade-turística-que-é-preciso-visitar passe pelas várias camadas da população britânica até chegar ao género de gente que embarca em despedidas-de-solteiro no estrangeiro.
Vão chegar nos voos low-cost, com os seus uniformes de “galinhas” e de “veados”, os seus dísticos de “aprendiz”, a sua purpurina e as suas penas cor de rosa, e vão deixar atrás deles urina, vómito e narizes a sangrar … se nós os deixarmos. Nós, Lisboa, não podemos deixar.
Há algo na psique britânica (sobre a qual sou capaz de escrever um dia destes uma espécie de “disclaimer” para benefício de todos os que no mundo nos odeiam) que leva muitos dos meus conterrâneos a ver o resto do mundo como um gigante parque temático, barato e cheio de álcool, onde podem beber, comer e fornicar, até que um tsunami de vómito, urina, sangue e sémen acabe por destruir a beleza do local. É um síndroma bastante complicado, que levaria muito tempo a explicar, mas que não vou certamente desculpar, até porque me deixa enjoada.
As “galinhas” e os “veados” já exploraram muitas cidades históricas na Europa, sempre com efeitos devastadores: Praga, Budapeste, Tallinn, Riga, Cracóvia…
Esteja por isso atento a grupos de britânicos de idades entre os 20 e os 40 anos, mascarados de noivos ou de diabos, ou vestindo t-shirts iguais. Não continue a servir-lhes bebidas alcoólicas até eles caírem ao chão, impeça com força qualquer violência (estou a contar consigo, Sr. Polícia!), e expulse-os do seu hotel ou do seu bar logo que eles comecem a estar a mais.
Lisboa, eles estão a chegar! Tudo depende de ti: tolerância zero!
P.S.: Se não acreditou no meu desenho acima, veja estas fotografias.
(Tradução da autora)
Lisbon in grave peril
Anyone who has been in Lisbon recently will have noticed that the streets in the city centre are teeming with tourists. Many Lisboetas welcome it. The income generated by tourism is exploding, and god knows, Portugal needs the money. Lisbon is alive.
Many Lisboetas, on the other hand, are not pleased that their sleepy, beautiful, idiosyncratic city is being swamped by lobster-coloured people, with tuk-tuks and segways taking them on dangerous rides on the “Seven Hills Rollercoaster” that is Lisbon. The Baixa is fast becoming the “Pastel de Nata Experience” and Bairro Alto is full every night of the week, not just on the weekends.
I’m with both sides. I’m loving the renewed sense of energy about the city, but I hate the theme park feel of it. The sight of new and different shops and restaurants and cafés and a tangible sense of an entrepreneurial spirit gives me hope, but the aesthetic of crowds in shorts and sandals is masking real Lisbon, and drowning out real Lisboetas.
Overall, however, I’m all for evolution, and Lisbon will be what Lisbon will be. It can’t be Lisbon of the eighteenth century, nor Lisbon of the nineteen sixties. It is what it is. It’s down to Lisbon and Lisboetas to manage the city’s future, her drive, her aesthetic, her spirit, and she has to stand up for herself, and not just allow anything to happen… I say this not just because people in shorts aren’t picturesque (and they aren’t), but because there is a grave threat to Lisbon, and it won’t be long before it arrives and the people of Lisbon are the only ones who can prevent it.
The grave threat? Hen and Stag Weekenders from Britain. Instead of the former hen and stag night, a lary night out in one’s own town, bands of men or women hop on low cost flights, heading to where the drink is cheap, and the city interesting enough for them show off that their hen or stag trip is more exotic than that of the next bride- or groom-to-be. There are two kinds of Hen or Stag weekend. One, the civilised kind: a quiet weekend with friends, drinking and eating well somewhere lovely in the world. Two, the uncivilised and far more prolific kind: a loud, careless, badly behaved weekend of laying waste to a city somewhere in Europe, responsibility being left a thousand miles behind at home in Britain.
Let me tell you all, right now, Lisbon, they will be on their way soon, once the news that Lisbon is the next new tourist “thing” has filtered down to the type of people who do hen and stag weekends in foreign climes.
They will be flown in by the low-cost airlines, in their hen and stag uniforms, with L-plates, pink fluff and glitter, and they will leave piss and vomit and bloody noses in their wake… if we let them. We, Lisbon, must not let them.
There’s something about the British psyche (about which I could write volumes, and probably will one day, as a kind of disclaimer for everyone in the world who hates us) that makes some Britons regard the rest of the world as a cheap, booze-filled theme park where they can drink and eat and copulate until there is a tsunami of vomit, blood, piss and semen washing away the beauty of any place, but it’s a complicated syndrome for which I don’t have space to explain here, and certainly won’t excuse it, because it sickens me.
The hens and stags have already exploited many historic cities in Europe with devastating effects. See Prague, Budapest, Tallinn, Riga, Krakow…
The main warning sign to look out for is a gang of Britons, aged between 20 and 40, all dressed in the same costume, whether as brides or devils or just wearing the same t-shirt as each other. Don’t keep serving them drinks until they collapse, stamp down hard on any violence (Mr. Policeman, I’m looking at you), and kick them the hell out of your hotel or bar the very minute that you don’t want them there.
Lisbon, they will come and it is down to you to adopt a zero tolerance approach.
P.S. If you don’t believe my drawing above, please enjoy this.