Sua Santidade gosta de responder a algumas questões fazendo perguntas retóricas. Uma pergunta retórica pretende estimular a reflexão sobre uma questão, mas também é feita quando a resposta é por demais evidente e, portanto, mais que verdadeira pergunta é afirmação. Uma que Sua Santidade gosta de repetir é: “Será correto eliminar uma vida humana para resolver um problema? Será justo contratar um sicário1 para resolver um problema?”
É evidente que o homicídio nunca é correto. Nem justo. Que a eliminação de uma vida humana inocente é crime é algo que sempre e em toda a parte foi considerado não necessitar de demonstração. E a ilicitude do homicídio não ocorre somente quando é para resolver um problema. O homicídio nunca é correto, nem justo, mesmo quando realizado por motivos fúteis, por simples prazer2, diversão, autoexpressão, nem sequer quando faz parte de uma tradição cultural exterior ao hétero-patriarcado branco3chinês.
Assim, Sua Santidade mostrou o seu zelo pastoral quando, pouco depois de ter sido eleito bispo de Roma, excomungou4 todos os membros da ’Ndrangheta e todas as pessoas parte de sindicato criminoso. Não só as que praticam crimes violentos. Mas todas. Mesmo aquelas que, trabalhando para a máfia como armazenistas, contabilistas ou motoristas, nunca mataram uma mosca.
Porquê uma excomunhão, e consequente exclusão da vida sacramental da Santa Madre Igreja, tão vasta, indiscriminada e abrangente? De tantos piedosos católicos, cidadãos probos e honestos? Que põe em causa uma tradição cultural indígena tão antiga, rica, enraizada e respeitada pelos seus praticantes?
Porque Sua Santidade quis mostrar a todos os envolvidos, e aos mirones, que há tradições culturais perversas e ilegítimas e que a colaboração, mesmo que remota, com uma atividade cuja imoralidade brada aos céus5, como é o homicídio, também ela é imoral. E que quem de algum modo colabora com ela, mesmo que muito indiretamente, é um danado que, para se salvar, necessita não só de se arrepender, mas também de cortar todos os laços, até os religiosos, com quem esporadicamente a pratica, não como atividade principal, mas quando necessário resolver um problema, ’Ndrangheta style. Sua Santidade demonstrou assim, com atos, o que é verdadeiro acompanhamento pastoral: mostrar inequivocamente, a todos os bonzinhos, que a associação com o mal é pecaminosa, e que é pecado grave quando o assunto é grave. E que há culturas indígenas às quais a Igreja não se pode aculturar.
Assim, nenhum Oseias moderno poderia ter achado falta a Sua Santidade por não estar a chamar a atenção aos criminosos no seu rebanho para os preceitos da lei moral e para a necessidade que eles têm de mudar de vida para assim se poderem qualificar para a vida eterna. Nem lhe poderia bradar, como o antigo Oseias fez aos Sumos Sacerdotes do seu tempo, algo como: “o meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento. Porque tu, sacerdote, rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus, etc” (Os. 6,4).
Sua Santidade também tem repetidamente afirmado, com perguntas de retórica, que o aborto é um crime. Como um crime? Porque é a eliminação de uma vida humana. Assim, como terá o vigário de Nosso Senhor Jesus Cristo avaliado a recente proibição feita a Nancy Pelosi pelo seu pastor, o sr. arcebispo de S. Francisco, de receber a comunhão (que, tecnicamente, não é uma excomunhão)? Nancy, para os mais distraídos, é Madrinha na ’Ndrangheta aborcionista, um sindicato criminoso cujo poder tentacular controla os mais importantes cargos políticos da Calábria norte-americana. Tão boazinha que é, nunca praticou um aborto que fosse na vida. Mas através da sua influência política, tem promovido & dado cobertura a que, nas últimas décadas, dezenas de milhões de seres humanos tenham sido assassinados através de métodos sádicos e bárbaros e tem recebido, como recompensa, avultadas contribuições monetárias dos sicários e dos seus sindicatos. ’Ndrangheta style.
Terá então Sua Santidade tido a coerência de chamar a atenção do sr. arcebispo de S. Francisco para que a simples proibição de comungar a uma cúmplice de tantos crimes não é digna de um verdadeiro pastor? Que, em justiça, e para benefício da própria, devia era ter seguido o exemplo que ele dera ao excomungar os mafiosos da Calábria italiana? Que o correto e justo era excomungá-la formalmente de acordo com o estabelecido pelos princípios da caridade pastoral consagrados no Direito Canónico?
Não. Sua Santidade não fez nada do género. Que fez então? Querendo a promotora top-top da abominação mostrar publicamente, ’Ndrangheta style, que está acima de qualquer preceito moral e autoridade religiosa, Sua Santidade deu-lhe cobertura e recebeu-a sorridente no Vaticano, deu-lhe umas palmadinhas nas costas e, não material, mas formalmente, a comunhão numa Missa presidida por si. Quando questionado por jornalista sobre a desautorização que assim fez a um pastor seu irmão refletiu: “Quando a Igreja perde a sua natureza pastoral, quando um bispo perde a sua natureza pastoral, causa um problema político.”
Não é claro, neste episódio, qual é o problema político que o sr. bispo de Roma causa quando, ao perder a sua natureza pastoral, comunga com uma facilitadora do homicídio organizado. A Nancy de certeza que não causou nenhum problema político. Nem à ’Ndrangheta aborcionista. Nem sequer ao sr. arcebispo de S. Francisco que frisou, urbi et orbi, que a sua decisão era pastoral, não política. A quem, então?
Também não é claro porque é que Sua Santidade se preocupa com problemas políticos. Embora seja, tecnicamente, um chefe de estado, não foi para isso, nem para se preocupar com, resolver ou criar problemas políticos, que foi contratado. Sendo a empresa que lidera um empreendimento espiritual (“O meu reino não é neste mundo” lê-se na Visão estabelecida pelo Acionista6) parece que a sua preocupação principal deveria ser com problemas espirituais.
É, no entanto, claro que não é correto, nem justo, nem sequer pastoral, dar cobertura a uma promotora do assassinato de milhões de vidas humanas com o fim de evitar ter um problema político ou diplomático no Vaticano, criando um problema espiritual. Quando Jesus foi almoçar com Zaqueu e com Mateus, estes mudaram de vida (e os seus problemas espirituais ficaram, senão totalmente resolvidos, bem encaminhados). Quando Nancy foi comungar com Sua Santidade, quem mudou de vida? Ou de praxis?
O que seria então correto e justo neste caso? O que aconselharia a Sua Santidade um ateu empenhado mas desempoeirado, um profeta moderno, um Oseias dos nossos dias? “Se acreditas que existe um céu e um inferno, e que as pessoas podem ir para o inferno — ou não atingir a vida eterna … —, e se pensas ‘bem, não vale a pena dizer nada porque seria socialmente inapropriado’… quanto não deves odiar essa pessoa para não lhe dizeres nada? Quanto não deves odiar uma pessoa se acreditas que a vida eterna é possível e não lhes dizes isso? É como, se eu acreditasse, sem qualquer sombra de dúvida, que estava a vir um camião contra ti e que tu não acreditasses nisso… [e eu não te dissesse nada]!”7
Quando o sr. bispo de Roma perde a sua natureza pastoral e não diz o que devia dizer e faz o que não devia fazer, causa não um problema político, mas um problema espiritual, escatológico, dos grandes, católico, não só pessoal (no caso, a Nancy Pelosi), mas à escala universal. Será interessante, e um gozo, ver como Nosso Senhor Jesus Cristo o irá resolver. Ele, que se deixou crucificar, para resolver um problema. Não político, mas espiritual. Não dele, mas dos outros. Mas que Ele fez seu.
U avtor não segve a graphya du nouo AcoRdo Ørtvgráphyco. Nein a do antygo. Escreue coumu qver & lhe apetece. #EncuantoNusDeixam
- Sicário: assassino por conta de outrem; à semelhança de outras profissões liberais não tem vínculo laboral e é pago ou à peça ou por avença; é uma profissão de desgaste rápido e isenta de contribuições para a segurança social.
- Prazer: a via mais atraente para a infelicidade e o modo mais agradável de se ser infeliz; o matar por puro prazer, sem ser para resolver um problema, chama-se em biologia surplus killing, e é algo que não é privilégio da espécie humana.
- Branco: cor que resulta da integração de todas as cores e que foi excluída, pelo wokismo, do arco-íris, que é o símbolo do apartheid e a bandeira dos segregacionistas; cor que que é mais percetível sobre fundo negro, tal como a virtude só costuma ser visível sobre um fundo de vício e a prosperidade apreciada sobre um fundo de socialismo; este lexicografo nunca conseguiu encontrar chinês, nem japonês, de cor amarela, nem antes, nem depois do banho; todos lhe aparecem como sendo mais brancos que o sr. prof. Marcelo no Verão e o sr. eng. Costa no Inverno.
- Excomunhão: ritual eclesiástico, com velas, incenso e sineta, em que se efetua de transmissão formal, que não material, da posse, que não da propriedade, de uma alma da Igreja militante para o príncipe das trevas & seus sequazes; é suposto ter um efeito pedagógico semelhante ao que os pais pretendem ter quando põem o filho numa escola pública na esperança que ele não se queira vir a empregar na função pública.
- Pecados que bradam aos céus: Segundo o nº 1867 do Catecismo da Igreja Católica, “bradam ao céu: o sangue de Abel; o pecado dos sodomitas; o clamor do povo oprimido no Egipto; o lamento do estrangeiro, da viúva e do órfão; a injustiça para com o assalariado.”
- Acionista: o que toma ação e atua; o dono da ação; o big Boss; aquele a quem o management tem de prestar contas.
- Penn Jillette, Penn Says, episode 192.