Num primeiro impacto, é difícil não reagir às iluminações de natal. Agora, o que nos inspiram as luzes e os enfeites desta época natalícia? Magia ou fastio? Conforto e aconchego ou desamparo? Boas ou más memórias? Entusiasmo ou falta de vontade em festejar? Gosta ou não do natal? Deixa-se envolver, ou foge a sete pés, do espírito natalício?

Sabemos como se dividem, por vezes drasticamente até, os sentimentos em relação aos ícones desta época festiva do mês de Dezembro. Para uns, é uma alegria fazer a árvore de natal. É um acontecimento acompanhado de música de fundo entre lálálá’s e merry christhmas’s. Para outros, uma tremenda seca mas as crianças gostam, e lá  tem de ser, há que fazer e está feito, adiante. Ainda outros, que nada fazem de todo, pois olham para  o natal sem motivo para enfeitar seja o que for e celebrar.

Mundialmente, é a época do ano conhecida como a festa da família. Todas as famílias têm as suas questões; e algumas, problemas graves de relação. Se para as famílias amigas, é o desejo de se estar junto que prepondera, noutras, com maiores problemas de relação, é a exasperação do convívio obrigatório. Nos casos ainda mais disfuncionais, é o confronto com a falta de qualquer afecto, e como tal a emergência do desgosto, da mágoa. Acaba por ser um tempo de cada família se pensar a si e aos seus. De reconhecer o que tem de bom, mas também, de olhar para os aspectos que gostaria que fossem diferentes/melhores.  Ainda, de sentir a falta dos que partiram, e assim, um tempo inevitável de saudade.

Acresce a toda a azáfama própria da época, a história dos presentes. Igualmente, dividem-se os entusiastas e os anti-consumo. Os que desfrutam do prazer de comprar para os outros, de pensar em ir ao encontro dos seus desejos. Os que escolhem o que gostam, achando que os outros também irão gostar, indo assim mais ao encontro de si. Os criativos e jeitosos com coisas de mãos, contentes em dar de si. Os que nada escolhem e dão dinheiro. Os que nada dão.

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Como sabemos, a origem de oferecer presentes, deve-se aos reis magos e ao menino Jesus. Ao que parece, esta tradição passa a ser oficializada pelo papa Libério, a partir do ano 354 d.c. Outra história relacionada com os presentes, é a do bispo São Nicolau, que viveu no século IV. Esse atirava saquinhos de moedas pelas chaminés das casas das crianças e respectivas famílias mais pobres. Daqui vem o São Nicolau, transformado no pai natal conhecido por todos nós.

Para crianças e graúdos, as histórias do pai natal não passam despercebidas a ninguém. Vibrantes para os mais novos, rememorativas para os mais velhos. Ora histórias felizes, ora desafortunadas.

Entre júbilos e rezinguices entredentes, pelo bem e pelo mal, o natal não deixa de ser uma época mágica, comovente e convidativa a reflexões.  Época do ano mais desejada por uns mas também mais propensa ao surgimento de estados depressivos. Afinal, o mês de dezembro é um mês comprido, e no seu decurso, há tempo para proclamar desejos, correr entre afazeres, sentir excitações, fraquezas, tristezas, fazer planos e tratar das organizações dos encontros,  comer muito, convidar, aceitar convites, recusar outros, ficar sozinho, fugir para longe, ser solidário, ser indiferente, todo o possível das diferentes vidas, crenças, modos de estar e realidades. No fim, acaba o ano. Mas haverá sempre mais natais, os mesmos rituais.

anaeduardoribeiro@sapo.pt