Terminou a novela em torno da aprovação do programa e do orçamento da Região Autónoma da Madeira e, ao que tudo indica, foram alcançados acordos políticos que garantem a governação. Estão assim reunidas as condições para a assunção de compromissos eleitorais, nomeadamente alguns de grande relevo para a atual conjuntura regional.
Embora o enredo pareça ter terminado, representou uma perda de tempo considerável. Este impasse, que deveria ter sido resolvido logo após a posse do XV Governo Regional da Madeira, durou um mês e meio e gerou custos políticos, prejudicando ainda mais a confiança da população. Foi caricato ver o parlamento regional discutir um programa que foi retirado na última hora e, pouco tempo depois, ter sido aprovado por aqueles que inicialmente se opunham.
Não se pode dizer que todo o processo, desde as eleições regionais até à aprovação do programa de Governo, tenha sido normal. Esqueceu-se de um grande pormenor: o sentir da rua e a perceção das pessoas, que, com exemplos menos conseguidos como estes, têm dificuldade em compreender o que verdadeiramente move a ação política. Os políticos e os partidos devem refletir sobre o impacto destas situações na relação entre a sociedade e os seus representantes. Que mensagem está a ser transmitida aos eleitores em geral, e em particular aos abstencionistas, sobre a importância de votar e confiar nos políticos?
Apesar da estabilidade aparente, existem desafios cruciais a serem abordados, nomeadamente em que plano foi colocada a prioridade à Madeira e à sua população. A governação dependerá de acordos entre cinco partidos: PSD, CDS, PAN, IL e Chega. Sendo assim, é legítimo colocarem-se as seguintes questões: Como será conciliada a disparidade de posições entre estas forças políticas? Qual será a visão de governação para a Madeira, considerando as propostas dos diferentes partidos que apoiam o governo? Como se sentirão os 49.103 eleitores do PSD resignados aos ditames dos pequenos partidos? O que dirão os 23.938 eleitores que votaram no Chega, IL, PAN e CDS, apresentando um discurso em campanha mas optando por outra via na prática? Que interpretação farão desta solução política os 86.806 eleitores que não votaram no PSD?
O exercício do poder político na Madeira, após 48 anos da conquista da autonomia regional, enfrenta agora um dos seus maiores desafios. Pela primeira vez, as linhas da negociação e do escrutínio estão lado a lado. Pelas promessas feitas, e se desta vez todos honrarem a palavra, o processo será extremamente exigente, colocando em confronto pontos de vista antagónicos, além da necessidade de conciliar princípios e ideologias incompatíveis. De qualquer forma, é importante considerar que, após todas as reviravoltas subjacentes a estes acordos, os cidadãos estarão mais vigilantes e prontos para avaliar criticamente a situação.
A verdade é que, passados os últimos meses de instabilidade, a política na Madeira aparenta estar a regressar à normalidade, tornando-se governável novamente. No entanto, pelo menos no curto a médio prazo, não haverá desculpas para que as coisas não funcionem como esperado. A população não aceitará falhas, especialmente considerando os significativos desafios que a política madeirense enfrenta.