Sábado

Há uns anos, em crónica no “Expresso”, Miguel Sousa Tavares aborreceu-se comigo por eu não gostar do “eng.” Sócrates. Agora, em crónica no “Expresso”, aborrece-se por eu não apreciar o dr. Costa. Nota-se um padrão: o Miguel tem uma crónica no “Expresso”.

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Entusiasmado pela recepção indígena à atoarda do “repugnante”, o dr. Costa afirma que a Holanda tem de escolher se quer ou não continuar na União Europeia. Claro que o Churchill da Tapadinha, cuja existência nenhum holandês conhece, comete estes exercícios para consumo interno, onde a falta de noção do ridículo é bastante estimada.

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Ouço alguém considerar difícil o trabalho de médicos e enfermeiros? Não brinquem. Difícil é elogiar o dr. Costa em público e conseguir dormir à noite.

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Acusado de censurar as autarquias em matéria de divulgação de dados, o governo nega. As autarquias podem divulgar os dados que quiserem, desde que sejam os dados que o governo permite que elas divulguem.

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Domingo

Recuperado, Boris Johnson elogia o desempenho de um enfermeiro português. Nas “redes sociais”, brinca-se sobre quanto tempo demorará o prof. Marcelo a pegar na deixa. Pouco. Num ápice, o prof. Marcelo aparece a dar os parabéns ao “Luís”. Não me ocorrem comentários, pelo menos publicáveis.

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A ministra da Saúde jura que “nada nos próximos tempos, se é que alguma vez, voltará ao normal”. Engraçado: a tendência do PS para achar que o país lhe pertence de pleno direito permanece igualzinha ao que sempre foi.

Segunda-feira

O dr. Costa vai às compras sem máscara, circunstância que aproveita para levar a mãozita ao rosto. Os ingénuos que detestam o dr. Costa julgam tê-lo apanhado em falso. Não percebem que a encenação é destinada aos ingénuos que veneram o dr. Costa – e que continuariam a venerar ainda que o homem fosse filmado a lamber corrimões na Lombardia.

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Começa a correr a ideia de fechar os velhos em casa até ao fim do ano. Como se sabe, além de um empecilho, os velhos são todos retardados e carecem de orientação do Estado. Isto por contraponto aos nossos jovens, fechados em casa com pavor de um vírus que não os afecta: esses exibem uma inteligência e uma independência notáveis.

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A propósito do slogan “fique em casa”, e da variante “a economia não salva vidas”, proponho uma troca: as “autoridades” passam a resguardar-se no lar e nós saímos à rua. Por um lado, a maioria daquela gente pertence a grupos de risco. Por outro, qualquer cidadão que preza a higiene valoriza o “distanciamento social” face a políticos e funcionários políticos. De brinde, e em vez de fechar empresas, fechava-se o Estado. Nada voltaria a ser como antes, mas a retoma não tardaria.

Terça-feira

Em entrevista ao Observador, Costa, o Benevolente, permite as férias de Verão, na condição de se realizarem em Portugal. O grau de arrogância da criatura só encontra exacto equivalente no grau de reverência da populaça. O que é bom: por cá, o enxovalho dispensa a força bruta para se impor.

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O dr. Rio, que nunca criticou o governo antes da pandemia e jamais o criticará depois, avisa os militantes do PSD que criticar o governo em plena pandemia não é patriótico. A irrelevância dos idiotas inúteis nunca é suficientemente valorizada.

Quarta-feira

A ASAE abraça de vez a inspiração da Stasi e abre uma página para denúncias alusivas às infracções ao estado de sítio. Não condeno a instituição, que no fundo sempre aspirou a isto. Apenas gostava que, como é costume histórico, os denunciantes acabassem denunciados e torturados com lentidão e requinte. Tenho esse sonho. E um fraquinho por ironias pesadas.

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O PS faz cartazes de propaganda com o material clínico comprado e distribuído por entidades públicas e privadas. Confirma-se: o PS é muito mais traiçoeiro e perigoso do que o vírus.

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Na abertura da nova “Tele-escola” (que agora tem um nome lindo qualquer), o dr. Costa diz aos alunos: “Sejam onde estejam terão acesso universal”. A seguir vem uma professora que acrescenta: “Adorava-vos ter aqui perto”. Há quem continue a achar que isto se parece com um país.

Quinta-feira

O marechal Vasco Lourenço pede que se cante a “Grândola” à janela no 25 de Abril. É apropriado. Desde 1975 que, à conta de abusos, denúncias, censura, escassez, pobreza, opressão e miséria certa, o Portugal sonhado pelo saudoso “Zeca” não estava tão próximo.

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Morreu, com os vírus do covid e do comunismo, o escritor Luís Sepúlveda. Por pudor ou tique nervoso, alguns obituários falam num “humanista”, mas os iniciados percebem o que querem dizer.

Sexta-feira

Uma ministra chamada Mariana Vieira da Silva, que ninguém sabe o que é ou para que serve, defende que ociosos comemorem o 1º de Maio mas não acha bem que cidadãos normais se despeçam de um familiar no mesmo dia. Explicação da ministra? As restrições aos funerais foram anteriores ao estado de emergência. Explicação real? Enquanto restar, entre os simples, um vestígio de respeito pelos espécimes que tomaram conta disto, os espécimes vão humilhar-nos mais e mais. Eis a verdadeira mola, que eles pressionam sem parar. Era giro que a mola se soltasse. Não é provável.

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Há quem esteja contra as comemorações do 25 de Abril. Eu não estou. Pensem comigo: 200 ou 300 penduricalhos do regime, entradotes e obesos, confinados num espaço comum, a tossir, a espirrar, a perdigotar e a roçar-se uns nos outros. Basta esperar que o vírus tenha um décimo da potência que os “telejornais” lhe atribuem e estaremos em festa, pá.

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O prof. Marcelo já ultrapassou as comparações terrenas (os “melhores do mundo”) e começou a recorrer ao divino. O “milagre português”, diz ele. De facto, há qualquer coisa de milagroso na jovialidade com que caminhamos para o abismo.